🍁CAPÍTULO 09🍁

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Os dias seguintes no hospital passaram em um borrão para Louis, e ele teve esperança, ainda que em silêncio, de que aquele pesadelo pudesse ter terminado. Meredith havia lhe prometido proteção, e por um instante, ele ousou acreditar. Mas, a promessa se revelou frágil, incapaz de vencer as engrenagens da burocracia e da indiferença do sistema. Quando menos esperava, lá estava ele, de volta àquele lugar que sempre lhe fora uma prisão.

Naquele fim de tarde, os outros órfãos estavam ocupados em seus afazeres, deixando o quarto mergulhado em um silêncio pesado. Louis estava deitado, o corpo ainda dolorido, a mente oscilando entre o cansaço e uma tristeza sem fim. Em um esforço quase mecânico, tentou se ajustar no colchão velho, sentindo cada pequena costura e deformação do tecido.

Por fim, desistiu de tentar se acomodar. O olhar perdido em um ponto qualquer do teto, ele pensava que talvez, para Meredith, ele fosse apenas mais um paciente entre tantos. Talvez ela tivesse agido por impulso, mas no fundo, ele não passava de um nome a mais em sua lista. A decepção latejava em seu peito, e ele pensou que a vida seguia como sempre, indiferente aos seus desejos ou esperanças.

De repente, um ruído na porta o trouxe de volta. Ao virar o rosto, viu uma figura conhecida à entrada do quarto, e seu coração deu um pequeno salto. Era um dos gêmeos — o de cabelos castanhos, que agora o olhava fixamente, com uma intensidade silenciosa e um olhar carregado de algo que Louis não conseguia decifrar.

O garoto gêmeo, parado na porta, parecia ainda mais impressionante à luz suave do entardecer que entrava pela janela. Os cabelos castanhos despenteados caíam sobre sua testa, mas o que mais chamava atenção eram seus olhos. Naquele momento, Louis teve a impressão de que eles refletiam algo além da usual indiferença que via nos demais alfas do orfanato. Ele não precisava de palavras para notar a expressão de surpresa e dor que o gêmeo parecia carregar ao vê-lo de volta ali, depois de tudo o que soubera.

O silêncio entre eles era espesso, e o alfa permaneceu imóvel, os olhos percorrendo o corpo frágil de Louis, como se cada arranhão e marca contasse uma história que ele mal suportava ouvir. O gêmeo deu um passo hesitante para dentro do quarto, quebrando a barreira invisível entre eles.

— Você... — começou o garoto, a voz baixa e entrecortada, como se ele próprio não acreditasse no que estava vendo. — Você voltou.

Louis sentiu o peito apertar ao ouvir aquelas palavras. Não conseguia entender exatamente o motivo, mas o modo como o gêmeo falou fez com que ele sentisse algo se agitar dentro de si. Havia uma mistura de descrença e até de raiva na voz do garoto, como se ele realmente se importasse.

Louis desviou o olhar, tentando evitar a intensidade daquele momento, mas o gêmeo não parecia disposto a sair dali. Ele se aproximou, seus passos firmes mas lentos, como se não quisesse assustá-lo. Quando parou ao lado da cama, o alfa olhou diretamente nos olhos de Louis, e o silêncio que se formou foi quase palpável.

— Eu pensei... — murmurou o gêmeo, passando a mão pelos cabelos em um gesto de frustração. — Eu pensei que... que alguém tivesse feito alguma coisa por você.

Louis tentou falar, mas sua voz falhou. As palavras pareciam ter sido roubadas de sua garganta. Ele não sabia o que dizer, nem como responder àquele olhar, que parecia expressar algo que ele mal ousava acreditar.

— Eles… — a voz do gêmeo estava mais grave agora, um tom de ressentimento permeando suas palavras. — Eles sempre fazem isso. Fingem que se importam, mas quando as coisas realmente importam, ninguém faz nada.

Louis sentiu um aperto no peito, algo próximo à compreensão e, ao mesmo tempo, à tristeza. Ele se perguntava se o garoto também havia sofrido de alguma maneira, se também havia sido decepcionado. O alfa abaixou a cabeça por um instante, talvez para esconder o que sentia, mas ao erguer o olhar novamente, ele encarou Louis com uma determinação que não passava despercebida.

DOIS ALFAS UMA BARRIGA DE ALUGUELOnde histórias criam vida. Descubra agora