Intrusos

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Raven

A semana após o baile foi um caos interno. Desde o beijo no jardim, eu sentia como se estivesse dividida ao meio. Damian não saía da minha cabeça, mas isso não significava que era algo positivo. Na verdade, era uma ameaça constante ao controle que eu tanto prezava.

Na manhã de sexta-feira, abri meu armário e encontrei algo inesperado: um bilhete dobrado, escrito com uma caligrafia familiar.

"Encontre-me no ginásio depois da aula. Preciso falar com você. - D."

Amassando o papel com força, olhei ao redor para garantir que ninguém tivesse visto. Meu coração disparava, mas minha mente gritava que ignorar seria o melhor caminho. Não podia dar a Damian o poder de me desestabilizar mais do que já tinha.

Mas, quando o sinal final tocou, era como se meus pés tivessem vontade própria. Antes que eu percebesse, estava no ginásio. O lugar estava vazio e silencioso, a luz natural entrando pelas janelas altas, criando sombras que dançavam nas paredes. Damian estava lá, sentado na arquibancada, com os cotovelos apoiados nos joelhos e o olhar fixo em mim assim que atravessei a porta.

- Você veio. - Sua voz ecoou, baixa, mas carregada de satisfação. Ele se levantou com a calma que sempre me irritava.

- Por que não falamos no corredor como pessoas normais? - Cruzei os braços, tentando esconder meu desconforto.

- Porque você e eu sabemos que não somos normais - ele respondeu, descendo as arquibancadas com passos lentos, como se quisesse prolongar minha agonia.

Revirei os olhos, recusando-me a deixar que ele percebesse o efeito que suas palavras tinham sobre mim.
- O que você quer, Damian?

Ele parou a poucos passos de mim, os olhos intensos prendendo os meus. Sem dizer nada, tirou algo do bolso.
Uma foto. Peguei sem pensar, e o ar pareceu ser sugado dos meus pulmões.

Era uma imagem minha e de Damian, capturada durante o baile. Estávamos no jardim, no exato momento do beijo. O ângulo era estranho, como se tivesse sido tirada às escondidas.

- De onde você conseguiu isso? - Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia.

- Estava no meu armário esta manhã - ele respondeu, os olhos cravados em mim. - Alguém nos viu. E não sei quem, mas está claro que essa pessoa quer que saibamos disso.

Senti um calafrio percorrer minha espinha, seguido por uma onda de raiva.
- Isso é uma piada? Quem se daria ao trabalho de fazer algo tão... patético?

- Alguém que quer nos expor - ele sugeriu com um tom sério, cruzando os braços. - Ou alguém que quer nos manipular.

Olhei para a foto novamente, meu sangue fervendo. Perder o controle era algo que eu não suportava, e essa situação estava claramente escapando das minhas mãos.

- Então, o que fazemos agora? - perguntei, frustrada.

- Primeiro, ficamos atentos. - Ele deu um passo na minha direção, diminuindo ainda mais a distância entre nós. - E segundo, talvez seja hora de pararmos de fingir que isso aqui não é real.

Levantei os olhos para ele, surpresa.
- Isso não é uma solução, Damian. É exatamente o que essa pessoa quer.

- Ou talvez seja o que você está evitando - ele rebateu, agora a centímetros de mim. - Você acha que consegue esconder o que sente, Raven? Porque, honestamente, você não é tão boa nisso quanto pensa.

- Sério? Você acha que pode me analisar agora? - retruquei, tentando soar firme.

- Eu acho que você está se enganando - ele respondeu, os olhos ardendo com aquela intensidade irritante.

Minha resposta morreu nos meus lábios quando ele segurou meu rosto com ambas as mãos, seu toque firme e quente. Antes que eu pudesse protestar, ele me beijou.

Dessa vez, foi diferente. Não havia hesitação, nenhuma dúvida. Apenas o choque de duas vontades que, por tanto tempo, se evitaram. Minhas mãos encontraram seu peito, pressionando contra ele, mas não para afastá-lo. Era o oposto. Eu estava cedendo, e odiava como isso parecia natural.

- Damian - murmurei contra seus lábios, sem forças para me afastar.

Ele afastou o rosto apenas o suficiente para me encarar. Seus olhos estavam escuros, quase perigosos.
- Diga para eu parar, e eu paro.

Eu não disse nada. Em vez disso, puxei-o de volta, deixando que o beijo falasse por mim.

Ele me pressionou contra a parede do ginásio, suas mãos deslizando para minha cintura, firmes, mas cuidadosas. A força de sua presença era esmagadora, e eu me perdi naquele momento.

Então, um som alto quebrou o silêncio - algo caindo no chão. Damian se afastou imediatamente, os olhos vasculhando o ginásio.

- Alguém está aqui - sussurrei, meu coração batendo tão rápido que era difícil pensar.

Ele assentiu, seus olhos se estreitando.
- Vamos descobrir quem é.

Corri para a direção do barulho, mas tudo que vi foi uma porta lateral balançando suavemente, indicando que alguém havia acabado de sair.

- Isso está ficando fora de controle - murmurei, tentando conter o pânico.

Damian veio até mim, colocando uma mão no meu rosto, o toque surpreendentemente suave.
- Ei. Vamos resolver isso. Seja quem for, vai se arrepender de mexer com a gente.

Eu queria acreditar nele, mas a sensação de ser observada, de ser um peão em um jogo que eu não entendia, era insuportável. Assenti, mais por falta de opções do que por convicção.

- Juntos, Raven - ele disse, seu tom grave e seguro. - Não vamos deixar ninguém controlar isso.

O problema era que, mesmo com suas palavras reconfortantes, a parte mais assustadora era admitir que eu já estava sendo controlada - não por quem quer que fosse o intruso, mas por Damian.

E, no fundo, eu sabia que não queria lutar contra isso.



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