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A sala estava silenciosa, exceto pelo som abafado de respirações pesadas. S/N estava parada no meio da sala de estar, as mãos tremendo ligeiramente enquanto tentava manter a compostura, enquanto Carlos estava ao seu lado, com os olhos fixos no chão, evitando seu olhar. Eles haviam se desentendido pela primeira vez de uma forma mais séria, e a tensão no ar era palpável. A discussão começou com algo pequeno, um mal-entendido, mas logo escalou para algo maior, mais profundo, mais doloroso.
S/N sentia uma mistura de frustração e tristeza. Ela nunca imaginou que teria um dia tão difícil com ele, mas ali estavam, frente a frente, sem conseguir encontrar uma solução.
— Eu não entendo o que você quer de mim, Carlos — disse ela, a voz baixa e trêmula. — Sempre que tentamos conversar, parece que você nunca escuta. Você me ignora, me faz sentir como se não importasse.
Carlos ergueu os olhos lentamente, a expressão dele agora difícil de ler. Ele parecia estar se segurando, como se estivesse lidando com algo interno que ele não queria compartilhar. Por um momento, a raiva tomou conta dele, e ele se sentiu como se não tivesse mais controle.
— Não é isso, S/N — ele disse, sua voz mais áspera do que ele pretendia. — Mas você... você é diferente. Você é... não sei, difícil de lidar às vezes. Como Rebeca.
O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor. S/N ficou paralisada, o coração batendo forte no peito. Ela sentiu as palavras dele como um golpe, algo que a cortou profundamente, mais do que ele poderia perceber. Rebeca. Sua ex-namorada. A mulher com quem Carlos tinha um passado, um relacionamento que ele nunca havia totalmente superado, e que, de alguma forma, ainda o seguia.
— O que você está dizendo? — S/N perguntou, sua voz falhando. Ela tentava manter a calma, mas as palavras de Carlos tinham atingido um ponto sensível. — Você está me comparando com ela?
Carlos olhou para ela, seus olhos agora cheios de conflito. Ele sentia o peso de suas palavras, mas também não conseguia retroceder. Em sua mente, a comparação parecia lógica — S/N e Rebeca tinham suas diferenças, mas algo nela o fazia pensar em sua ex. Ele não sabia como isso havia acontecido, mas naquele momento de frustração, as palavras saíram sem que ele as pudesse controlar.
— Não é isso — ele disse, tentando se justificar, mas falhando miseravelmente. — Eu só... quero dizer que você me lembra ela, às vezes. Você tem a mesma intensidade, a mesma... forma de ser. Às vezes parece que você não me entende, que tudo que eu faço é errado, como ela fazia.
S/N olhou para ele, o peito apertando com a dor daquela comparação. Ela sempre soubera que Carlos ainda tinha algo em relação a Rebeca, algo não resolvido. Mas ouvir aquilo dela, de uma forma tão bruta e direta, foi devastador. Ela sentiu uma mistura de raiva, tristeza e medo. Medo de que, no fundo, ele nunca a visse como única, como especial. Medo de que ela estivesse apenas sendo uma versão de alguém que ele não conseguia esquecer.
— Você acha que eu sou como ela? — S/N perguntou, sua voz mais baixa agora, cheia de vulnerabilidade. — Você realmente acha isso de mim, Carlos?
Carlos mordeu o lábio, o arrependimento tomando conta dele, mas a raiva ainda o impedia de encontrar a palavra certa. Ele sabia que tinha falado demais, que tinha sido cruel. Mas também sabia que aquilo não era algo que ele poderia simplesmente apagar. Não havia como voltar atrás.
— Não, S/N, não é isso — ele disse, tentando se aproximar dela, mas ela deu um passo para trás, afastando-se dele. — Você não é ela, claro que não. Mas às vezes, a maneira como você reage, como você... você me desafia de uma forma tão intensa. E eu não sei lidar com isso, não sei lidar com... com nós dois.
S/N fechou os olhos, sentindo a dor nas palavras dele. Ele estava dizendo que ela o desafiava, que ele não sabia lidar com ela, com o relacionamento deles. Ela pensou por um momento em como Carlos, sempre tão controlado e calmo com os outros, tinha essa necessidade de controle quando se tratava deles, de se proteger de qualquer forma. A comparação com Rebeca a feriu profundamente, mas também a fez entender algo mais. Ele nunca se sentiu totalmente à vontade, totalmente seguro com ela. Ele estava sempre tentando evitar as mesmas armadilhas do passado, mesmo que isso significasse machucar quem estava ao seu lado.
— Você não sabe o que quer, Carlos — disse ela finalmente, a voz firme agora, apesar da dor. — Você diz uma coisa, faz outra. Me compara com uma pessoa que você disse que nunca queria voltar, e agora... está agindo como se fosse a mesma coisa.
Ele ficou em silêncio, as palavras dela atingindo-o em cheio. Ela estava certa. Ele não sabia o que queria. Tudo o que ele sabia era que sentia uma pressão imensa, uma luta interna entre o que ele sentia e o que ele temia, e isso estava afetando o relacionamento deles. Ele queria tanto ser transparente, mas o passado com Rebeca sempre surgia, sempre o fazia hesitar, como uma sombra que não o deixava em paz.
— Eu... eu não queria dizer isso — ele murmurou, os olhos caindo para o chão. — Eu só... eu só estou com medo, S/N. Medo de cometer os mesmos erros, medo de não saber como fazer isso dar certo. E é por isso que eu me sinto perdido às vezes.
S/N olhou para ele, a raiva diminuindo aos poucos para dar espaço à tristeza. Ele estava sendo honesto, o que, de certa forma, era um alívio. Mas também a deixava em pedaços, porque ela queria mais. Ela queria um Carlos que a visse sem comparações, sem sombras de um passado que ele parecia não conseguir deixar para trás.
Ela respirou fundo, tentando organizar seus sentimentos. Não era fácil estar com alguém que ainda estava preso a um amor anterior, alguém que não sabia como amar sem medo. E embora ela o entendesse, e quisesse estar ao lado dele, naquele momento, ela sentia que precisava se afastar um pouco para cuidar de si mesma.
— Eu entendo que você tem seus medos, Carlos — ela disse, sua voz baixa e cheia de dor. — Mas não posso ser a pessoa que você continua usando para lidar com os fantasmas do seu passado. Eu sou eu, e não ela. E se você não consegue ver isso, então talvez seja melhor a gente dar um tempo, se afastar um pouco para você entender o que realmente quer.
Ele a olhou, os olhos cheios de culpa, mas não sabia o que dizer. Não havia mais palavras que pudessem salvar aquela situação. Ele sabia que a tinha magoado profundamente, e não havia nada que ele pudesse fazer para consertar isso naquele momento.
S/N deu um passo para trás, o coração pesado, mas a mente clara. — Eu vou para casa. Acho que precisamos de um tempo, Carlos.
Sem dizer mais nada, ela pegou sua bolsa e saiu pela porta, deixando Carlos para trás, em um silêncio profundo, onde as palavras não ditas ecoavam mais alto do que qualquer som.
Ele ficou ali, sentindo um vazio imenso em seu peito, a perda de algo que ele sabia que estava à beira de perder — algo que ele nunca soubera valorizar até aquele momento.