à beira do infinito

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Seungmin estava em um pequeno mirante no alto de uma colina, um daqueles lugares escondidos que poucos conheciam, afastado do barulho da cidade. O mirante oferecia uma vista panorâmica de São Paulo, com suas luzes urbanas se espalhando como um tapete de estrelas abaixo dele, piscando, e tremeluzindo ao ritmo frenético da metrópole, era um lugar especial para ele, onde costumava ir nas noites tranquilas para se afastar do caos cotidiano — um refúgio particular onde palavras e gestos tinham mais significado.

Havia um banco de madeira gasto pelo tempo, que era onde ele estava sentado, com algumas marcas e inscrições deixadas por outros visitantes ao longo dos anos, e ao lado dele, uma grade de ferro enferrujada separava o pequeno espaço do abismo logo abaixo. A neblina daquela noite envolvia o local, dando um ar quase onírico, melancólico, e o vento era suave, trazendo consigo o som distante da cidade e o murmúrio abafado de carros passando lá embaixo.

Ao redor, algumas árvores antigas se erguiam como guardiãs silenciosas, e o cheiro de terra úmida preenchia o ar. Era um lugar onde a cidade parecia distante. A luz dos postes de rua mal chegava até ali, deixando a área semi-iluminada por uma lua tímida que lutava para atravessar a névoa.

O vento frio parecia envolver ele como um manto invisível, algo que Seungmin tentou ignorar enquanto encarava a neblina que se movia lentamente pelos jardins da praça. Mas então, chegada de Chris tinha preenchido o silêncio com um peso quase tangível, os passos lentos e quase que calculados. Ele viu Seungmin lá, sentado naquele banco que, segurava sua bela figura, uma que parecia que não via a anos, fazendo ele até parar o ar que respirava por um segundo.

Seungmin já ouvia esses passos e se assustou, virando a cabeça para olhar, e recebe o uma grande surpresa, na qual suas pupílas revertiam. Sem palavra alguma, mas o tanto que tinha que se dizer, ficaram se olhando por, pelos menos, um minuto, carregado de desespero, culpa e tristeza, surpresa. E, mesmo sem palavras, o vazio entre eles parecia carregado de tudo o que não diziam. Chris respirou fundo, sua expressão era um misto de decisão e medo.

De repente, ele deu um passo à frente, e antes que Seungmin pudesse reagir, sentiu os braços de Chris ao seu redor. O abraço veio rápido e intenso, como uma onda inesperada, quase desesperada. Seungmin, pego de surpresa, ficou imóvel por um instante, sentado no banco ainda, e os braços dobrados e no ar, paralisado, mas logo seus braços responderam, segurando Chris com a mesma urgência. A respiração de Chris estava entrecortada, e Seungmin pôde sentir o tremor sutil em suas mãos, enquanto ele o apertava ainda mais. Lentamente, Seung, foi se levantando, para abraçá-lo melhor...

Por um longo momento, eles ficaram ali, em silêncio, envoltos um no outro, e o mundo ao redor parecia desvanecer. Chris encostou o rosto no ombro de Seungmin, sua respiração quente contra o pescoço do outro, e Seungmin fechou os olhos, tentando absorver aquele instante como se fosse o último. Não sabia quando — ou se — Chris o abraçaria assim de novo, mas, naquele momento, não importava. Era real. Era agora.

Com um suspiro pesado, Chris ainda mantinha os braços ao redor de sua cintura, como se temesse que ele desaparecesse se o soltasse. Seus olhos estavam mais claros, como se o abraço tivesse removido parte da névoa que os encobria.

- Alguns dias sem você, e eu fico completamente louco - Ele disse de repente, a voz entrecortada, os olhos ainda fechados, absorvendo seu cheiro, e sua alma.

A intensidade daquelas palavras fez o peito de Seungmin se apertar, mas ele forçou um sorriso, tentando esconder o quanto aquelas palavras significavam para ele. Talvez Chris não se lembrasse de tudo, mas algo dentro dele — algo além da memória — parecia estar lutando para encontrar o caminho de volta.

- Eu gosto disso. - Respondeu, com uma risada leve que parecia conter todo o seu nervosismo, mas também uma pitada de esperança.

Os dedos de Chris ainda descansando na cintura de Seungmin, apertaram um pouco mais, como se o toque fosse um fio condutor entre o que sentia e o que não sabia como dizer. Foi então que ele inclinou a cabeça levemente, como se as palavras lhe custassem o dobro de esforço.

- E eu digo... - Chris murmurou, sua voz ficando quase inaudível, mas carregada de significado;
- É como se meu subconsciente gostasse de você.

O mundo pareceu parar. Seungmin segurou a respiração, incapaz de se mover ou falar, e, ao invés disso, deslizou seus braços de volta ao redor de Chris, enterrando o rosto na curva de seu pescoço. Ficaram assim, abraçados, as palavras flutuando no ar ao redor deles, e a intensidade do momento os mantinha imóveis, como se qualquer movimento pudesse quebrar o frágil equilíbrio que estavam reconstruindo.

- Talvez... - Seungmin murmurou contra o ombro de Chris, sentindo o calor do corpo dele contra o seu, o cheiro familiar que ele nunca esqueceu;
- Talvez porque você sempre me amou, mesmo quando não sabia.

Chris fechou os olhos, apertando o abraço com força, como se estivesse tentando fundir aquela sensação em sua memória.

Chris então tirou o rosto no ombro de Seungmin o suficiente para olhar para seus olhos castanho escuro, um sorriso largo e meio triste, meio doce, lentamente aparecendo em seus lábios. Chris foi brincar com ele, assoprando o rosto de Seung, fazendo sua franja voar um pouquinho, e fazer ele rir baixinho.

A noite continuou a envolvê-los, carregada de uma promessa silenciosa, enquanto as palavras ditas e não ditas os mantinham ligados, mais fortes do que qualquer lembrança perdida.

Blank Heart - chanminOnde histórias criam vida. Descubra agora