[LEO]
Eu não consegui dormir naquela noite. Mesmo que quisesse, o sono não chegava. Passei a madrugada inteira no bunker 9, onde o cheiro familiar de óleo e metal quente me trazia um conforto estranho. O sol estava começando a aparecer no horizonte quando me joguei no chão de metal, deitando a cabeça contra o tronco quente de Festus, meu dragão mecânico. O calor que ele emanava era reconfortante, quase como se me dissesse que estava ali para mim. Eu sabia que ele não tinha uma consciência humana, mas sempre tive a sensação de que, de alguma forma, ele me entendia. Era como falar com um amigo silencioso. Enquanto eu desabafava sobre o que tinha acontecido, brincava com um parafuso em minhas mãos, girando-o entre os dedos, tentando me acalmar.
Mas aquilo não ia embora. O que tinha acontecido com Ariadne estava errado de tantas maneiras que minha cabeça parecia prestes a explodir. Eu sabia que ela já tinha me odiado antes. Nós tínhamos nossos altos e baixos, e às vezes ela me chamava de idiota ou me lançava olhares mortais, mas nunca... nunca me bateu. Ariadne não era agressiva. Ela não era violenta. Não daquele jeito. Eu levei a mão à minha bochecha, o lugar onde ela tinha acertado o tapa. Mesmo horas depois, ainda parecia que a dor estava lá, como um lembrete cruel de que algo tinha quebrado entre nós. Uma lágrima quente escorreu dos meus olhos, e eu a limpei rapidamente. Ótimo, Leo Valdez, chorando feito um bebê. Eu odiava me sentir vulnerável, ainda mais quando não tinha ninguém por perto para ver.
Eu respirei fundo e tentei me acalmar, mas minha mente continuava girando em círculos. Isso só podia ser coisa de Afrodite. Ou de algum outro deus entediado, mexendo nas nossas vidas como se fôssemos peões de um jogo estúpido. A Ariadne que eu conhecia — a minha Ariadne — jamais faria isso. Pelo menos, era o que eu achava. Mas, e se eu estivesse errado? E se tudo isso fosse parte de algum feitiço? Um encantamento passageiro? Eu tentei me convencer de que era temporário. Ela não podia me odiar para sempre... podia?
Mas o "porquê" me assombrava. Por que diabos um deus faria isso? Por que Afrodite iria querer sabotar a nossa relação? Não fazia sentido. Estávamos bem, caramba! Até aquele desastre, nós tínhamos superado tudo. Provaram o nosso amor nos momentos mais difíceis. A única coisa fora do comum era Connor. Connor Stoll. Talvez... talvez ele tivesse algo a ver com isso? Mas... não, ele era só um amigo. Era? Eu não conseguia ter certeza de mais nada. Estávamos bem, tínhamos que estar. Eu sentia como se os deuses estivessem sempre jogando contra nós, como se, quando finalmente conseguíamos respirar, eles vinham e nos jogavam de volta no caos.
Cerrei os punhos, sentindo uma raiva que queimava mais quente que o fogo que eu normalmente temia. Era ridículo como nós, semideuses, estávamos sempre andando na corda bamba entre a vida e a morte, entre o amor e a dor. Eu só queria uma vida normal. Só isso. Nada de profecias, monstros ou maldições. Só eu e Ariadne. Era pedir demais? Eu queria crescer com ela ao meu lado, me formar em Engenharia, abrir minha própria oficina e, quem sabe, ter dois filhos correndo ao redor, talvez um cachorro. Mas parecia que os deuses sempre estavam lá, nos lembrando de que nós nunca teríamos essa chance. Para nós, a vida nunca seria simples.
Flashbacks me atingiram como uma enxurrada, imagens de Ariadne machucada, com aquela perfuração nas costas... e depois a lembrança dela, tão agressiva, tão diferente, lutando contra mim como se eu fosse um inimigo. O jeito como ela me olhou, como se eu fosse o pior ser humano do mundo. E então... o jeito como eu me perdi. Aquela raiva cega, a frustração acumulada até o ponto de explodir. Eu me lembro de sentir o fogo dentro de mim, tão quente, tão incontrolável. As chamas cobriram o meu corpo antes que eu pudesse detê-las, e eu vi faíscas saindo de mim, incendiando o acampamento como se aquilo não fosse nada. Eu nunca tinha sentido tanta raiva. Nunca.

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𝐀 𝐅𝐋𝐄𝐂𝐇𝐀 𝐃𝐎 𝐀𝐌𝐎𝐑 | 𝐿𝑒𝑜 𝑉𝑎𝑙𝑑𝑒𝑧
FanfictionNa continuação de "Aegis", Leo e Ariadne finalmente se tornam namorados e levam uma vida tranquila. Mas quando a deusa Afrodite e seu filho Eros, também conhecido como Cupido, decidem brincar com o destino, tudo muda. Com uma flecha do amor e uma do...