Cap 5

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Madisson Louise

A noite estava calma, com a brisa suave acariciando nossos rostos. A conversa entre nós fluía sem pressa, como se estivéssemos tentando compreender as peças soltas de nossas próprias histórias. Billie parecia mais leve, mais humana à medida que falava sobre o passado, como se o peso das suas palavras ajudasse a aliviar o fardo que carregava.

– Eu sempre achei que poderia controlar tudo, sabe? – disse ela, olhando para as estrelas. – Mas a verdade é que a gente nunca controla nada. Tudo o que eu fiz... foi tentando preencher um vazio que eu não sabia como preencher. E, por mais que eu tenha tentado, nunca foi suficiente.

Eu a observei, tentando entender as nuances daquela mulher que agora estava à minha frente. Antes, eu só via uma prisioneira da própria culpa. Agora, via alguém com tanto mais para oferecer, alguém com medo de ser irreparável.

– Acho que todos nós tentamos preencher vazios assim. Às vezes, o que a gente mais quer é ser aceito, ser visto de outra forma, além das nossas ações. – respondi, sem saber exatamente por que estava dizendo aquilo. Era como se as palavras saíssem sem filtro, tocando em algo profundo dentro de mim.

Billie se virou para me encarar, os olhos brilhando sob a luz das estrelas. Parecia que ela estava me observando mais atentamente agora, tentando encontrar algo em minha expressão.

– Eu nunca imaginei que você fosse capaz de me ver assim. – Ela falou baixinho, como se fosse uma confissão. – Eu pensei que você fosse me odiar para sempre, que nunca fosse me perdoar.

– Eu também pensei que odiaria você... – eu disse, com um sorriso fraco, mais para mim mesma do que para ela. – Mas a verdade é que... não sei mais. Eu não sei o que eu sinto. Só sei que estou aqui.

Ela sorriu, um sorriso que não era de vitória, mas de alívio, como se minhas palavras tivessem dado a ela uma pequena paz.

– Isso já é mais do que eu poderia esperar.– ela murmurou, a voz carregada de uma gratidão silenciosa.

Ficamos ali, no jardim, sentindo o peso da noite ao nosso redor. Eu sabia que a história entre nós duas estava apenas começando. Não sabia até onde isso nos levaria, mas, ao contrário de antes, agora eu estava disposta a descobrir. E isso, por si só, parecia ser um grande passo.

A lua se erguia no céu, e com ela, algo novo também se erguia dentro de mim. Algo que não era mais medo, mas uma estranha esperança, que até aquele momento eu nunca tinha imaginado sentir.
A noite avançava lentamente, e a quietude do jardim parecia envolver tudo ao nosso redor. A luz suave da lua lançava sombras delicadas nas árvores e nas flores ao nosso redor. O som da brisa nas folhas e o farfalhar distante de um pássaro noturno eram os únicos ruídos que quebravam o silêncio entre nós.

Billie, ainda sentada ao meu lado, parecia profundamente imersa em seus próprios pensamentos, os olhos fixos no céu estrelado. Eu não sabia o que mais dizer, mas algo me dizia que, naquele momento, as palavras não eram necessárias. Apenas a companhia, o simples ato de estarmos juntas ali, era o que importava.

– Você já amou alguém? – a pergunta de Billie veio quebrar o silêncio, sua voz baixa e quase hesitante.

Eu a olhei, surpresa pela direção da conversa, mas algo dentro de mim sabia que ela precisava fazer essa pergunta, precisava entender onde estava a verdade em tudo o que estava começando entre nós.

– Amei... sim.– respondi, pensando nas pessoas que passaram pela minha vida. – Mas nunca foi fácil. Às vezes, parece que o amor exige mais do que a gente tem para dar.

Ela assentiu, como se entendesse exatamente o que eu queria dizer.

– Eu também. – sua voz estava cheia de uma tristeza profunda. – Eu tentei, mas sempre que chegava perto de algo real, eu sabotava. Sempre achei que merecia ficar sozinha, porque, no fundo, eu não sabia se podia confiar em ninguém. E muito menos em mim mesma.

Eu não sabia o que responder, então apenas a observei, sentindo a dor não dita nas palavras dela. A solidão que ela carregava parecia ser o peso invisível que a impedia de se entregar de verdade, de se permitir amar sem medo.

– Você não está sozinha agora. – eu disse, mais para mim mesma do que para ela, mas as palavras pareciam preencher o espaço entre nós de uma maneira que eu não esperava. – Eu não sei o que vai acontecer, mas... não estamos mais tão distantes quanto antes.

Billie me olhou com os olhos suavemente amendoados, e por um momento, eu vi uma vulnerabilidade tão rara nela que quase senti que poderia tocar. Como se ela estivesse abrindo uma parte de si que nunca tinha permitido a ninguém. Algo em mim queria alcançar essa parte, dar-lhe a segurança que ela nunca teve, mas também sabia que o caminho até ali seria difícil.

– Eu... não sei o que você espera de mim, Madisson.– a voz de Billie tremia levemente. – Mas eu quero ser melhor, para você. Não porque você me pede, mas porque, de alguma forma, você me faz querer ser.

Havia algo genuíno naquelas palavras. Algo que eu não sabia identificar, mas que me tocava profundamente.

– Eu não sei o que eu espero de você também.– eu disse, minhas palavras saindo com mais clareza do que eu imaginava. – Mas acho que a gente tem que ir descobrindo aos poucos, sem pressa.

Billie sorriu, um sorriso que agora era cheio de uma esperança mútua, algo que começava a crescer entre nós, aos poucos, como uma chama delicada que se recusava a se apagar.

Ficamos em silêncio novamente, mas agora o silêncio não era desconfortável. Era confortável, quase necessário. A noite continuava a se arrastar lentamente, como se o tempo não tivesse pressa em nos separar. Nós duas, ali, sob o céu estrelado, sabendo que aquele momento, por mais simples que fosse, já havia marcado algo em nossas almas. Algo que só o tempo poderia revelar.

E, naquele instante, eu soube que havia começado algo. Algo que talvez fosse pequeno, mas que poderia crescer, talvez até nos transformar. E talvez, apenas talvez, fosse isso o que precisávamos: tempo, paciência e o simples desejo de sermos mais do que aquilo que fomos no passado.

The Kidnapping Secret •Billie Eilish•Onde histórias criam vida. Descubra agora