🍁CAPÍTULO 06🍁

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A manhã estava clara, e o ar fresco trazia um pouco de conforto enquanto Louis caminhava rapidamente pelo pátio, tentando compensar o atraso. A noite passada ainda lhe pesava na memória; o gosto metálico do sangue no lábio, o olhar impenetrável do gêmeo de cabelos negros, o medo e a curiosidade que não conseguia abafar. Mas agora era hora de enfrentar a realidade do dia — suas tarefas no orfanato, que não eram leves nem piedosas.

Louis havia se atrasado e sabia que isso não passaria despercebido. Ao chegar ao refeitório, pegou apenas uma maçã e saiu comendo às pressas, tentando evitar as olheiras de curiosidade e comentários dos outros garotos. Ele não queria explicar o motivo de seu lábio inchado ou seu rosto machucado; a maçã servia como distração, e, com um ar resignado, ele atravessou o pátio e foi até a horta, onde as crianças já trabalhavam sob a supervisão de um dos responsáveis pelo orfanato.

Assim que pisou na terra da horta, o responsável o viu e, de imediato, lançou-lhe um olhar severo. Louis sentiu o rosto esquentar; sabia que seu atraso e aparência desleixada eram o suficiente para chamar a atenção. O responsável caminhou até ele, a expressão rígida e o tom de voz afiado.

— Louis, isso é inaceitável! Todos já estão trabalhando, e você aparece agora? Não é porque é fraco que pode se dar ao luxo de ser preguiçoso.

Louis baixou a cabeça, sentindo a vergonha arder em seu peito. Cada palavra parecia bater como uma pedra em sua autoestima. Ele não ousou responder, limitando-se a acenar, com as bochechas vermelhas de constrangimento. Sentia que os outros o observavam, alguns deles segurando risos, outros o fitando com olhares de superioridade.

Para completar sua punição, o responsável o destinou à tarefa mais árdua da horta: buscar os baldes de água do poço, carregá-los de um lado ao outro para regar as plantas. Era um trabalho fisicamente exigente, e todos sabiam que Louis, com seu porte franzino, não tinha a força necessária para executá-lo facilmente. Ele engoliu em seco e, com o rosto ainda corado, foi buscar os baldes.

Enquanto ele enchia o primeiro balde no poço, os murmúrios e risadas dos colegas chegaram aos seus ouvidos, penetrando como agulhas invisíveis. Chamavam-no de “molenga”, “fraco” e “preguiçoso”, zombando de sua dificuldade com a tarefa. Cada palavra atingia Louis, mas ele mantinha a cabeça baixa, forçando-se a ignorá-los. Seu corpo tremia de esforço enquanto tentava levantar o balde e o carregava com passos cambaleantes até as fileiras de plantas.

Por várias vezes, ele precisou parar para recuperar o fôlego, suas mãos escorregando na alça pesada do balde. O peso do metal e da água forçava seus músculos além do que ele podia suportar, e ele sentia a humilhação latejar em sua pele. Ele sabia que, para os outros, sua fraqueza era uma falha que o marcava como inferior, algo que não precisavam esconder.

Entre uma ida e outra ao poço, ele sentiu algo diferente: um olhar, ainda mais intenso que os risos e murmúrios. Olhou discretamente para o lado e viu um dos gêmeos observando-o. Era o mesmo gêmeo de cabelos castanhos que ele havia visto pela primeira vez no refeitório, e seus olhos estavam fixos em Louis com uma intensidade que o fazia estremecer.

O olhar dele era sério, inexpressivo e ao mesmo tempo carregado de algo que Louis não conseguia decifrar. Não havia zombaria, nem desprezo, nem o riso fácil dos outros. Era um olhar profundo, que parecia atravessá-lo, como se estivesse examinando cada detalhe, cada fraqueza que Louis tentava esconder.

Louis abaixou o rosto, voltando a atenção para o balde. Tentou ignorar o peso daquele olhar, mas ele parecia acompanhá-lo em cada movimento, como uma sombra persistente. Sentia a tensão crescer a cada passo que dava, o coração acelerado pela mistura de cansaço e ansiedade.

Por mais que tentasse evitar, seu olhar voltava sempre à figura do gêmeo de cabelos castanhos, que continuava a observá-lo. Em meio ao calor da manhã e ao suor que lhe escorria pela testa, Louis se sentia exposto, como se o alfa estivesse vendo nele algo que nem ele próprio sabia que existia. Sentiu o corpo arder de vergonha, desejando que aquele olhar o deixasse em paz, mas, ao mesmo tempo, sem conseguir desviar.

DOIS ALFAS UMA BARRIGA DE ALUGUEL [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora