Nemesis

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A estrada pavimentada apresentava declives sutis quando a máquina poderosa de aparência intimidante ampliava a velocidade e o rugido do motor se perdia na infindável escuridão do deserto que se estendia entre as gigantes montanhas que moldavam os templos que se fragmentavam pelo caminho.

Ironia era o Porsche negro passar em velocidade avassaladora frente ao templo que se localizava em Edfu, o templo de Hórus, o Deus do sol nascente que sacrificou a segurança da própria vida em nome de uma vingança contra a morte de seu pai Osíris, um Deus como aquele que não cessou sua busca até matar o assassino de quem mais amava e de por fim se tornar governante do Egito.

Um bom fim, mesmo que sempre esteve claro que qualquer figura política ou de poder, independentemente da época ou ao que vivia, nunca sairia dessa posição sem manchar um modelo prático e mínimo de caráter, Faye Malisorn I não seria uma exceção a essa regra, suas capacidades pessoais vinham de convicções muito concretas para passos em falso, ninguém podia deter suas vontades.

As vias de acesso entre uma cidade a outra estavam completamente vazias a àquela hora da noite, Hadd dirigia concentrado na direção, impassível a qualquer exposição de pensamento ou de expressividade. Yoko se manteve em silêncio observando a escuridão através dos vidros escuros do carro, vez ou outra observando com uma visível preocupação o estado desacordado de Faye se apoiando em seu ombro. Em sua mente os mistos de preocupação e busca de racionalidade conflitavam e a deixava inquieta para chegar no acampamento logo, mesmo que por percepção pessoal ela avistou que haviam passado de El Kab faziam alguns minutos.

Estavam indo para a próxima cidade, localizados há 26 km de distância de El Kab e Al Mahamid, o intuito daquilo não fora revelado de pronto a historiadora, mas ela tentava ligar os pontos específicos daquele silêncio tremendo para fazer suposições coerentes, não era uma tola, sabia que algumas coisas aconteceriam naquela noite para encobrir toda aquela insanidade.

Recorda-se só a fez remexer inquieta, sentindo o estômago revirar. Suas convicções estavam um pouco abaladas. O Porsche negro se enfiou na terra reduzindo a velocidade gradativamente e o segurança observou a volta, desativando o cinto e olhando pelo retrovisor interno para a feição de Yoko urgente com o foco no vidro escuro. Ele não falou nada quando parou o carro no meio do nada e saiu fechando a porta atrás de si.

Yoko se curvou para olhar pelo vidro da frente, onde o farol do carro apontava à frente e ela pôde primeiro ver as pernas do homem alto com o shemagh cobrindo o rosto e logo ela o viu mover e se livrar do tecido, expondo-se com um mover para apertar a mão de Hadd em um cumprimento formal e rápido. Akil.

A tensão crescente de Yoko era sobre não ter perspectiva de nada ou não saber o que aconteceria dali em diante, não tinha em si uma vontade de chutar o balde e desistir logo, não se sentia confortável com a desistência, queria ajudar Faye, queria estar naquela posição ao mesmo tempo em que ao se recordar do que a mulher tenha sido capaz de fazer a deixasse alerta, ligeiramente atormentada. Yoko engoliu a seco imaginando o que haviam feito, o que ela havia ajudado a cometer. Seus pensamentos movidos ao ele merecia estavam se enfraquecendo com suas desconfianças em si mesma sobre o quão insana podia estar a aquele ponto.

Nunca havia feito nada daquilo em sua vida, se acostumar com o fato da justiça as próprias mãos era difícil, mesmo que não tão bizarro e surpreendente assim vindo de um país onde torturas e repreensões sem provas eram cada segundo mais recorrentes. Yoko tinha plena consciência ao se recordar do dia em que se reuniu com Al Sisi para citar boas mentiras ao homem sobre Faye, de que ela não matava apenas para se vingar, seria inútil demais viver em função só daquilo.

Hidden (Adaptação FayeYoko)Onde histórias criam vida. Descubra agora