🍁CAPÍTULO 22🍁

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8 anos depois...

O céu de Londres estava carregado, como se refletisse o peso no coração de Louis. As nuvens cinzentas pareciam se estender infinitamente, engolindo qualquer resquício de luz ou calor. Ele ajustou a alça da mochila sobre o ombro, sentindo o tecido áspero do casaco gasto contra sua pele. A prisão, com seus muros altos e frios, estava atrás dele, mas dentro de si ele ainda carregava as marcas dos últimos oito anos. Louis sabia que a liberdade que acabara de receber não vinha com um manual para apagar o passado.

Ele caminhou sem pressa, cada passo um lembrete de que o mundo lá fora continuava mesmo sem ele. As ruas desertas ao redor da prisão não ofereciam boas-vindas, apenas silêncio. Louis gostava do silêncio agora. Era uma companhia constante, algo que ele havia aprendido a apreciar entre as paredes sufocantes da cela que chamara de lar por tanto tempo.

Seu rosto estava endurecido, os traços juvenis de um menino de dez anos agora enterrados sob uma expressão fria e impenetrável. A barba por fazer somava anos à sua aparência, mas não era o suficiente para esconder o olhar vazio e calculista em seus olhos. Ele não era mais um garoto; era um sobrevivente. E sobreviver, ele aprendera, exigia abandonar partes de si mesmo pelo caminho.

Louis parou no acostamento da estrada e olhou para frente. O horizonte era apenas uma linha apagada pela neblina, sem promessas, sem certezas. Ele respirou fundo, o ar frio queimando em seus pulmões, e sentiu uma pontada de dor no peito — não física, mas emocional. A liberdade era algo que ele desejara todos os dias, mas agora que estava livre, o mundo parecia assustadoramente vazio.

Ele olhou para as mãos, grandes, calejadas, um contraste gritante com a delicadeza típica de um ômega. Por mais que seu corpo carregasse a fragilidade associada a sua natureza, ele moldara sua mente e alma como aço. Não havia espaço para vulnerabilidades. Louis não tinha mais o luxo de ser fraco.

Enquanto caminhava, flashes do passado surgiam como raios entre as nuvens: o dia em que fora arrastado para dentro da prisão, a humilhação, as noites sem fim em que lutara para manter sua sanidade. Oito anos. Oito anos de aprendizado brutal, de se proteger, de se calar, de se endurecer. Ele fora obrigado a crescer rápido demais. Agora, não era mais o menino assustado que chegara ali — era um homem marcado por perdas e cicatrizes invisíveis.

Louis sabia que ninguém o esperava. Não havia família, não havia amigos. O mundo era um campo aberto, mas sem direção. Ele caminhava sem mapa, sem destino, movido apenas pela necessidade de continuar. O passado o seguia como uma sombra, mas ele se recusava a olhar para trás.

Ao chegar em uma pequena vila próxima, ele parou em frente a uma loja com vidros empoeirados. O reflexo o pegou de surpresa. Ele quase não se reconhecia. A barba desalinhada, os olhos fundos, a postura defensiva. Ele se viu como os outros o veriam: alguém que carregava histórias que ninguém queria ouvir, um homem com um ar ameaçador e uma solidão avassaladora.

Entrou na loja apenas para buscar algo que pudesse comer, mas sentiu os olhares desconfiados do dono do lugar. Não era preciso muito para entender por quê. Louis não se incomodou; ele sabia que essa seria sua nova realidade. Era mais fácil assim. Pessoas mantinham distância, e ele preferia assim.

Com um pão embrulhado em papel e uma garrafa de água, ele saiu sem dizer uma palavra. O vento cortava seu rosto, mas ele não sentia frio. O vazio por dentro era muito maior que qualquer geada do lado de fora. Louis seguiu para um parque abandonado que avistara ao longe, um lugar onde podia sentar e organizar os pensamentos.

Sentado em um banco enferrujado, ele tirou o pão da mochila e começou a comer, mastigando devagar, sem prazer. Era apenas combustível para o corpo. Ele olhou ao redor e viu uma criança correndo atrás de um pássaro, rindo, completamente alheia ao mundo. Por um breve momento, Louis sentiu uma pontada de inveja — não da liberdade da criança, mas da inocência. Era algo que ele nunca teria de volta.

DOIS ALFAS UMA BARRIGA DE ALUGUELOnde histórias criam vida. Descubra agora