Jocelyn sempre carregou o peso de um segredo sombrio que percorre as gerações de sua família. Determinada a evitar que esse destino maldito recaia sobre si, ela tenta levar uma vida normal, longe das sombras de sua linhagem. No entanto, sua busca po...
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CINCO ANOS DEPOIS...
Este é meu último ano no colégio.
Estive à espera disso tanto quanto os outros alunos, que não veem o momento de encerrar o ano letivo e dar adeus a essa cidade que parece sugar a energia de todos. Aqui não há nada a oferecer para aqueles que querem um futuro promissor.
Estive contando os dias com uma ansiedade mal contida, e agora que estou tão perto de terminar o ensino médio, faltando pouco menos de um ano, parece surreal. Vou embora, finalmente. Não consigo me imaginar vivendo em Corvus, a cidade dos esquecidos e das almas castigadas pelo tempo.
A expectativa de deixar este lugar cresce a cada dia. Sinto como se estivesse presa em uma bolha, observando o mundo lá fora através de uma janela embaçada. Corvus é como um buraco negro, sugando sonhos e aspirações. Mas eu me recuso a ser mais uma vítima.
Às vezes, olho pela janela do meu quarto e vejo as ruas vazias, as casas desbotadas, e me pergunto como as pessoas conseguem passar uma vida inteira aqui. Será que elas não sentem essa urgência de partir, de buscar algo maior? Ou será que, com o tempo, elas simplesmente se conformaram?
Com o meu passado, talvez fosse egoísmo querer virar as costas para tudo. Às vezes, sinto-me culpada por esse desejo intenso de partir, como se estivesse traindo minhas raízes. Mas então, me lembro que, se ficar aqui, continuarei por um caminho sombrio que termina da pior maneira possível. E não quero isso.
Então, talvez seja bom ser um pouco egoísta. Pelo menos uma vez estou pensando em mim e no meu bem estar. No que será bom para mim. Sei que no passado, se as mulheres da minha família tivessem tido a chance, elas teriam feito o mesmo sem pensar duas vezes.
Afinal, ter um futuro incerto era melhor do que um futuro onde elas sabiam que ficariam loucas até que dessem seu último suspiro.
Dei meu primeiro passo para um novo destino quando decidi abandonar a história da minha família. Depois do ocorrido de anos atrás, quando minha mãe teve um surto e me golpeou com uma tesoura, decidi ir morar com minha tia paterna, minha única parente não ligada às raízes da minha linhagem materna.
Morar com minha tia foi como respirar ar fresco pela primeira vez. Ela não carregava aquele peso sombrio que, apesar de não ser visto, podia ser sentido. Não tinha os olhos assombrados que vi em tantos outros parentes. Com ela, pude vislumbrar uma vida diferente, uma vida além dos limites sufocantes de Corvus e do legado sombrio da minha família. Com ela, pude perceber que eu podia ter uma vida normal se eu quisesse.
E minha mãe, com o tempo, se tornou uma casca vazia. O dom de ver os mortos a tomou completamente e ela perdeu sua razão. É como se ela não vivesse mais nesse mundo, como se só seu corpo estivesse aqui na Terra, mas sua alma estivesse vagando por aí, assim como todas as almas que ela conseguia ver e temia com todas as forças.