Fica pro café, que logo eu sirvo um chá

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  João olha a área de geografia da biblioteca escolar, pegando todos os livros possíveis que falem sobre geopolítica.

O que são muitos.

— Eu ainda acho que esse professor parou no século XVIII — João reclama enquanto coloca livros em cima da mesa.
— Agora você reclama, João Vitor? — Renan cruza os braços olhando para o amigo.

Uma semana desde a última solicitação de trabalho e João pensa que vai enlouquecer se não colocar tudo nos eixos.

— Desculpa se vocês acham que eu gosto de pesquisar coisas em livros. Eu sou "nerd", não um bibliotecário de meia idade — ele diz enquanto se senta em uma das cadeiras.

— Eu juro que vou pegar um desses livros mais pesados e bater em vocês — Malu diz, levemente irritada.
— E eu vou junto — Pedro diz.

O último trabalho de geografia solicitado teve uma exigência: apenas informações tiradas dos livros disponíveis na biblioteca.

O grupo se dividiu em duplas mas, no final, os quatro se juntam para estudar.

— Uma hora eu sou cachorro, outra depressivo — João diz enquanto olha pra cima, como se esperasse uma resposta do universo — Não sei se tiro a roupa ou a vida.

— Se escolher a primeira opção, deixa que eu tiro, não precisa se preocupar — Pedro pega um dos livros de cima da mesa e começa a folhear, com um sorriso nos lábios.

É, nenhum dos dois tem ideia de quando e como isso começou, exatamente.

— Que isso, não me chama nem pra tomar um café antes? — Romania finge sentir a indelicadeza.
— Quer tomar um café?
— Não — João diz e sorri, fazendo Pedro rir também.

— Cabaré abriu mais cedo, foi? — Malu pergunta, olhando estranho para os amigos a sua frente.
— Eu tenho é certeza — Renan responde rindo.

                                          ☆ ☆ ☆

Os amigos saíram tarde da escola, pois estavam na biblioteca pós horário de aula.

Foram o caminho conversando e rindo até cada um tomar seu rumo.

Primeiro Renan, depois a Malu.

Pedro e João continuaram no mesmo caminho e, por um momento, Tófani pensou que seria uma coincidência e tanto.

Após os dois passaram quinze minutos andando sozinhos e conversando, Pedro para em frente a uma casa.
— Eu moro aqui — ele diz, indiferente.
— Ah — é a única coisa que sai da boca de João.
— O que foi?
— Eu moro há uns dez minutos à pé daqui.

Pedro sorri enquanto pensa que realmente estava certo.

— Bom, então o tempo não te impede de entrar, não é? — Pedro aponta para a porta com os olhos.
— É uma boa ideia? — João pergunta, receoso.

— Meu pai não mora mais aqui, Vitor. Está tudo bem — Pedro diz e, segundos depois, percebe — Desculpa, eu sei que não gosta que te chamem assim, eu esqu...
— Tudo bem, meu anjo — João não deixa ele terminar a frase — Não se preocupe.

Pedro abre a porta e entra em casa, olhando para trás, como se pedisse para que o outro o acompanhasse.

— Pedro? Já está em casa, filho? — a voz de Ana vem da cozinha. João fica estático por alguns segundos, ele não esperava conhecer a mãe de Pedro desse jeito.

Tófani observa sua mãe aparecer na sala e se surpreender com a presença de mais alguém.

— Ah, você não avisou que íamos ter visita — ela sorri para João — Qual o seu nome, amor?
— João Vitor — ele sorri, se sentindo aliviado pela simpatia da mãe de Pedro.

— João, essa é Ana, minha mãe — Pedro explica com um sorriso — Eu vou no meu quarto rapidinho, volto em minutos.

Romania observa Pedro subir a pequena quantidade de degraus, enquanto pensa nas maneiras de esganá-lo por deixá-lo sozinho com sua mãe assim.

— Então você é o João — Ana senta no sofá e gesticula para qu o garoto também o faça — Pedro me falou de você.
— É? — ele ficou surpreso.

— Sim — Ana sorri de canto — Olha, o Pedro ficou mal depois que o pai dele foi embora, ele tenta esconder, mas eu conheço ele. Nos primeiros dias de aula, ele se aproximou primeiro de... Malu e Renan, não é isso? — ela pergunta e João confirma com a cabeça — Enfim, ele começou a se aproximar de vocês e foi ficando mais animado. Especialmente de você. Obrigada por colocar um sorriso no rosto do meu filho. Um que eu não via há muito tempo, para ser sincera.

João fica alguns segundos em silêncio. Ele não sabe o que fazer com essa informação, tampouco o que dizer.
— Não por isso, tia Ana — ele responde nervoso e Ana sorri.

Romania olha seu relógio. São quase 18h.

— Querido, seus pais tem algum problema com você chegar mais tarde em casa?
— Bom, eu avisei a eles que chegaria mais tarde hoje, e com tanto que eu chegue antes das 21h, tudo bem — João responde no automático, mas por dentro receoso.

— Então fica pra tomar café com a gente — Ana diz com um sorriso no rosto.
— Eu não quero incomodar...
— Não é incômodo nenhum, fico feliz em receber os amigos do meu filho aqui, ele muito raramente faz isso — ela levanta do sofá e vai para a cozinha — Até daqui a pouco!

João respira fundo, se perguntando o que tinha acontecido ali, mas também fica aliviado.

Pelo menos ela gostou de mim, pensa.

— Fica pro café, que logo eu sirvo um chá — Pedro entra na sala cantarolando, deixando claro que ouviu boa parte da conversa.

— Hahaha, engraçadinho — João responde — Nunca mais me deixe sozinho assim com sua mãe sem me avisar antes, pelo amor de deus.

— Em minha defesa, eu não faria isso se não soubesse que minha mãe iria gostar de você, está bem? — Pedro fica atrás do sofá, nas costas do outro e apoia o queixo em sua cabeça — Não foi tão ruim assim, foi?

— Não, não foi — Romania olha para cima, fazendo Pedro desencostar o queixo dali, mas sem sair do lugar — E foi seu livramento. Sua mãe é até mais simpática do que você — brinca.
— Não entendi o afronte — Pedro o olha com uma desconfiança fingida.
— E essa frase é minha — João retruca.

— Que seja — Pedro se põe totalmente de pé — Vamos pra cozinha antes que ela diga que eu deixei você com fome.
— Eu já amo sua mãe — João responde rindo.

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Fica pro café, fica...

Até o próximo capítulo :)

Suas Linhas | PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora