05 - "O sangue das promessas esquecidas..."

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Para Matthew Hyde, a proximidade com Antonella Bellini era uma faca de dois gumes. Ela era ao mesmo tempo um recurso valioso e uma distração inquietante, algo que ameaçava os limites do seu propósito. O plano era simples: infiltrar-se, observar, e derrubar seu alvo. Mas o destino — ou algum outro jogo que ele ainda não compreendia — colocara aquela jovem à sua frente, e ela era agora uma porta tentadora para a verdade.

Ele não sabia se Dante Bellini era, de fato, o homem que ele procurava. Mas Antonella carregava o nome que Matthew associava à sua missão e, com isso, uma proximidade do poder que poderia revelar os segredos sujos da cidade.

Quanto mais ele se aproximava, mais ela parecia iluminar cantos sombrios, tornando-se quase uma chave para desvendar o que Dante escondia nas sombras. Cada interação, cada detalhe a mais que ela inadvertidamente oferecia em suas conversas, aproximava-o do que ele tanto queria descobrir. E, ao mesmo tempo, criava um vazio inquietante que ele não soubera existir.

Porém, algo em Antonella ia além da utilidade; era uma perturbação perigosa, um sentimento inesperado e irritante que ele não conseguia catalogar. A doçura disfarçada de tristeza em seu olhar parecia evocar memórias esquecidas de tudo o que ele mesmo perdera. Ele percebia que, ao vê-la, surgia uma ternura que ameaçava a dureza fria de sua missão, uma vulnerabilidade que fazia seu plano parecer não mais tão infalível.

Cada vez que seus olhos cruzavam, ele sentia a fissura entre o Matthew que buscava vingança e o Matthew que, de algum modo, sentia uma compaixão que só ele entendia. Era como se sua alma, antes marcada pela amargura, estivesse se partindo lentamente, dividida entre a atração perigosa e a verdade amarga que ele ainda precisava descobrir.

Matt passava os olhos pela igreja vazia, onde a única luz vinha de um fino raio que atravessava o vitral, projetando tons vermelhos e dourados ao longo do altar. Ele estava sozinho, ou assim pensava, mergulhado na tensão do próprio dilema. A missão e o que Antonella provocava nele se entrelaçavam, e a linha entre usá-la e protegê-la se tornava cada vez mais tênue.

No silêncio da igreja, um detalhe chamou sua atenção: uma inscrição quase apagada, marcada na madeira de uma antiga bancada próxima ao altar. Ele se aproximou, e uma frase sussurrada no canto da sua mente ecoou: "O sangue das promessas esquecidas..."

Hyde franziu o cenho. Era uma citação que sua mãe repetia, algo que ele costumava ouvir quando era criança, mas que, até aquele instante, não tinha voltado a sua mente em anos.

Intrigado, ele passou os dedos sobre a inscrição. A madeira desgastada indicava que as palavras estavam ali há muito tempo, quase como um eco de um passado que ele agora se via determinado a desenterrar. Aquilo poderia ser uma coincidência, mas Matthew não acreditava em coincidências. Não depois de tudo.

Aquela igreja, onde ele fora designado para a missão de uma vida, era um lugar com camadas de histórias entrelaçadas. Algum passado sombrio parecia, de alguma forma, estar ligado a ele, e agora a essas palavras que pareciam brotar do nada, trazendo memórias de Scarlett.

Enquanto passava os dedos pela inscrição enigmática na madeira, Matthew se sentia cada vez mais preso na teia de memórias antigas, promessas esquecidas, e um destino que parecia brincar com ele. A frase ecoava como um lembrete doloroso do passado, de Scarlett, da vingança que o consumia.

Ao endireitar-se, pronto para deixar o altar, seu olhar pousou em um pequeno objeto abandonado num dos bancos próximos. Era um lenço delicado, de bordas douradas e tecido suave, certamente feminino, claramente de alguém que não fazia parte da rotina simples e monótona dos fiéis locais.

Ao pegá-lo, ele imediatamente reconheceu a fragrância suave e floral que exalava do tecido — era o perfume dela, Antonella. Sem pensar, ele prendeu o lenço entre os dedos, deixando-se perder por um breve momento naquele detalhe. Não saberia dizer o motivo, mas aquele simples acessório evocava nela uma presença ainda mais marcante, como se fosse um pequeno traço deixado de propósito para ele.

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⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

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