Siete

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Tema: Amantes.

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Carlos estacionou discretamente o carro na rua tranquila do centro de Madrid, olhando para o prédio onde passava tantas noites secretas. A noite estava fresca, e uma leve brisa cortava o ar, balançando os galhos das árvores que ladeavam a rua. Ele sentiu um aperto no peito, um nervosismo que raramente experimentava. Subindo os degraus de entrada, ele se preparou mentalmente para o que viria a seguir. Aquela noite parecia diferente, algo que ele ainda não sabia explicar pesava no ar.

Ao chegar à porta do apartamento, Carlos bateu duas vezes de leve, como sempre fazia. Do outro lado, Bianca estava sentada no sofá, seus olhos fixos na parede oposta. Ela já sabia que ele estava chegando, sentia a presença dele antes mesmo que ele batesse. Seu coração, que sempre acelerava à simples menção do nome de Carlos, agora parecia se arrastar, dividido entre a emoção de tê-lo por perto e a dor cada vez mais insuportável daquela situação.

Bianca se levantou lentamente, ajeitando o vestido de seda azul que usava. Ela passou uma mão pelos cabelos castanhos ondulados, tentando se preparar para o que precisava fazer. Caminhou até a porta e a abriu, encarando Carlos com uma expressão cansada, os olhos mais tristes do que apaixonados.

— Oi — disse Carlos, com um sorriso suave, entrando e fechando a porta atrás de si. Ele percebeu a tensão no ar, mas tentou ignorá-la, aproximando-se para beijá-la. Bianca virou o rosto sutilmente, recusando o gesto, e o sorriso de Carlos vacilou.

— O que houve? — ele perguntou, a voz carregada de preocupação. A mão dele tentou alcançar a dela, mas Bianca recuou, cruzando os braços sobre o peito em um gesto de autoproteção.

Ela o olhou, seus olhos castanhos brilhando com um misto de tristeza e determinação. — Não dá mais, Carlos. Eu não posso continuar com isso.

O coração de Carlos acelerou. Ele conhecia Bianca o suficiente para saber que ela não estava brincando. Sua expressão se tornou séria, e ele deu um passo para mais perto.

— Bianca, por favor, não faz isso — implorou, sua voz carregada de emoção. — Não faz isso comigo.

Bianca balançou a cabeça, sentindo uma lágrima ameaçar cair. Mas ela piscou rapidamente, determinada a não desmoronar diante dele. — Não faz isso com você? — Ela riu, mas era uma risada sem alegria, uma risada quebrada. — E quanto a mim, Carlos? Quanto a mim? Quantas noites eu passei esperando você, me contentando com as migalhas do seu tempo? Achando que... — Ela fez uma pausa, respirando fundo. — Achando que talvez, algum dia, eu significasse mais para você do que isso.

Carlos sentiu o peito apertar com culpa, mas a ideia de perdê-la o deixava completamente desesperado. — Bianca, você sabia como as coisas eram desde o início. Eu nunca menti para você sobre isso.

Bianca passou a mão pelos cabelos, frustrada, as palavras dele ecoando dolorosamente. — Eu sei. Eu sabia desde o começo. Eu sabia que você tinha a Rebeca, sabia que eu era só... a outra. Mas você nunca me disse que eu ia me apaixonar por você! Eu não sabia que seria tão difícil.

Carlos tentou alcançá-la novamente, desta vez segurando seu rosto com as mãos. — E você acha que é fácil para mim? Você acha que eu não penso em você o tempo todo? Que eu não desejo que as coisas fossem diferentes?

Bianca fechou os olhos ao sentir o toque dele, tentando não ceder. — Mas as coisas nunca vão ser diferentes, Carlos. Você sempre volta para ela. E eu fico aqui, esperando. Eu me sinto tão... tão invisível, tão sem importância.

— Não diga isso! — ele exclamou, a voz embargada. — Você é tudo para mim, Bianca. Eu dou um jeito de estar com você porque eu preciso de você. Porque, mesmo que seja complicado, eu não consigo ficar longe.

Ela abriu os olhos, encarando os dele, tão próximos. — E isso é o que me mata — murmurou. — O fato de que você só me quer por pedaços, nunca por inteiro. Eu quero mais, Carlos. Eu quero ser a única. E isso nunca vai acontecer.

O silêncio que se seguiu foi cortante, pesado. Carlos abaixou as mãos, sentindo-se impotente, enquanto a verdade crua daquelas palavras o atingia. Ele queria protestar, queria prometer mudanças que não sabia se podia cumprir. Mas, ao olhar para Bianca, tão quebrada por dentro, percebeu que talvez ela tivesse razão.

— Eu não posso perder você, Bianca — ele disse, a voz um sussurro desesperado. — Eu não sei como... como mudar isso, mas eu sei que preciso de você.

Bianca sentiu as lágrimas finalmente rolarem por suas bochechas, a dor e o amor em conflito dentro dela. — Mas você nunca vai precisar o suficiente para me escolher. E isso é o que eu não posso mais aguentar.

O som daquelas palavras ecoou no apartamento, e ambos ficaram em silêncio, presos em um impasse doloroso. O sentimento no ar era pesado, cheio de tudo o que nunca poderia ser dito, e de todas as promessas que nunca seriam cumpridas. O amor que tinham um pelo outro era forte, mas talvez não fosse o suficiente para superar a situação em que se encontravam.

E ali, naquela noite em Madrid, com o coração partido, os dois se olharam, sabendo que, às vezes, amar alguém não é o bastante para fazer as coisas darem certo.

𝟓𝟓 - 𝙞𝙢𝙖𝙜𝙞𝙣𝙚𝙨  Onde histórias criam vida. Descubra agora