Em muito tempo, um relacionamento pode mudar rapidamente, por uma tragédia que talvez, possa ser arrumada. Chris sofre um acidente, e nisso, ele perde completamente sua memória, das mais simples às mais importantes, Seung, seu namorado, ao saber dis...
Chris raramente tomava a iniciativa para algo tão casual quanto um jantar. Mas naquela noite, ele quis compensar os dias difíceis. Quis ver Seungmin sorrindo por algo que ele, e não o destino ou o acaso, tivesse proporcionado. O restaurante escolhido era simples, mas aconchegante, com paredes de tijolos aparentes e o cheiro de comida paulista no ar.
- Sério que você me trouxe pra comer baião de dois em São Paulo? - Seungmin provocou, deslizando o olhar pela mesa até o prato de Chris.
- Tá reclamando? - Chris ergueu uma sobrancelha, desafiador.
- Não, tá delicioso, só achei engraçado. Você, o sulista mais teimoso que eu conheço, comendo comida do Nordeste num restaurante paulista. - Seungmin riu, e o som aqueceu o peito de Chris mais do que qualquer prato poderia.
Eles comiam devagar, entre comentários leves e olhares prolongados. Chris gostava de observar como Seungmin gesticulava ao falar, como ele levava o garfo à boca com uma graça que parecia inconsciente. Seungmin, por sua vez, fazia questão de deixar claro como seus olhos varriam o rosto de Chris, desde a curva do maxilar até o jeito que ele segurava os talheres.
- Sabe, eu tava pensando... - Seungmin começou, pousando o garfo no prato vazio e inclinando-se um pouco mais para perto. - A gente devia adotar um gatinho.
Chris o olhou como se ele tivesse acabado de sugerir algo completamente absurdo.
- Um gato? Você tá doido?
- Não um, dois. Eles ficam menos solitários assim, e a gente também.
Chris balançou a cabeça, rindo de leve.
- Você tem resposta pra tudo, né?
- Sempre tive. Você só não presta atenção. - Seungmin deu um sorriso atrevido, que Chris não pôde deixar de retribuir, mesmo enquanto fingia revirar os olhos.
A conversa seguiu por aquele caminho, Seungmin insistindo, argumentando, e Chris se defendendo, mas sem muita convicção. Ele sabia, no fundo, que acabaria cedendo. Cedia para Seungmin em tudo que importava, porque ele gostava de vê-lo feliz, gostava do calor que isso trazia para os momentos mais frios.
Quando voltaram para casa, Seungmin ainda estava cheio de energia. Ele se jogou no sofá, abrindo o celular para mostrar a Chris fotos de gatinhos para adoção.
- Olha esse aqui. Um frajolinha! Olha o narizinho dele, Chris.
- Min, é quase meia-noite. Vai dormir. - Chris passou as mãos pelo rosto, fingindo cansaço.
- Eu só vou dormir se você prometer que amanhã a gente vai num abrigo.
Chris suspirou, derrotado, e Seungmin abriu um sorriso triunfante.
- Você é impossível, sabia?
- E você me ama por isso.
Na manhã seguinte, estavam no abrigo, Seungmin mais animado do que Chris conseguia entender. Ele já estava com um gatinho preto nos braços, enquanto Chris tentava, sem sucesso, pegar outro frajolinha que insistia em se esconder debaixo de uma cadeira.
- Esse aqui é corajoso. Igual você - Seungmin disse, acariciando o gatinho preto.
Chris finalmente pegou o outro frajola, que miava baixinho. Ele olhou para o bichinho e, sem perceber, sorriu.
- E esse aqui é tímido. Igual você - Respondeu, arrancando uma risada de Seungmin.
De volta ao apartamento, Seungmin correu para o sofá com os dois gatinhos, enquanto Chris ficou parado na porta, observando a cena. Havia algo no jeito que Seungmin falava com os gatos, tão delicado, tão cheio de cuidado, que o fez se lembrar de como o outro cuidava dele nos dias ruins.
- Ei, o que você tá pensando? - Seungmin perguntou, quebrando o silêncio.
- Só... que talvez a gente consiga fazer isso dar certo. - Chris deu de ombros, a voz baixa, mas cheia de significado.
Seungmin se levantou e caminhou até ele, parando tão perto que Chris podia sentir o calor de seu corpo.
- Eu sei que a gente consegue. - Ele segurou o rosto de Chris com as duas mãos, os olhos castanhos suaves como um dia de sol.
E, naquele momento, Chris acreditou.
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