Possa ser que eu goste

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Se passaram três semanas desde que Pedro e João se conheceram, eles estranhamente (ou não) ficaram bem próximos. E é por isso que João notou que Tófani está estranho há uns dois dias.

João pensa nisso enquanto o observa de canto de olho, na sala de aula. Ele quer muito perguntar sobre, saber se ele está bem, mas não sabe se vai ser invasivo.

O garoto sente o celular vibrar em seu bolso.

                                         Chat on

Malu 🤍
Pedro não está bem, João.
Já tentou falar com ele?

                                                  Quero muito fazer isso,
                                                   mas tô com medo de
                                                   ser invasivo.

Malu 🤍
Eu sei, mas se esforça, vai.
Ele claramente não está muito bem.
E ele confia em você.

                                         Chat off

Sim, Malu estava digitando isso enquanto estava sentada logo a frente de João, ela não queria que Pedro visse e se sentisse desconfortável ou algo do tipo.

Quando João finalmente pondera tentar chamar Pedro para uma conversa, o garoto levanta de seu lugar dizendo que vai ao banheiro.

Romania respira fundo, se sentindo estranhamente aliviado, ele teria mais tempo para pensar em como fazer essa abordagem.

Mas não sabia que seria tempo demais.

Se passaram cinco,

dez,

quinze minutos.

Pedro não voltava e João começou a ficar seriamente preocupado.

O professor havia saído então Romania apenas se levantou e foi até o banheiro.

Quando entrou lá, percebeu que todas as cabines estavam abertas.

Menos a última.

João não tinha certeza se era realmente Pedro que estava ali, mas resolveu arriscar. Deu duas batidas na porta.
— Pedro?

Silêncio por alguns segundos. Por um momento, Romania pensou que tinha se enganado e estava prestes a sair.

Até que ele escuta a porta abrir lentamente.
— Entra e fecha a porta — a voz de Pedro é bem baixa. João apenas obedece e, ao entrar, vê o garoto com os olhos inchados e forçando um sorriso, sentado na tampa do vaso.

— Ei.. o que aconteceu? — João se agacha para olhá-lo mais de perto.
— Nada. Não aconteceu nada. Não precisa se preocupar — Pedro diz, embolando um pouco as palavras.
— Quem não nada se afoga, Pedro — Romania responde, fazendo o garoto rir um pouco.

O silêncio se instaurou por alguns segundos.

— Meu bem... — João segura uma das mãos de Pedro, fazendo o garoto tomar um pequeno susto — Não tem muito tempo que você entrou na minha vida, mas eu me preocupo de verdade com você. Eu sei que é reservado, mas pode confiar na gente pra conversar, se precisar. Só não quero te ver assim.

O mais novo olha para João, sabendo que não vai estar livre enquanto não explicar nada.

Mas também não é como se Pedro não confiasse nele.

— Havia uns bom anos que meus pais estavam vivendo em pé de guerra, dentro de casa — começa a explicar — Há três semanas eu ouvi eles brigando mais uma vez, só que dessa vez, minha mãe mandou ele embora, ele se opôs, eu saí do meu quarto pra intervir e disse que o melhor era que meu pai realmente fosse embora, pois não estava mais dando certo há muito tempo. Bom, ele foi.

— Está mal por que seu pai foi embora?
— Nem tanto por isso, João. Eu tô mal porque há poucos dias ele me procurou pra dizer que eu acabei com o casamento dele, e que era minha culpa minha mãe não querer mais ele dentro de casa — Pedro respira fundo, tentando não chorar ao lembrar das palavras de seu pai.

— Pedro... não é culpa sua — João aperta sua mão, tentando encontrar as palavras certas.
— Estou começando a discordar disso — Tófani ri sem jeito.

— Olha pra mim — Romania pede e, com receio, o mais novo obedece — Eu tenho certeza que você fez isso primeiramente pela sua mãe, quis proteger ela, livrá-la de algo. Se tudo já estava ruim antes, você só colocou um ponto final nisso tudo, Pedro. Você ajudou sua mãe, não desgraçou ela. A única pessoa que realmente está ofendido com isso é seu pai, com todo respeito.

— Acho que eu só não posso evitar sentir isso doer dessa forma — Pedro pressiona os lábios e dá de ombros.

— Eu entendo, meu bem, é seu pai — João responde, e só agora percebe o que falou.
— Segunda vez já. Fala assim não que eu me apaixono — Pedro brinca, soltando uma risada esbaforida em meio a vontade de chorar.

— Palhaço — João não consegue evitar rir — Mas é sério, não se martirize por isso, não é culpa sua.
— Eu vou tentar, mas não sei se posso prometer nada — ele olha para baixo, e fica observando os dedos de João em sua mão.

— Façamos um acordo? — João arrisca.
— Me diz qual — Pedro parece interessado.
— Promete pelo menos tentar conversar com um de nós se as coisas não estiverem bem?

Pedro olha para João como se pudesse negar algo para ele, sabe que, por algum motivo, não pode.
— Tudo bem — o mais novo responde.

Ambos escutam o sinal ecoar pela escola. Troca de professores.
— Acho que agora é um bom momento para voltarmos — João diz — Tá se sentindo bem?
— Estou sim — Pedro solta sua mão da mão de João e se levanta, fazendo o garoto a sua frente levantar e abrir a porta e sair rapidamente.

Tófani lava o rosto enquanto João o observa, esperando.
— Ah — Pedro diz — Muito obrigada, meu bem.
— Para, Pedro, não zoa — João responde, um pouco envergonhado.
— Não tô zoando, nem reclamando — ele diz com um sorriso, se direcionando a porta do banheiro — Vamos?

                                          ☆ ☆ ☆

— Eu já estou me arrependendo de ter chegado viva nesse terceiro ano — Malu diz enquanto todo o grupo está saindo da escola.
— Mal tem um mês que entramos nessa, deixa pra enlouquecer mais tarde — João diz rindo e desviando de um tapa de Malu.

— Por que os professores estão passando mais trabalhos em dupla, hein? É tedioso — Renan reclama.
— Obrigada pela parte que me toca, Renan — Malu diz, sabendo que, na maioria das vezes, ela quem faz dupla com ele.

— Não sei pra quê tanta reclamação. Ainda é um dos primeiros trabalhos do ano — Romania dá de ombros.
— Esqueci que não dá pra reclamar desse tipo de coisa perto de você, nerd chato — Renan brinca.

— Eu não acho chato — Pedro finalmente fala alguma coisa — Acho interessante.
— Viram? Finalmente alguém vê arte na minha inteligência — João brinca.

— Pedro, você tem certeza que vai aguentar fazer uma apresentação de trabalho com isso aí? — Malu brinca.
— Não entendi o afronte — João cruza os braços.

— Ainda temos quase um mês para isso — Pedro diz — Talvez eu sobreviva — resolve entrar na brincadeira dos amigos.
— Vão ser as semanas mais sofridas da sua vida, Palhares — Renan diz, e logo em seguida sorri para João como se dissesse "te amo, amigo, mas é verdade".

— Olha... — Pedro olha de canto para João — possa ser que eu goste.

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Daqui pra frente eu deixo alerta. De quê? Vocês verão.

Até o próximo capítulo :)

Suas Linhas - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora