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Gabriel Barbosa|| Novembro 2024 - Rio de Janeiro ||Mesmo dia

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Gabriel Barbosa
|| Novembro 2024 - Rio de Janeiro ||
Mesmo dia...

O despertador tocou, e eu fiquei ali, sentado na cama, encarando o nada. Novembro tinha chegado, e com ele a contagem regressiva. Último mês no Flamengo. Dezembro ia fechar esse capítulo da minha vida, e, pra ser sincero, parte de mim ainda não aceitava bem isso. Era como se tudo pesasse mais agora - cada treino, cada risada, cada cobrança da torcida. Mas, se tem uma coisa que eu sei fazer, é segurar o orgulho e seguir em frente.

Me arrumei devagar, sem pressa. E nem era físico o cansaço; era aquele tipo de desgaste que só quem vive de incerteza entende. Peguei o carro e fui pro Ninho, no mesmo trânsito de sempre. São as últimas vezes fazendo esse trajeto, e por mais que eu sempre reclame, tem um lado meu que sabe que vou sentir falta.

No vestiário, os caras já estavam lá, fazendo a mesma bagunça de sempre. Bruno Henrique, Arrascaeta, Matheus... todos rindo de alguma piada idiota. Quando me viram, acenaram, e eu, meio que no automático, devolvi o aceno.

- E aí, Gabi! Pronto pra mais um dia? - Matheus já veio cheio de energia, batendo no meu ombro. Só dei aquele sorriso de canto, como quem já tá de saco cheio mas não deixa transparecer.

- Sempre, né? - Respondi, com a cara de marrento de sempre. Mas a verdade era que todo mundo ali já sabia: minha saída tava encaminhada. E isso deixou o clima meio pesado.

Bruno Henrique, no canto, me olhou, balançando a cabeça.

- Vai ser estranho, mano. O Ninho sem você... vai deixar um buraco.

Dei uma risada curta e revirei os olhos.

- Vocês vão se virar, né? - Respondi, com aquele tom meio seco. - Sempre aparece alguém pra substituir.

Mas, no fundo, eu sabia que meu jeito, meu ritmo, deixavam marca. Podia ser orgulhoso, marrento, o que fosse, mas sabia que não era qualquer um que ia preencher meu espaço.

Arrascaeta, claro, não perdeu a chance de me zoar.

- E quem é que vai fazer show depois de cada gol? Vai ficar um vazio no ataque!

Fingi que ia dar um soco nele, rindo. Mas aquilo tudo - a saída, as promessas quebradas, os combinados que nunca se cumpriram - tudo isso me irritava. Só que mostrar isso pra eles? Nem pensar. Meu orgulho não deixa. Prefiro guardar pra mim, focar no trabalho, deixar que falem o que quiserem.

O técnico entrou e chamou pro aquecimento. Fomos pro campo, o sol já queimando na pele. Durante o treino, me joguei de verdade, sem distrações, aproveitando cada segundo. Estava ali de corpo e alma, e aquilo tudo me lembrava por que eu amava esse lugar, mesmo com tudo.

Durante uma pausa, Bruno Henrique voltou ao assunto, dessa vez mais sério.

- Sabe, Gabi... a gente vai sentir falta, de verdade. Mas, onde quer que você vá, continua sendo o nosso Gabigol. Só não esquece da gente aqui, hein?

Dei um sorriso rápido, mas não foi muito além disso.

- Vocês também são minha família. Isso aqui não desaparece assim. Mas, sei lá... talvez, algum dia, o Flamengo cruze o meu caminho de novo.

Cebola entrou na conversa, rindo.

- Ih, agora você tá dando esperanças pra gente! Quem sabe, né?

Nem respondi. O técnico chamou pra voltar, e foi o sinal perfeito pra encerrar o papo.

Voltamos pro treino, e eu continuei no meu ritmo, determinado. Cada chute, cada passe... eu sabia que logo tudo isso seria só memória. E memória, pra mim, é o tipo de coisa que fica, mas que eu guardo bem lá no fundo.

Depois, voltamos pro vestiário. A exaustão bateu, mas, no meio de tudo, uma sensação de dever cumprido também. Aquilo tudo ia fazer sentido de verdade quando eu estivesse fora, com um pé em outro lugar.

Lá fora, o sol brilhava forte, e sabia que os fãs já estavam lá. Eu tenho gratidão por eles, mas hoje... sei lá, sem paciência pra lidar. Talvez seja meu lado orgulhoso, querendo me proteger do que vem. Ou eu só sendo o babaca de sempre, com um coração que não deixa ninguém ver de verdade.

 Ou eu só sendo o babaca de sempre, com um coração que não deixa ninguém ver de verdade

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A Última JogadaOnde histórias criam vida. Descubra agora