Labirinto Mágico

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Após uma pequena discussão em sussurros com sua mãe, Pedro cede e deixa que ela peça para João entrar em seu quarto.

E logo que faz isso, pensa em se atirar da janela imediatamente, mas é tarde para isso.

Quando escuta passos no corredor, arruma seu cabelo para garantir que não pareça estar tão mal com tudo isso, mas esconder o que sente não é o forte de Pedro.

Logo vê João abrindo a porta de seu quarto (que já estava entreaberta), com um sorriso desajeitado e provavelmente com a mesma vontade de sumir que Pedro tem, nesse momento.

— Eu... — João diz, sentado na cama, ao lado de Pedro — acho que a gente precisa conversar.
— Precisamos? — Pedro solta uma risada esbaforida.

— É... — João prende os lábios e respira fundo — Pedro, nós dois sabemos o que está acontecendo aqui e... — ele segura a mão do garoto para que o olhe nos olhos — primeiramente, eu não quero que você pense que fez errado. Não fez. Mas, nós dois precisamos de tempo pra pensar. Só, por favor, não se afaste de mim...

— Certeza que não fiz errado? — Pedro ri com desprezo para si mesmo — Não quero que fale coisas irreais para você, somente porque seria o que eu iria querer ouv... — João lhe dá um selinho para fazê-lo parar de falar, deixando o outro levemente surpreso.

— Você não cala a boca um minuto mesmo, né? — João brinca — Olha, meu bem — ele diz e Pedro sente seu rosto esquentar pelo vocativo —, eu amo nossa amizade, eu amo a intensidade da confiança que a gente construiu em tão pouco tempo, porque quem vê por fora, diz que nós nos conhecemos há anos, e convenhamos, realmente parece. E eu tenho certeza do que eu sinto. Como eu disse, nós dois precisamos de tempo.

— Muito bem... — Pedro diz — podemos pensar nisso à parte, sem colocarmos um muro entre nós dois, nisso tudo? — ele completa e João não evita de sorrir.
— Se estiver tudo bem para você... — João diz — pra mim fica tudo ótimo.

João se aproxima dele e encosta a cabeça em seu ombro, respirando fundo e fechando os olhos.
  — Eu tava precisando... recarregar... — ele diz, com a sombra de um sorriso nos lábios — E se me ignorar de novo, eu pulo sua janela de madrugada. Vai matar outro de preocupação, mas eu não.

— Eu vou manter isso em mente — Pedro ri — Obrigado...
— Por? — João vira o rosto para ele, sem tirar a cabeça do lugar.
— Por ser você — o mais novo sorri, sem graça.

— Então aproveita porque em poucas horas tenho que ir pra casa — João brinca.
— Posso te ouvir falar sobre algo que eu provavelmente não vou entender? — Pedro pergunta.

— Por que o interesse?
— Só... gosto de te ouvir falar.

João sorri ao saber disso.

Não que ele já não soubesse (uma desconfiança). Mas ouvir é diferente.

                                           ☆ ☆ ☆

  João abre a porta de sua casa já ciente que sua irmã está sozinha em casa, não vê o carro dos pais na garagem, e seria improvável que Isabela tivesse saído com eles.

Ele deixa sua mochila na sala, já que saiu da escola e foi direto ver Pedro, e vai até a cozinha.

— Por que tá felizinho? — ele escuta a voz de Bela atrás da porta da geladeira.
— Bela... — ele respira fundo, controlando as batidas do coração — é sério, precisa dar algum sinal antes de aparecer. Algum dia você vai me matar de susto.

— Eu posso tentar, mas não prometo nada — ela diz rindo — Mas anda, fala logo. Por que tá felizinho?
— Eu não tô felizinho — João dá de ombros.

Suas Linhas - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora