O terceiro ano do ensino médio é definitivamente empolgante e, ao mesmo tempo, preocupante.
Sabe, ter que passar numa faculdade, ou então não passar e virar oficialmente desempregado enquanto espera as tentativas dos próximos anos.
João pensa nisso enquanto caminha pela escola que já conhece como a palma de sua mão, à procura de seus amigos.
E como se ouvissem seus pensamentos, João acaba de vê-los em um dos bancos do jardim.
— João! — Malu levanta e me lhe um abraço — Queria te ver pra poder te bater.
— Que isso, já sou recebido assim? — João retribue o abraço.
— Claro, você faltou os três primeiros dias de aula. Você não é desorganizado, Vitor — Renan diz, se levantando para o abraçar também.— Já disse pra não me chamarem assim — Vitor finge uma birra. Mas realmente detesta que o chamem assim.
— Eu sei, idiota — Renan o abraça quando Malu se afasta — Mas é sério, por que não veio?— Bom, eu tive uns probleminhas em casa, nada demais, precisei de tempo para me reorganizar e me ajustar — diz, se soltando do abraço alguns segundos depois — Mas agora estou aqui, não é? Nosso último ano.
— Que bom mesmo — Malu diz, parecendo um pouco impaciente — Ah, quero que conheça uma pessoa. Conhecemos ele no primeiro dia, é muito muito legal mesmo.
— Eu me ausento três dias e vocês já me substituem? — João faz uma cena como se realmente estivesse ofendido.— Sim — Renan dá de ombros, logo em seguida começa a rir.
— Bom, quando querem que eu conheça esse... garoto? — pergunta.Começamos a andar enquanto conversamos.
— O mais cedo possível, né, João — Malu diz como se tivesse incrédula — Enfim, encontramos ele por aí. Como está a tia Cat?
— Está ótima, e querendo saber por que nenhum de vocês foi visitá-la nessas férias.
— Medo de acharmos sua mãe muito mais legal do que você? — Renan responde — Se bem que a tia Cat é um amor.
— Eu não sei se entendi o afronte — arqueia a sobrancelha.— Ah, Pedro! — Malu chama um garoto que estava andando no corredor, um pouco a frente.
— Ah, oi, gente — ele se vira e fala como Malu e Renan — E... — ele ri, parecendo sem graça — esse é o amigo que vocês queriam que eu conhecesse e que eu não ligasse se me olhasse com ódio no começo?
— Vocês fazem uma ótima imagem de mim, não é? — João olha para Malu e Renan.O garoto solta uma risada nasal.
— Eu sou Pedro. Pedro Tófani — ele estende a mão para João, educado.
— João Vitor — aperta sua mão e sorri — Viram, gente? Não matei ele. Têm que parar de me pintarem assim.— Vamos para a aula logo, deixem para achar os interesses em comum mais tarde, meninos — Malu praticamente arrasta os dois pelo corredor, Renan apenas os acompanha rindo da situação.
☆ ☆ ☆
Malu estava certa, em partes. João está analisando Pedro, mas não com ódio, e sim curiosidade de alguém que esteve muito tempo em um único pequeno grupo de amigos, e agora quer saber se alguém é louco o suficiente para estar aqui com eles.
Pedro definitivamente é muito simpático, ele só é tímido, não é de falar muito. E pelo o que João vê, não tem nada nele que precise se preocupar.
— Atividade em dupla, pessoal! — o professor avisa, e foi o que tirou João dos seus pensamentos/olhar de "julgamento".
— Eu faço com a Malu — Renan diz, sem deixar ao menos ela protestar ou não.
— Tá bom, eu em — Malu diz — Tenho direito de escolha?
— Ah... não.
— Foi o que eu pensei.— Pedro? — João o chama. Estava distraído escrevendo em seu caderno.
— Sim? — ele levanta a cabeça para olhar para o garoto.
— Junta aqui — Vitor diz e sinaliza com a cabeça.O bom é que agora (provavelmente) seremos em quatro, mais fácil de lidar com atividades, trabalhos, provas etc. Enfim, coisas que sejam em dupla. João pensa.
