PECADO OBSCURO [TRISAL]

Capítulo 6

SARAH PIMENTEL

Finalmente, o dia da mudança havia chegado. Era estranho pensar que, pelos próximos seis meses, eu estaria distante de tudo o que conhecia, incluindo minha mãe. Na noite anterior, passei horas conversando com ela na cozinha, absorvendo cada detalhe da nossa rotina, dos conselhos que ela insistia em dar, mesmo que eu já soubesse de cor, e até do jeito como, na maioria das vezes, ela colocava café na xícara sem me perguntar se eu queria. Era quase nosso ritual.

Na despedida, senti um aperto inesperado. Nem acredito que vou passar tanto tempo longe dela, da sua presença sempre tão acolhedora e do conforto da nossa casa. E ainda, como se não bastasse, vou morar com dois homens que, embora façam parte de algo que Rosana considerava importante, ainda são praticamente desconhecidos pra mim. É um tipo de aventura que eu jamais imaginaria estar prestes a viver.

Ficar longe de minha mãe já era difícil, mas o que mais me deixava apreensiva era o fato de dividir uma casa com Lucas e Rafael. Cada um com seu jeito, um mais reservado, o outro descaradamente provocador. E eu, no meio disso tudo, tentando me adaptar e encontrar meu lugar sem perder o que sou. Por mais que me confortasse saber que ela estava torcendo por mim, a ideia de construir uma rotina longe dela e com eles me parecia um misto de desafio e incerteza.

Quando os homens que contratei começaram a descarregar minhas caixas e bolsas, senti uma pontada de apreensão. A mudança parecia tão mais real agora, vendo cada pedaço do meu passado ser levado para dentro daquela casa que, pelos próximos seis meses, também seria o meu lar. Olhei para o relógio. Já passava das onze. Quase na hora do almoço.

Rafael e Lucas estavam no meio da sala, ajeitando caixas e pacotes para facilitar o trabalho dos carregadores. Ambos tinham chegado mais cedo e se adiantaram na organização, como se estivessem esperando por mim. Rafael, meticuloso como sempre, empilhava as caixas mais pesadas em um canto enquanto Lucas jogava um olhar despreocupado sobre tudo, parecendo mais interessado em me observar do que em qualquer outra coisa.

Lucas sorriu de lado, uma expressão de malícia iluminando seu rosto enquanto ele olhava para a quantidade de coisas que eu havia trazido.

— Sarah, você tá planejando morar aqui pra sempre? — ele comentou, rindo. — Vão ser só seis meses e tu trouxe coisa pra uma vida inteira.

Antes que eu pudesse responder, Rafael deu uma risadinha discreta, balançando a cabeça.

— Mulheres são assim mesmo — disse ele, com um olhar condescendente, como se estivesse acostumado a lidar com esse tipo de exagero.

Revirei os olhos, mas não resisti à provocação.

— Olha, se vou ficar com dois machos por seis meses, que pelo menos eu esteja confortável, né?

Lucas estreitou os olhos, o sorriso malicioso voltando ao rosto. Ele se aproximou um pouco mais, abaixando a voz como se estivesse contando um segredo.

— Se é conforto que você quer, eu posso arrumar outras formas de te deixar bem à vontade.

Neguei com a cabeça, rindo, mas sem deixar de notar a intensidade em seu olhar.

— Já te disse que jamais ficaria com um homem... rodado — retruquei, o sarcasmo pingando da minha voz.

Ele deu de ombros, mas o sorriso não sumiu, e por um segundo, senti que ele ia retrucar. Rafael, no entanto, interrompeu, chamando a atenção para outra pilha de caixas que precisavam ser levadas para o meu quarto. O ar pareceu menos carregado, mas a tensão entre nós três não desapareceu.

Quando todos os itens estavam finalmente descarregados, fui até a minha bolsa para pegar a carteira e pagar o serviço. No entanto, Rafael já estava com o cartão na mão, estendendo para os homens.