Eu não desgostei

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Está quase acabando a primeira aula, mas João continua olhando a porta da sala, esperançoso. O que vê é Renan saindo da sala para falar com alguém.

Mas ainda não há sinal de Pedro.

Não desde que Pedro o beijou.

Sumiu o resto da noite de sábado, o domingo inteiro, e agora não veio à escola, na segunda.

Embora esteja dando leves resquícios de sinais de vida para Malu.

Mas tem ignorado as mensagens de João, e Romania está quase subindo pelas paredes com isso.

— Tem alguma coisa te incomodando — Malu tira João de seus pensamentos — Fala, o que aconteceu?

Ele pensa e repensa se deveria contar.

— Só estou preocupado com o Pedro, não tenho notícias dele desde que ele foi embora lá de casa, no sábado a noite — ele diz, indiferente.
— Ah, aí está o ponto preocupante — ela balança a cabeça, trazendo conclusão para si mesma.

— O quê quer dizer? — João pergunta, curioso, mas sabe que não está com a mente cem por cento ali.
— Bom, desde que vocês dois começaram a se aproximar, nunca passaram 24h sem falarem um com o outro, ou estou enganada? — Malu pergunta e João permanece em silêncio, dando confirmação — Anda, o que aconteceu?

João respira fundo tentando não surtar ao lembrar de como as coisas eram, e como estão agora.

— É... quando vocês foram embora, no sábado... um tempinho depois aconteceu uma coisa meio... interessante? — ele fala arrastado e bufa Malu gesticula para que ele seja objetivo — Ai, o Pedro me beijou, pronto, falei.

Malu segura a risada que lhe quer escapar e respira fundo.
— Primeiro: — ela diz — qual é a surpresa? Segundo: finalmente, né! Terceiro: por isso que vocês não estão se falando?
— Olha, é ele quem tá me ignorando, eu já mandei muitas mensagens, e não sei se ele sequer visualizou.

— Você quer que eu seja amigável ou sincera, João Vitor? — Malu pergunta.
— Eu já vou ter que lidar com isso de qualquer jeito, em algum momento — João respira — Eu opto pela sinceridade.

— Ótimo, vou lavar minha alma — Malu se ajeita em sua cadeira — Tá, primeiramente, você é burro e cego se não viu que o Pedro tá gostando de você, e mais burro ainda se achar que não sente o mesmo por ele, porque é nítido, vocês não têm nem metade da noção de quantas pessoas já vieram perguntar pra mim e pro Renan se vocês dois estão namorando. O Pedro gosta de você, e acho que nesse meio, você conhece ele melhor do que ninguém aqui, então para e pensa: é o Pedro, sua vida — ela brinca e João ri, envergonhado — Nesse momento, ele deve estar no mínimo achando que fez errado e que você vai querer, sei lá, se afastar dele.

— Ai, meu deus, eu vou ficar louco — João esfrega os olhos e respira fundo.
— Você não me respondeu, João — Malu insiste, ela quer ouvir ele finalmente admitir.

— É claro que eu gosto dele, né, Malu! — João diz e logo se acalma — Eu só... não achei que ele fosse sentir isso de volta, e sem contar que achei que eu estava confundindo meus sentimentos, mas não estou.

Malu dá um sorriso de canto, aliviada por seu amigo finalmente ser sincero consigo mesmo.

— Muito bem... — ela se encosta no ombro de João Vitor — mas me fala... gostou do beijo?
— Eu não vou responder isso — ele ri, nervoso.
— Ah, vai, por favor, não vai me dizer que foi ruim, se fosse, você não teria virado um pimentão agora.

— Olha, eu não desgostei... — João começa a falar e Malu o olha como se dissesse "isso é sério mesmo?" — tá bom, eu gostei. E muito pra ser sincero. E tô até agora me culpando por não ter conseguido pensar no que fazer quando ele foi embora.