Pedro se senta ao seu lado e apenas espera o professor dar instruções. Mas João é curioso e impulsivo demais para deixar ele quieto muito tempo.
"Mas você conheceu o menino há menos de três horas", e de nada o custa um papo casual, não é?
— Nunca te vi por aqui nos últimos dois anos, Pedro — é a primeira coisa que vem a mente de João.
— Bom, eu morava em outra cidade. Vim transferido, meu primeiro e último ano nessa escola — ele sorri de canto.Dá pra ver que está tentando se soltar, mas ainda sim se prende. Bom, pelo menos está reconhecendo a tentativa do outro.
— Agora estou curioso — João se aproxima um pouco para que os dois à sua frente não escutem — O quê Malu e Renan falaram de mim? Não disseram que eu ia te matar, não é?
— Não... — Pedro ri com um leve desespero — Não, não, nada disso. Eles só disseram que eu relevasse se você fosse um pouco ríspido comigo no começo, porque durante muito tempo foram só vocês três, e talvez demorasse um tempo para se adaptar — ele explica — E sim, isso foi praticamente um "estamos te integrando no grupo quer você queira, quer não, e é isso" — ele ri.
— Se você dissesse que não, talvez eles tentassem te sequestrar — João brinca e Pedro ri. Ele parecia querer falar mais alguma coisa, mas o professor coloca o material em sua mesa bem na hora.
— Surrealismo? — João olha a folha após o professor sair — Achei que seria... pior?
— Fale por você — Pedro diz e o mais velho não consegue evitar encará-lo com a sobrancelha arqueada — João, eu sou apaixonado por artes, de verdade, mas alguns pontos não são o meu forte.João não consegue esconder um sorriso ao perceber que Pedro está se soltando um pouco mais.
Ele realmente "julgou" o garoto no começo, mas agora está percebendo um papo desenrolar muito bem.
— Tá bem... — ele respira fundo — é só que, eu, particularmente, acho a estrutura do surrealismo muito interessante. Mergulhar nos sonhos, subconsciente, toque psíquico e tudo mais.
— E mais uma vez eles estavam certos — Pedro diz rindo.João o olha com estranheza por alguns segundos, só então ele entende (Bom, pelo menos uma parte). Agora só quer saber o que Malu e Renan falaram dele.
— Ah... — Pedro percebe que ele está esperando uma resposta válida — Malu e Renan disseram que, (palavras deles) "você tem um Google interno".
— Sério? Vocês não poderiam esperar um pouco mais para me pintar de nerd? — ele fala alto para que os dois ouvissem.
— Não mesmo — Renan responde — Achei essencial.
— É importante saber que do nada você dá uma de Google, Vitor — Malu dá de ombros.
— Quantas vezes eu já disse pra não me chamarem assim?Eles o ignoram e João volta a atenção para Pedro, admitindo internamente que um pouco envergonhado.
— Desculpa — ele diz, rindo um pouco sem graça e sem saber como explicar isso — É que não é exatamente um lado meu que eu quero que as pessoas saibam de cara.
— O quê? Que você é interessantemente inteligente? — Pedro responde com um sorriso de canto.João penas fica quieto, sem saber muito o que dizer. Afinal, a maioria das pessoas acha esse lado dele tedioso e desnecessário.
— Se você diz — é a única coisa que ele consegue falar — Vamos responder isso logo? Quero ficar livre.
— Tudo bem — Pedro ri.Na verdade, esse lado de João é algo que ele geralmente esconde até conhecer melhor a pessoa, pois tem medo de ser taxado como um nerd chato ou algo do tipo.
Bom, não foi o caso, dessa vez.
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Essa fanfic é inspirada em uma obra minha (de uma conta de infelizmente perdi) que se chamava 'Surreal | Jonnor'. Espero que gostem.
Até o próximo capítulo :)
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Suas Linhas - Pejão
RomanceOnde João faz um amigo muito próximo, e logo percebe que talvez realmente queira percorrer cada traço de suas linhas.