Aceitando os sentimentos

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Viktor respirava com dificuldade, os olhos fixos nos de Jayce enquanto tentava controlar a tosse. O beijo ainda pairava entre eles como um peso, mas também como uma espécie de alívio — algo que nenhum dos dois sabia como lidar, mas que, de algum modo, parecia inevitável.

"Você... é um tolo," Viktor finalmente murmurou, sua voz enfraquecida e rouca, mas com um tom carregado de sentimentos que ele ainda lutava para nomear. Ele desviou o olhar, tentando se recompor. "Não sabe o que está pedindo, Jayce. Você não entende o que isso significa."

Jayce franziu a testa, segurando Viktor com firmeza enquanto ele balançava ligeiramente, ainda abalado pela fraqueza. "Eu entendo mais do que você pensa, Viktor. Eu entendo que você está se afastando porque acha que está me protegendo, mas... eu não preciso de proteção. O que eu preciso é de você."

Aquelas palavras atingiram Viktor como um golpe. Ele tentou se desvencilhar, mas seu corpo não o obedeceu. O peso da própria fraqueza e das palavras de Jayce o mantinha ancorado naquele momento. Ele apertou a mão contra o peito, sentindo a dor que parecia vir tanto de seu corpo quanto de algo muito mais profundo.

"Você diz isso agora," Viktor respondeu, a amargura mascarando a vulnerabilidade. "Mas, eventualmente, você verá que há limites para... isso. Para mim. Eu sou uma sombra de quem eu era, Jayce. E quando essa sombra desaparecer, tudo o que restará será arrependimento."

Jayce negou com a cabeça, os olhos brilhando com determinação. "Eu não acredito nisso. E mesmo que houvesse algum limite, algum fim... você não percebe, Viktor? Isso não importa para mim. Você importa para mim. Desde o início."

Viktor ficou em silêncio, sua mente trabalhando freneticamente para encontrar uma resposta, uma saída. Mas ele estava cansado — cansado de lutar contra seu corpo, contra o destino e, agora, contra o que sentia por Jayce. Ainda assim, a voz da lógica, de sua própria insegurança, era mais alta.

"Eu não consigo retribuir isso," Viktor disse finalmente, a voz quase um sussurro. "Não da forma que você merece. Não enquanto cada momento meu é consumido por esta maldição."

Jayce se inclinou, segurando o rosto de Viktor com ambas as mãos, forçando-o a olhar para ele. "Eu não estou pedindo perfeição, Viktor. Eu não estou pedindo nada além de você. Mesmo que seja por um dia, por um mês, por um ano... o que quer que você possa dar, eu aceitarei. Porque eu não consigo imaginar passar mais um dia fingindo que não sinto isso."

As palavras de Jayce ecoaram entre eles, e Viktor sentiu algo dentro de si ceder. Pela primeira vez, ele permitiu que a máscara que usava constantemente para afastar as pessoas desmoronasse, mesmo que por um momento. O olhar nos olhos de Jayce era tão sincero, tão desesperado, que Viktor não conseguiu evitar.

"Jayce," ele começou, mas sua voz falhou. Ele respirou fundo, sentindo o peso das emoções e de sua própria fragilidade. "Eu... nunca quis isso. Mas não sei se sou forte o suficiente para deixar você entrar."

Jayce sorriu levemente, um sorriso cheio de ternura e tristeza. "Então deixe que eu seja forte por nós dois."

Viktor o encarou por mais alguns segundos antes de baixar a cabeça, exausto e derrotado. Ele sabia que Jayce não desistiria, e, no fundo, uma parte de si não queria que ele desistisse. Não mais.

Com cuidado, Jayce o ajudou a se sentar novamente, dessa vez no sofá, com movimentos lentos e gentis. "Por favor, Viktor," ele disse suavemente, a voz quase um sussurro. "Me deixe cuidar de você. Me deixe ficar ao seu lado."

Viktor não respondeu, mas a ausência de protestos foi o suficiente para Jayce. Ele sabia que ainda haveria resistência, que Viktor continuaria lutando contra os próprios sentimentos. Mas, por enquanto, o silêncio era o mais próximo de um "sim" que ele poderia esperar.

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