Capítulo 13 - Mago Mostar

5 1 2
                                    

Ondas de gritos e aplausos irrompiam das arquibancadas do Coliseu. Sara acompanhava o entusiasmo da torcida, embora preferisse aplaudir mais e gritar menos. Ao seu lado, Alana mantinha-se mais contida, soltando comentários ocasionais sobre as lutas e batendo palmas somente quando o desafiante entrava e saía da arena.

As gêmeas estavam acomodadas na ala branca, reservada aos fidalgos, que, comportando apenas 10% da capacidade do estádio, encontrava-se tão cheia quanto as alas cinzentas, destinada aos vulgares. Por isso, Sara e Alana estavam rodeadas por fidalgos de todas as idades — crianças de Jardim de Infância, adolescentes de escola fidalga, magos da Academia e auranos.

Camilo não pôde fazer companhia a elas naquela tarde, estava ocupado com a patrulha nas fronteiras do país. Era uma pena, pois sua presença costumava ser fonte de explicações valiosas sobre as magias utilizadas pelos magos e também sobre os desgarrados enfrentados. Sara precisou se contentar com a conversa alheia de um trio de magos atrás dela, que entre uma análise e outra, se perdia em fofocas triviais, como a confissão de que um deles já havia dado uns amassos na maga que, naquele exato momento, duelava contra um ogro de porte médio na arena.

Quando essa mesma maga finalmente derrotou o desgarrado, Manuela, a narradora do Coliseu, anunciou com sua voz retumbante nos alto-falantes que mais uma jovem havia conquistado o título de aurana, provando suas habilidades no uso da aura e sua capacidade de enfrentar os inimigos naturais da espécie neriquiana. E assim, o teste de graduação da Academia prosseguiu, com cada novo participante se tornando um aurano ao eliminar a criatura posta diante dele.

Assistir aquelas lutas inflamava os sonhos de Sara de estudar na Academia, imaginando as incontáveis coisas que aprenderia nela, com a perspectiva de, anos depois, entrar naquela mesma arena como uma maga. Alana, no entanto, nutria devaneios bem diferentes.

— Ai, não aguento mais. Quando é que ele vai entrar? — reclamou a irmã, referindo-se ao amor platônico dela e o principal motivo que levou-a a assistir os testes naquele dia. — Estão guardando ele pro final, só pode.

E foi exatamente como ela previu. Quase às oito da noite, a última luta do dia foi anunciada. O rosto de Juan Mostar surgiu no telão do Coliseu, e os gritos femininos ecoaram pelo estádio, com Alana se juntando à euforia:

— Uuhhh! Gostoooso!

— Alana, menos! — bufou Sara, revirando os olhos, mas contendo um riso diante do entusiasmo da irmã.

— Ah, não enche. Vai dizer que tu não acha ele um gato?

— Não gosto de mostarda — provocou ela, usando o apelido que dera ao rapaz quando queria tirar sarro da obsessão da irmã.

No telão, o mago "Mostarda" exibia seu topete com mechas de cor castanha e de um amarelo claro. O rosto moreno e barbeado, com uma mandíbula bem marcada, combinava com sua estatura alta e musculosa. De fato, eram atributos chamativos, mas poucos atraentes para Sara. Talvez ele simplesmente não fosse o seu tipo, o que a fazia se sentir um tanto deslocada em meio à gritaria ensurdecedora das meninas na arquibancada.

— É só um rostinho bonito. Que gente emocionada — murmurou, mais para si mesma.

Juan Mostar havia se tornando uma sensação entre o público feminino desde sua participação em uma novela. Alana, claro, não perdia um capítulo sequer ao voltar da escola. Sara assistia de vez em quando com ela, mas não via lá muita graça no casal de fidalgos que protagonizava a história. Parecia que todas as jovens fidalgas tinham se apaixonado pelo rapaz — ou pelo menos era o que Alana vivia comentando, já que Sara quase não interagia com adolescentes da sua casta para perceber a magnitude daquela febre midiática.

Universo Aurano: Sara [e] AlanaOnde histórias criam vida. Descubra agora