Cozinha pra mim, então

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João e Pedro estão há algumas horas estudando, ensaiando apresentação, revendo assuntos, terminando slides.

— Tá, vamos repetir mais uma vez — João diz — Conceito de Guerra Fria?
— Período marcado por um conflito entre EUA e a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas — Pedro responde.

— Por que recebeu esse nome?
— Porque não foi um confronto de fogo direto.
— Qual o maior símbolo da Guerra Fria?
— O Muro de Berlim, marcou início de fim das tensões entre as duas potências.

João sorri, satisfeito. Está aliviado por tudo estar saindo bem.

— Ótimo, minha vez — Pedro pega a planilha de sua mão — Por que esse conflito se iniciou?
— As potências se estabilizaram em dois grandes blocos. Estados Unidos ao capitalismo, União Soviética ao socialismo. Foi um confronto político-ideológico — João diz com a resposta na ponta da língua.

Pedro se perde vendo e ouvindo João falar, mas logo torna.

— Quem foi Josef Stalin? — Pedro continua as perguntas.
— Foi um revolucionário comunista. No início, governava a URSS numa liderança coletiva, e em 1927, consolidou-se ao poder se tornando um ditador (ou autocrata) da União Soviética.

— Agora uma fácil: início e fim do confronto entre os países?
— Deu início em 12 de setembro de 1947 e teve fim em 3 de dezembro de 1989 — João responde e sorri, finalmente tirando um peso, percebendo que finalmente tem tudo em mente.

Ele não considera algo difícil, mas também não se considera a melhor pessoa para uma apresentação na frente de vários alunos.

Pedro observa João cair deitado no sofá, olhando para cima, pensando no que fazer dali em diante.

Tófani deixa a planilha de lado e começa a andar lentamente de um lado para o outro, fazendo notas mentais e, aparentemente, cochichando sozinho.

— Meu bem, sabe que não precisa surtar por causa disso, não é? — João olha para ele.
— Obrigado, eu automaticamente não estou mais preocupado com isso — Pedro diz irônico, e depois relaxa, respirando fundo — Desculpa, é que eu sempre vejo os pontos onde isso poderia dar muito certo ou muito errado.

— Vida... — João diz — senta aqui do meu lado, por favor?

Ele faz menção a ficar sentado no sofá, mas Pedro gesticula que não precisa.

O mais novo senta no chão, encostado no sofá, com o rosto a cerca de um palmo e meio de distância do de João.

— Vê se relaxa, tá bem? — Vitor pede, olhando para cada traço do rosto de Pedro — Vai dar tudo certo, sem desespero, senão eu vou junto só de tabela.

— Você mesmo tem um foco por controle, não é muito hipocrisia, Vitor? — Pedro o olha com a sobrancelha arqueada.
— No momento estou falando de você, não de mim — João se defende — Olha, já tem tudo em mente, não é?

Pedro apenas assente que sim.

— Todo o material está pronto? — ele novamente assente — Confia em mim?
— Sabe que confio — Pedro diz com um riso de canto, explicando o que deveria ser óbvio.
— Então não tem com o que se preocupar.

— Talvez eu devesse — Pedro dá de ombros, desviando o olhar para o outro lado da sala.
— E com o quê? — João fica confuso.

— Bom, em não me distrair com você perto de mim durante toda a apresentação — o mais novo responde — Sabe, seria chato perder as falas assim.

João fica em silêncio por alguns segundos, inacriditado.

Esse tipo de "flerte" tem se tornado bem... comum... entre os dois, ultimamente.

Bom, ambos fazem isso esperando que o outro não leve a sério nem nada do tipo.

Mesmo que tenham um fundo de verdade.

— Nessa situação... — João finalmente fala, depois de quase um minuto em silêncio —  bem mais provável de ser ao contrário, eu suponho — ele dá de ombros, com um sorriso de canto que, sabe que se Pedro visse, faria ele querer se enterrar em qualquer lugar ali mesmo.

Pedro olha para ele, tentando encontrar resposta, mas claramente não conseguiria.

— Não sabia que tinha visita — Bela aparece na sala, assustando os garotos.
— É sério, você tem que aprender a avisar quando aparece — João levanta o troco para olhar sua irmã — Ainda vai matar alguém de susto.

Ele olha para Pedro e percebe seu olhar meramente confuso.

— Ah, essa é minha irmã... — João diz para ele.
— Bom, seu Pedro — o mais novo se apresenta e acabado fazendo Bela rir.
— É, eu sei quem é você — ela diz — Não é como se eu não ouvisse o Jão falando com você o tempo inteiro, por celular, andando pela casa toda.

João direciona um olhar mortal para sua irmã, misturado com o desespero.

— Sabem que horas a mãe e o pai voltam? — ele pergunta, mudando o rumo do assunto.
— Sinceramente não — ela dá de ombros — Só disseram que demorariam a voltar. Provável que cheguem depois das 21h.

João olha o relógio. Vão dar 17h.

— Quer fazer alguma coisa até lá? — João vira para olhar para Pedro.
— Assistir alguma coisa? — Pedro diz, é logo abre  sorriso suspeito — E dessa vez eu quem escolho.
— Medo — João diz seco.

— Que isso, não confia em mim? — Pedro finge estar ofendido — Pode ser de terror de novo?
— Tô sem paciência pra escolher demais, então tudo bem — João diz e logo abre um sorriso — Mas... da próxima, talvez, a gente demore um pouco mais.

— Pra escolher um filme? — Pedro questiona, como se fosse a coisa mais absurda que já ouviu.
— Não falei que seria necessariamente para escolher um filme — João dá de ombros e levanta para pegar o controle da televisão. Pedro está observando a cena, pensando onde tudo isso vai dar.

Nesse meio tempo, ambos esqueceram que Bela estava por ali.

Quando João olhou para trás, viu sua irmã parada, observando a cena.

Ele gesticula discretamente para que ela não falasse nada e que saísse dali.

Bela é relutante, mas pondera melhor e sai dali.

Ela decidiu que não queria ficar pra ver qualquer coisa que fosse acontecer ali.

Morte, Morte, Morte — Pedro diz.
— Oi? — João responde, voltando de seus pensamentos.

— É o nome do filme — o mais novo sorri — Recebi muitas recomendações. Ouvi dizer que tem um plot muito grande.
— Só colocar, vida — João diz — Afinal, você quem escolhe.

Alguns segundos de silêncio enquanto Pedro colocava o filme na TV.

João estava há quase meia hora com algo em mente, sem saber como falar.

— Quer jantar aqui hoje? — ele pergunta para Pedro, tentando parecer que isso surgiu em sua mente nesse instante.
— Tem certeza?
— Se eu estou convidando... objetivamente...?

Pedro o olha como quem diz "nossa... sério?", fazendo João ri.

— Acabei de lembrar que você disse que não leva muito jeito na cozinha — Pedro faz uma careta.
— Cozinha pra mim, então — João o observa sentar no sofá.

— Sua mãe vê problema nisso?
— Definitivamente não.
— Então já sei o que fazer pra você.

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O próximo tá prometendo, só digo isso.

Até o próximo capítulo :)

Suas Linhas - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora