Primeiros passos... e os primeiros indícios de ciúmes?

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O sol de Piltover penetrava pelas janelas imponentes da Academia. A cidade estava em polvorosa com as recentes descobertas sobre a Hextech. Jayce Talis, aclamado por alguns como visionário e por outros como imprudente, encontrava-se sozinho no laboratório, ajustando os detalhes finais de seu projeto. Ele tinha o talento, o carisma, mas faltava algo... ou alguém.

O som de passos firmes, mas desiguais, ecoou pela sala. Viktor entrou, apoiando-se em sua muleta, como sempre. Seu andar irregular contrastava com sua postura ereta e olhar decidido. Havia algo no jovem engenheiro de Zaun que era ao mesmo tempo imponente e reservado. Ele cumprimentou Jayce com um aceno breve antes de começar a organizar seus instrumentos.

"Você estava errado sobre o condensador," Viktor começou, sem rodeios, ajustando uma das peças que Jayce havia deixado de lado.

Jayce ergueu uma sobrancelha, mais surpreso do que ofendido. "Errado? Eu diria que era uma abordagem... experimental."

"Uma abordagem que teria explodido metade do laboratório," Viktor retrucou, sua voz carregada de sarcasmo seco. Ele depositou a peça no banco de trabalho com precisão quase cirúrgica.

Jayce observou o movimento com atenção. Havia algo fascinante em Viktor, uma dedicação inabalável que o tornava diferente de todos na Academia. Ao mesmo tempo, havia uma barreira que Jayce nunca conseguia atravessar.

"Bom, é por isso que eu tenho você, não é?" Jayce respondeu com um sorriso, tentando suavizar o momento.

Viktor parou por um instante, seus olhos dourados brilhando sob a luz fluorescente. "Talvez você devesse me ouvir com mais frequência, então."

Jayce riu, mas por dentro sentiu o peso daquela frase. Ele sabia que Viktor estava certo. O engenheiro de Zaun parecia sempre enxergar além do que ele mesmo podia ver. Era essa visão que o atraía para Viktor, ainda que ele nunca admitisse.

As semanas passaram rapidamente, os dois trabalhando lado a lado em um frenesi de ideias, esboços e experimentos. Enquanto Jayce era impulsivo, muitas vezes deixando-se levar pela paixão de seus projetos, Viktor era metódico, sempre equilibrando a visão grandiosa de Jayce com sua lógica fria.

Um dia, Viktor apareceu mais tarde do que o habitual. Sua respiração estava pesada, e suas mãos tremiam levemente enquanto ele ajustava sua muleta. Jayce percebeu, mas não disse nada.

"Você está bem?" perguntou finalmente, sem encará-lo diretamente.

"Estou aqui, não estou?" Viktor respondeu de forma evasiva, apoiando-se na mesa para aliviar o peso de sua perna.

Jayce hesitou. Ele queria insistir, queria perguntar mais, mas conhecia Viktor o suficiente para saber que ele não aceitava caridade, nem mesmo empatia. Ainda assim, algo dentro dele doía ao ver seu parceiro forçando-se tanto.

"Podemos dividir a tarefa de hoje," Jayce sugeriu, tentando soar casual.

"Eu consigo lidar com isso," Viktor respondeu rapidamente, sua voz cortante, mas não hostil.

Jayce suspirou, balançando a cabeça. "Você é mais teimoso do que eu, sabia?"

"Alguém precisa ser," Viktor retrucou, e por um breve momento, um sorriso quase imperceptível curvou seus lábios.
Um Momento de Vulnerabilidade

Mais tarde naquela noite, enquanto Jayce revisava alguns cálculos, Viktor se aproximou, suas mãos segurando um protótipo com a delicadeza de quem carrega algo precioso. Ele colocou o objeto na mesa e, pela primeira vez, pareceu hesitar.

"Você acredita que podemos mudar o mundo, Jayce?" Viktor perguntou, sua voz baixa, quase como um murmúrio.

