A dor da Marca da Maldição ainda ecoava no corpo de Kiyomi, mas ela se recusava a demonstrar fraqueza. Os eventos recentes a deixaram emocionalmente exausta, mas, ao mesmo tempo, havia uma inquietação que não permitia que ela parasse. As palavras de Orochimaru ainda ressoavam em sua mente: “Sasuke se juntará a nós em breve.”
Naquela noite, após retornar para a vila disfarçada, Kiyomi sentiu que precisava de ar. O peso de tudo — a descoberta sobre Sasuke, a Marca da Maldição e os planos de Orochimaru — era demais para suportar. Caminhou sem rumo, afastando-se dos dormitórios improvisados para os participantes do Exame Chunnin.
A lua cheia iluminava a floresta próxima, suas árvores lançando sombras suaves no chão. Ela parou perto de um pequeno riacho, onde a água corria calma, seu som quase hipnotizante. Foi então que sentiu algo. Uma presença.
Kiyomi virou-se, os olhos atentos.
— Quem está aí?
De trás das árvores, um garoto de cabelos ruivos apareceu, seus olhos rodeados por marcas escuras que destacavam o tom verde penetrante de sua íris. Ele parecia observar Kiyomi com a mesma intensidade que ela o observava.
— Você está aqui... sozinha? — perguntou ele, a voz baixa, mas carregada de algo que Kiyomi não conseguiu identificar imediatamente: curiosidade ou ameaça.
— Isso importa? — respondeu ela, mantendo-se firme.
O garoto deu um passo à frente, a luz da lua iluminando a tatuagem em sua testa: 愛 "Amor".
— Normalmente, quando alguém vagueia por aqui sozinho, é porque está fugindo de algo — ele disse, cruzando os braços. — Ou de alguém.
As palavras dele a atingiram como um golpe. Fugindo? Talvez ele tivesse razão. Fugindo de Orochimaru, de si mesma, da verdade que a assombrava.
— Eu só precisava de ar — respondeu ela, sem querer demonstrar fraqueza. — E você? Não parece o tipo que gosta de companhia.
O garoto soltou uma pequena risada nasal, quase como um suspiro. Embora seus olhos continuassem afiados como lâminas.
— Complicado evitar a solidão quando você é... diferente. — Ele olhou para o céu por um momento, como se perdido em pensamentos. — Mas talvez você entenda isso.
Aquela observação fez Kiyomi hesitar. Havia algo nele que a intrigava. Ele parecia tão perdido quanto ela, carregando um peso invisível que o afastava dos outros.
— Qual é o seu nome? — perguntou ela, quebrando o silêncio.
— Gaara. — Ele inclinou a cabeça ligeiramente, como se estivesse tentando decifrá-la. — E o seu?
Ela hesitou por um segundo. Kiyomi Yamamoto era o nome que usava para o Exame, mas, naquele momento, dizer isso parecia errado.
— Kiyomi. — Não adicionou o sobrenome falso. Apenas Kiyomi.
Gaara assentiu, e o silêncio voltou a pairar entre eles. Não era desconfortável, mas cheio de significado, como se os dois estivessem compartilhando algo que não precisavam colocar em palavras.
— Você tem um olhar... diferente dos outros — ele disse, finalmente quebrando o silêncio. — Como se soubesse o que é viver no escuro.
Kiyomi sentiu um calor em seu peito ao ouvir aquelas palavras. Ele estava certo. Ela sabia o que era crescer isolada, sem respostas, sendo manipulada por alguém que deveria protegê-la.
— E você? — perguntou ela, encarando-o. — Por que você parece entender isso tão bem?
Gaara desviou o olhar, as sombras da noite refletindo em seus olhos.
— Porque o escuro é tudo o que eu conheci.
As palavras dele eram frias, mas não pareciam vazias. Havia uma profundidade nelas que tocou Kiyomi de um jeito que ela não esperava. Ela deu um passo à frente, mais perto dele, sua voz quase um sussurro.
— Talvez o escuro seja onde a gente se encontra, então.
Gaara virou-se para olhá-la, surpreso com a resposta. Por um breve momento, seus olhos se suavizaram, como se a frieza que ele carregava tivesse cedido diante da sinceridade de Kiyomi.
— Talvez.
Os dois ficaram ali por mais alguns minutos, apenas observando o riacho. Kiyomi sentia algo estranho em seu peito, algo que ela nunca havia sentido antes. Não era apenas uma conexão; era algo mais profundo, algo que a fazia se sentir vista.
Quando Gaara finalmente se afastou, ele olhou para ela uma última vez.
— Espero que sobreviva ao que quer que esteja enfrentando, Kiyomi.
Ela sorriu levemente, um gesto raro.
— Espero o mesmo para você, Gaara.
Enquanto ele desaparecia na escuridão, Kiyomi sentiu que aquele encontro havia mudado algo dentro dela. Pela primeira vez, não se sentia completamente sozinha no peso que carregava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Kiyomi Uchiha: O Segredo do Clã.
FanfictionEm uma ensolarada tarde de julho, o clã Uchiha estava em festa, celebrando o nascimento dos gêmeos Sasuke e Kiyomi. Mikoto Uchiha estava radiante, mas sua alegria foi rapidamente ofuscada por uma terrível descoberta: Kiyomi sofria de graves problema...