Olhos que me Perseguem

Os Diários

Damian

O sol da tarde invadia o ginásio vazio da St. Clair High.
Eu estou sentado no banco da quadra, meus dedos deslizando pelas páginas de um caderno preto. Esse não era um caderno comum de anotações escolares. Era o meu diário. E nas páginas daquele caderno estavam os segredos que eu guardava sobre Raven - desde pequenos detalhes aparentemente insignificantes até observações que jamais admitiria em voz alta.

Eu registrava tudo. O cheiro cítrico que ela exalava ao passar pelos corredores.
A maneira como ela enrolava uma mecha de cabelo no dedo enquanto fingia ouvir as aulas.
A cor exata do gloss que ela usava nas quartas-feiras.

Sabia que era obsessivo, mas não me importava. Para mim, aquilo era um estudo, uma tentativa de entender a pessoa que me atraía de uma maneira que ninguém mais conseguia.

Porém, naquele momento, ele não sabia que não estava sozinho.

Raven estava ali. Escondida atrás de uma das pilastras do ginásio, seus olhos fixos em Damian e no caderno que ele parecia manusear com tanta atenção. Ela o havia seguido por puro instinto, curiosa para saber o que ele fazia quando pensava que ninguém estava olhando.

O que ela viu a deixou intrigada.

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Raven

Mais cedo naquele dia, eu havia encontrado algo que não deveria.

Estava no armário de Damian - o bilhete que havia deixado para ele dois dias atrás ainda estava lá, cuidadosamente dobrado. Mas, ao lado dele, havia um pequeno papel com uma lista:

"Raven - coisas que a fazem sorrir"

Não sabia se ficava assustada ou fascinada. O fato de Damian ter uma lista detalhada das coisas que faziam meu sorriso surgir parecia ao mesmo tempo invasivo e... lisonjeiro.

Quando sai do vestiário, tomei a decisão de segui-lo.

E agora, ali estava eu, assistindo-o manusear aquele caderno que, sem dúvida, continha muito mais do que apenas listas.

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Damian fechou o diário e suspirou, guardando-o na mochila. Ele olhou ao redor, sua expressão voltando ao habitual semblante calculado.

- Vai sair daí ou vai continuar se escondendo? - ele disse, sem levantar o tom de voz.

Eu congelei por um segundo. Sabia que deveria ter sido mais cuidadosa.

Respirando fundo, sai de trás da pilastra e caminhei até ele, mantendo o queixo erguido.

- Você é bom - disse, cruzando os braços. - Mas não tão bom assim.

Damian ergueu uma sobrancelha, surpreso por eu não tentar inventar uma desculpa.

- Raven - ele começou, inclinando-se para trás no banco, - o que você quer?

- Quero saber o que tem naquele caderno.

Ele riu, mas foi um som baixo e sem humor. - E por que eu mostraria para você?

- Porque - respondi, aproximando-me dele, - eu já sei que você tem algo sobre mim aí. Vi sua lista no vestiário.

Damian estreitou os olhos.
- Você mexeu nas minhas coisas?

- Não mais do que você mexe na minha vida - retruquei. - Então, acho que estamos quites.

Ele sorriu, mas havia algo desafiador em sua expressão.
- Tudo bem, Raven. Você quer saber o que tem no caderno? Vou mostrar.

Damian abriu a mochila lentamente, tirando o diário preto de dentro.
Ele folheou as páginas por alguns segundos antes de virar o caderno para mim, segurando-o com firmeza.

- Leia - ele disse, os olhos fixos nos meus olhos.

Hesitei, mas peguei o caderno. As palavras escritas ali eram meticulosamente organizadas, como se ele tivesse dedicado horas a cada detalhe.

"Dia 12 de novembro. Raven Carter chegou à escola usando aquele casaco azul que parece grande demais para ela. Provavelmente pertence ao pai ou ao irmão. Ela parecia distraída, mas ainda assim cumprimentou três pessoas no corredor com aquele sorriso automático. O jeito como ela mordeu o lábio enquanto digitava no celular me fez pensar que estava nervosa, talvez discutindo com alguém. Anotação: descobrir com quem ela estava falando."

Senti uma onda de calor subir pelo pescoço enquanto lia.

- Isso é... bizarro - disse finalmente, fechando o caderno e devolvendo-o.

- Bizarro ou fascinante? - Damian perguntou, inclinando-se ligeiramente para mim.

- Você realmente escreve sobre mim todos os dias?

- Não todos - ele admitiu, guardando o caderno novamente na mochila. - Só nos dias em que você faz algo que me chama a atenção. O que, para ser honesto, acontece com frequência.

- Você tem noção do quanto isso é perturbador? - perguntei, mas minha voz não tinha a indignação que eu esperava sentir.

- Você ainda está aqui - ele respondeu, sua voz baixa e controlada.

Eu o encarei, percebendo que ele tinha razão. Havia algo naquele comportamento que deveria repelir, mas que, ao invés disso, me prendia ainda mais.

- Você não tem medo de mim? - Damian perguntou, quebrando o silêncio.

- Deveria?

Ele deu de ombros, mas seu olhar carregava uma intensidade que fez me fez sentir exposta.

- Não sei - ele disse. - Você parece gostar de jogos. E eu sou ótimo em jogar.

Dei um passo para trás, tentando recuperar algum controle da situação.
- Eu não estou jogando com você, Damian.

- Não? - Ele se levantou, fechando a distância entre nós. - Porque parece que está. Desde o dia em que deixou aquele bilhete, você tem testado meus limites.

Eu respirei fundo, tentando não demonstrar o quanto ele me desafiava.

- Talvez eu só quisesse ver até onde você iria - disse, mantendo a compostura.

- Então, aqui está a resposta - Damian disse, inclinando-se um pouco mais perto. - Eu iria aonde você me levasse.

Senti o coração disparar, mas não recuei. Em vez disso, sustentei o olhar dele, percebendo que aquele era um momento de decisão.

- Você é perigoso - disse, mas minha voz não tinha medo.

Damian sorriu, um sorriso lento e cheio de intenções.
- E você gosta disso.

Eu fiquei em silêncio por alguns segundos antes de finalmente me virar para sair. Mas, antes de alcançar a porta, olhei por cima do ombro.

- Isso ainda é um jogo para mim, Damian. E eu sempre ganho.

Damian riu baixinho, cruzando os braços enquanto a observava sair.

- Veremos, Raven - ele murmurou para si mesmo, já planejando sua próxima jogada.

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