Carta Sobre o Odioso Lugar

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Odeio este lugar.

Odeio está poeira excessiva,
Seus ossos secos de umidade.
Odeio os corredores de vozes,
E seus sotaques de igual desdém e curiosidade.

Odeio ignorar que nada mudou,
Odeio fingir que somos iguais.
Odeio o quanto o tempo passou,
Soterrando aqui embaixo, neste mesmo lugar.
Odeio ter que abrir a janela e reconhecer a sua existência.

Odeio a conversa fiada;
A falsidade, a exigência e os declínios.

Odeio coisas que são vergonhosas de odiar,
por causa desse lugar.

Odeio o que ele me fez em portas fechadas.
Odeio o que ele arrancou tão sutilmente,
De mãos firmes, entredentes;
Coagindo e mentindo por mim.

Odeio ter medo de ser sozinha,
neste lugar.
Tanto quanto estar acompanhada,
Caminhar na beira da calçada, esbarrar em ombros e não ver ninguém.

Odeio o que nos resta, neste lugar.

Odeio sua fresta.

Odeio o que nos tornou.

Odeio o que sou agora, neste lugar.

Odeio sorrir para estranhos,
para fazê-los esquecer minha existência.

Odeio o quanto é indiferente.
Odeio o quanto é tedioso.
Odeio suas ilusões de grandeza,
Odeio o quanto sou pequena neste lugar.

Odeio que deseje que esqueça
o quanto o odeio,
Sabendo que isso pode me matar.

***

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