Jayce olhou para ele, surpreso. Não era comum Viktor iniciar conversas tão pessoais. Ele pensou por um momento antes de responder. "Eu acredito que nós podemos." Ele dava um ênfase no "nos"

Viktor ergueu os olhos, e por um breve instante, havia algo ali - uma vulnerabilidade que ele raramente deixava transparecer. Mas tão rápido quanto veio, desapareceu. Ele desviou o olhar, voltando sua atenção ao protótipo.

"Então, é melhor não desperdiçarmos tempo," Viktor disse, encerrando a conversa.

Jayce sabia que havia algo mais. Algo que Viktor não dizia, mas que estava presente em cada gesto, cada palavra. Ele queria entender, queria se aproximar, mas sentia que havia uma barreira que talvez nunca fosse capaz de atravessar.

Quebra de tempo, em uma outra noite

A noite em Piltover caía com sua habitual calma imperturbável, mas o laboratório estava longe de ser tranquilo. O som das ferramentas de metal e a batida constante das teclas ecoavam na vastidão da sala de trabalho. Jayce estava de costas para Viktor, completamente absorto em seus cálculos e experimentos. Porém, mesmo em sua concentração, ele não podia deixar de perceber o silêncio mais profundo que pairava entre ele e Viktor. Algo estava diferente, mas ele não sabia o que era exatamente.

A porta do laboratório se abriu com um rangido suave. Mel, a diplomata inteligente e encantadora de Piltover, entrou com sua postura graciosa. O sorriso dela sempre teve um efeito sobre Jayce, como se ele fosse um aluno ansioso por aprovação. Ela estava impecável, como sempre, e, ao vê-la, uma sombra de desconforto passou pelo rosto de Viktor. Ele disfarçou rapidamente, mas Jayce percebeu o gesto. Não era apenas o cansaço que o afetava, mas algo mais profundo.

"Jayce, preciso discutir um assunto com você," Mel disse, com a mesma suavidade que usava sempre. Ela olhou brevemente para Viktor antes de focar em Jayce. "Temos uma reunião importante com os líderes de Piltover. Eles estão... mais interessados no Hextech do que nunca."

Jayce se virou, sorrindo para ela. "Claro, Mel. Eu estarei pronto."

Viktor permaneceu em silêncio, seus olhos fixos nas peças que montava mecanicamente. Ele sabia o que estava acontecendo. Mel e Jayce estavam mais próximos do que ele gostava de admitir. Algo no comportamento de Jayce o fazia perceber que a conexão entre os dois era mais do que profissional.

Enquanto Mel e Jayce conversavam sobre os detalhes da reunião, Viktor lutava contra o peso da frustração que lhe consumia. Ele se forçou a manter a cabeça baixa, focando-se no trabalho. Mas a sensação de estar sendo deixado de lado, de ser apenas uma peça no jogo de Jayce, cortava como uma lâmina afiada. A dor de ver Jayce tão... natural com Mel o fazia querer desaparecer.

"Viktor, você vem?" Jayce chamou, interrompendo seus pensamentos. "Estamos indo para a reunião. Preciso de sua ajuda com os últimos ajustes."

Viktor levantou os olhos, tentando esconder a turbulência interna. "Eu não sou... parte dessa reunião," disse ele, a voz mais baixa do que o habitual.

Jayce olhou para ele, seu olhar suavizando por um instante. "Você é mais do que isso, Viktor. Você é a razão pela qual todo esse projeto ainda está de pé."

Mas Viktor não pôde aceitar a sinceridade de Jayce. Ele sabia que o parceiro via mais uma ferramenta nele do que um igual. A ideia de ser um "meio" para o sucesso de Jayce o incomodava profundamente, mas ele nunca poderia dizer isso em voz alta. Ele não queria que Jayce soubesse. Não queria que ele visse as rachaduras em sua fachada.

Mel, percebendo a tensão no ar, sorriu educadamente, mas de maneira distante. "Vamos, Jayce. Não há tempo a perder."

Jayce lançou um olhar a Viktor, que permaneceu imóvel, os olhos fixos na mesa. Sem mais palavras, Jayce se afastou, seguindo Mel para a reunião. Viktor ficou ali, no laboratório vazio, seu olhar perdido na imensidão de sua própria solidão

Além da InovaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora