SARAH PIMENTEL
O céu parecia mais cinza do que o habitual naquela manhã. Mesmo o ar abafado e úmido de um típico dia no Rio de Janeiro não trazia o calor habitual; havia um peso no ambiente, uma tristeza que ainda pairava sobre mim desde o enterro de Dona Rosana. O luto era um manto invisível que eu sentia em cada passo, em cada suspiro. Ela era tão importante para mim quanto a minha mãe. E agora, tudo parecia vazio.
Peguei minhas chaves na mesa de centro e olhei para o pequeno porta-retratos ao lado da porta. A foto de nós duas em uma festa da empresa. Rosana sorrindo com aquele brilho no olhar que sempre tinha, aquele jeito que fazia todos ao redor se sentirem vistos. O nó na garganta apertou, e por um segundo, pensei em voltar para a cama e deixar o dia passar. Mas não podia. Rafael havia me convocado, e se eu não aparecesse... Bem, não podia evitar o inevitável.
Entrei no carro, tentando acalmar a mente enquanto dirigia até Copacabana. O trajeto parecia mais longo do que o normal, talvez pela minha mente estar em outro lugar, relembrando todos os momentos que vivi ao lado de Rosana. A sensação de perda pesava como uma âncora no meu peito. Desde que comecei no Palácio Atlântico, ela foi um pilar na minha vida. E agora? Como seguir em frente sem aquela voz firme e amável para me guiar?
O trânsito caótico do Rio, com seus buzinaços e motoristas impacientes, mal registrava. Estava absorta demais na minha própria dor para me importar. Quando finalmente vi o horizonte de Copacabana à minha frente, senti um aperto ainda maior. Era a primeira vez que entraria no hotel sem saber se ainda tinha um lugar ali.
Estacionei o carro no estacionamento dos funcionários e desci lentamente, o som dos meus passos ecoando no concreto frio. O contraste entre o estacionamento simples e o luxo do hotel nunca pareceu tão nítido. Entrar no Palácio Atlântico sem saber o que o futuro reservava me deixava ansiosa, mas era inevitável. O ar fresco do hotel, com aquele perfume de flores e o brilho impecável dos mármores, parecia mais uma ironia agora. O brilho e a elegância não combinavam com a dor que todos nós sentíamos.
Caminhei em direção à área administrativa, cumprimentando alguns colegas no caminho, mas sem conseguir trocar palavras. O olhar de alguns refletia a mesma dor que eu sentia, o vazio de perder alguém tão importante. Rosana não era só chefe, era parte da história de cada um ali. Quando cheguei ao pequeno escritório onde trabalhava, vi Dona Célia, minha supervisora, atrás de sua mesa como sempre, mas algo no ambiente estava diferente. Não que ela fosse alguém afetuosa, mas havia uma tensão no ar.
— Dona Célia, o senhor Rafael pediu que eu fosse até o escritório dele agora — falei, tentando soar firme, mas meu tom saiu baixo.
Ela levantou o olhar por cima dos óculos e soltou um riso curto, carregado de um tom que só aumentou minha ansiedade.
— Ah, então vão se livrar de você, né? — O deboche na voz dela era inegável. — Já tava na hora, não é? Vai lá, Sarah, se despede antes que te mandem embora.
Eu segurei o ar por um momento, sentindo uma mistura de indignação e medo. Não queria responder, não naquele momento. A última coisa que eu precisava era de mais tensão, então apenas acenei e saí rapidamente.
Meu coração acelerava a cada passo que eu dava em direção ao escritório principal. Será que era isso? Seria eu dispensada? E, se fosse, o que isso significaria para mim, para a vida que construí no Palácio Atlântico? A ideia de ser demitida logo após a morte de Rosana me pareceu um golpe cruel demais para ser real.
Chegando à recepção do escritório, a secretária, uma mulher de meia-idade com um olhar calmo, me recebeu com um sorriso discreto, o tipo de sorriso que não chegava aos olhos.
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PECADO OBSCURO [TRISAL]
RomansaSarah descobre que Rosana, sua chefe e mulher que sempre a tratou como uma filha, a incluiu em seu testamento, deixando-lhe uma herança significativa. No entanto, há uma condição inusitada: ela deve passar seis meses morando com os filhos gêmeos de...