Prólogo

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Costumam dizer que a vida não é fácil para ninguém.

Isso parece uma grande mentira se for contada de lados diferentes.

Algumas pessoas, realmente nascem com muita sorte. São abençoadas com uma boa família, boa estabilidade financeira e costumam conquistar todos os seus objetivos de vida, sem nem precisarem fazer muito esforço.

Outras pessoas não têm tanta sorte. Nem sempre tem uma família e se tiverem a sorte de ter uma, com certeza ela não é bem o tipo de família que você poderia desejar para uma criança. E conforme essa criança vai se desenvolvendo, percebe que a vida realmente não é tão fácil de lidar como muitos pensavam.

Ao menos era o que Nara costumava pensar a maior parte do tempo, quando ela não estava sendo sufocada por seus fantasmas do passado, ou se deixando afundar em mágoas que nem a ela pertenciam. Mas, a mente de uma pessoa egoísta a tinha levado até ali, até a solitude daquele apartamento, que por conta própria, ela decidira comprar, a fim de se livrar ao menos um pouco do que tanto a perturbava.

Pousou a última caixa sobre o balcão da cozinha, olhando ao redor e fazendo uma anotação mental de tudo o que ela ainda tinha que organizar ali. Sentiu seu corpo reclamar em alguns pontos, depois de ter tido o trabalho de carregar tantas caixas para aquele andar, se arrependendo amargamente de ter recusado a ajuda de seus amigos, alegando que não havia tantas coisas assim para levar.

Uma grande mentira.

Ela só queria uma desculpa para poder ficar sozinha, para não precisar falar com ninguém a respeito de sua mudança. E também porque ainda estava decidindo quem seriam as pessoas que teriam acesso aquele endereço. Não era em todo mundo que ela poderia confiar.

Mas tinha certeza absoluta, de que seu pai não seria o privilegiado a saber onde ela estava morando atualmente.

Ele havia sido contra a mudança dela. Mas não era como se pudesse fazer alguma coisa, quando sua primogênita se formou na UA e simplesmente decidiu que não iria mais morar embaixo do mesmo teto que ele.

Por sorte, Nara tinha dependência financeira. Sua família tinha bastante dinheiro e desde muito nova, tanto ela, quanto seus irmãos tinham direito a mesada, o que a fez guardar cada mínimo centavo, para ter o suficiente para se mudar assim que completou dezoito anos.

E ninguém naquele mundo a faria mudar de ideia em relação a se mudar para uma cidade distante o suficiente da sua.

A única coisa da qual se arrependia, era a saudade que já estava sentindo de seus irmãos. Apesar deles compreenderem perfeitamente as decisões dela, ainda era difícil saber que não estaria mais se vendo obrigada a cuidar deles. Eram jovens promissores e sabiam se virar.

Deixou um longo suspiro escapar por seus lábios, massageou sua nuca, sentindo alguns pontos dos músculos reclamarem por todo o esforço. E começou a abrir as caixas, pensando que quanto mais rápido ela ajeitasse tudo nos armários da cozinha e do quarto, mais rápido ela se veria livre e poderia descansar.

O dia foi extremamente agitado e cansativo. E em meio a organização da mudança, seu celular tocou por diversas vezes. Ela nunca vira seu aparelho tão funcional como naquele dia. A maioria das ligações eram de seus irmãos, que estavam preocupados e curiosos para saberem a respeito da mudança, se tudo havia dado certo e se ela não precisava de ajuda?

Seus amigos também ligaram para fazer as mesmas perguntas. Mirio insistiu absurdamente em ir até lá para ajudá-la, mas enquanto a garota não lhe passasse o endereço, ela sabia que ele não tinha como ir bater em sua porta. Amava o loiro do fundo de seu coração, mas ela precisava daquele tempo a sós, não só para organizar suas coisas, mas também para organizar sua mente, que estava um caos. Assim como estivera a maior parte de sua vida.

No final do dia, quando quase todas as caixas já tinham sido abertos e organizadas, ela se sentou no chão da cozinha com um prato com sanduíche em mãos e começou a comer, se sentindo aliviada em ter comprado alguns móveis antes mesmo de se mudar, como a geladeira, fogão, armário e cama. O restante ela ia ver depois, quando não estivesse mais se sentindo tão exausta.

O silêncio do apartamento era estranho, ela ainda não sabia dizer como se sentia a respeito daquilo. Estava tão habituada com o clima agitado do colégio e quando não estava na UA, estava em casa, ouvindo seus irmãos mais novos brigarem por várias coisas, que ela até sentiu um pouco de falta disso.

Mas agora ela era uma jovem adulta e precisava dar um rumo à sua própria vida. Desapegar um poucos dos laços familiares e tentar ter uma vida normal, longe do tumulto da vida de super heróis, algo que ela nunca quis para si, mesmo que tivesse sido uma das alunas a se formar na UA.

Assim que terminou de comer, se levantou e optou por tomar um banho, estava se sentindo suja e também precisava relaxar. O banho foi quente e demorado, ela sentiu seus músculos relaxarem embaixo da ducha de pressão, até que estivesse se sentindo sonolenta o bastante, para se secar, se enfiar em um pijama composto por uma calça de moletom e uma camisa o dobro do seu tamanho, da banda Rolling Stones e se enfiou embaixo de sua coberta quentinha.

A janela de seu quarto que ainda não tinha cortinas e ela fez uma anotação mental para comprar algumas na manhã seguinte, mostrava uma noite estrelada e sem lua do lado de fora, com uma brisa gelada que parecia atravessar as finas frestas e a fazia se encolher ainda mais na coberta, antes de mergulhar num sono profundo.

Ela só queria ter uma boa noite de sono, mas despertou em algum momento com um som alto que pareceu ecoar por todo seu apartamento. Abriu os olhos e se sentou na cama, notando que ainda estava escuro do lado de fora. E o som que ela escutava, vinha de alguma das portas de seu apartamento.

Alguém estava tentando invadir? 



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