— Bom, vocês moram bem perto um do outro, então você pode tentar resolver as coisas — Malu diz — Certeza que vai fazer bem uma conversa, nem que vocês precisem de um tempo para colocarem tudo nos eixos. A relação de vocês é muito linda pra ser abalada por causa disso, João Vitor.

João para refletir sobre o que sua amiga disse. E ele sabe que, como sempre, Malu está certa.

— Gente... — eles veem Renan se aproximando após entrar na sala — o que foi que eu perdi?

                                               》》》

Olhando os cantos de seu quarto, pensando em fazer a décima mudança de móveis nos últimos dois dias, Pedro tenta manter sua cabeça ocupada o suficiente.

Mas só o fato de ter optado não ir pra escola, o faz pensar que não está sendo tão eficiente quanto pensou que seria.

Ele praticamente brincou com análise combinatória com os móveis de seu quarto. Não tem mais o que se fazer.

Já são mais de uma da tarde e ele apenas saiu do quarto, comeu, tomou banho, e voltou.

Pedro estava mais uma vez pensando no que queria evitar, até ser tirado de seus pensamentos pelo som de sua porta abrindo. Ele vê sua mãe entrando.

Se senta na cama para falar com ela.

— Oi, mãe... — sua voz é baixa e arrastada, quase inaudível.
— Meu filho... — Ana diz, pensando em como falar, mas resolve que tem de ser direta — eu estou preocupada com você — ela se senta ao seu lado.

Pedro respira fundo, tentando formular uma frase para sua mãe, mas ainda não consegue.

— Olha, sempre que você está preocupado com algo referente ao seu pai, você fica mal, mas de um jeito diferente. Não é isso que está acontecendo agora. O que foi, querido? — ela insiste, preocupada.

— Eu só acho que fiz uma coisa que não deveria, por dar ouvidos a algo que eu estava sentindo, e ao mesmo tempo eu não tinha certeza — ele é vago nas palavras, não sabia como contar para sua mãe.

Ana dá um sorriso de canto e aperta a mão de seu filho.
— Há quanto tempo percebeu? — ela pergunta.

Pedro fica confuso.
— Percebi o quê?
— Que está gostando do João.

Ele trava por alguns segundos. Esperava que sua mãe falasse qualquer coisa nesse momento, menos isso.

— Como...? — Pedro não consegue completar a frase.
— Eu não nasci ontem, meu bem — Ana ri — Acho que percebi antes mesmo de conhecê-lo. Sabe, o modo como você falava dele. E no dia que ele jantou aqui em casa, percebi você olhando pra ele de um jeito diferente, e ele à você também. Não questionei nada porque percebi que você ainda estava "isento" de saber disso.

— Estou começando a achar que eu fui o último a saber disso — Pedro brinca — Eu estou preocupado de ter estragado nossa amizade com algo impulsivo, mas ao mesmo tempo, tem uma parte que diz que eu não preciso surtar. Essa bipolaridade está me deixando em pânico.

— Meu bem, eu não vou mentir, na maioria das vezes, isso vai doer, vai doer muito. Mas acho que vocês podem tentar se resolver da melhor maneira. Vocês precisarem de tempo para pensar nisso, não significa que precisem "interromper" a amizade de vocês — ela diz e o abraça — Eu te amo, e só quero o seu bem, o que você achar que é melhor para você, meu amor.

— Também te amo — ele retribui o abraço — Eu só não sei se o João quer falar comigo — ele percebe sua mentira, ignorando o fato de que é ele quem não está respondendo as mensagens do outro.

— Veja pelo lado bom... — ela se afasta para olhá-lo nos olhos — se ele realmente não quisesse falar com você, não estaria agora na sala, te esperando.
— Como??

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Se alguém achar a alma do Pepeu por aí, avisa a ele, porque ele perdeu e até agora não achou kakaka.

Até o próximo capítulo :)

Suas Linhas - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora