the constellations unite us

VIII

Tweek on

Acordo com o som irritante do meu despertador tocando ao mesmo tempo que o de Marjone. A sinfonia de alarmes parece feita para me enlouquecer ainda mais logo de manhã. Se alguém olhasse para essa situação, talvez perguntasse: "Um garoto dividindo quarto com uma garota? Como assim?". Pois é, mas a explicação é tão ridícula quanto essa escola transfóbica do caralho.

Para eles, Marjone é "um homem e ponto final". Não importa como ela se identifica, não importa quem ela realmente é. Eles não só ignoraram isso, como fizeram questão de colocar o nome morto dela nos registros. Eu fico tremendo só de pensar nisso. É desumano. Como eles conseguem ser tão cruéis e agir como se fosse normal?

Mas, pelo menos, Kenny existe. Ele, sendo o pobre genial que é, fez o que ninguém mais teve coragem: invadiu o sistema da escola e corrigiu o erro. Mudou o nome dela para Marjone Stotch sem nem hesitar. Agora, quando o nome dela aparece nos papéis ou nas listas de chamada, está correto. É uma vitória pequena, mas extremamente importante.

Só que eu não consigo relaxar. Até hoje ninguém descobriu que foi ele, mas a gente vive com o medo constante de que algum professor idiota perceba e tente reverter. Não seria surpresa. Essa escola faz questão de ferrar com a vida de quem não se encaixa no padrão deles.

Marjone, por outro lado, parece não se abalar. Ela é a pessoa mais forte que conheço, mas eu sei que não é fácil para ela. É como se o mundo estivesse constantemente testando a paciência dela, e, apesar de tudo, ela sempre mantém a cabeça erguida. Queria ter metade dessa força.

Com esses pensamentos na cabeça, desligo meu despertador e me levanto. A rotina começa. Mas lá no fundo, uma parte de mim não consegue parar de pensar: quanto tempo vai durar essa paz antes que essa escola transfóbica encontre um jeito de fazer mais merda?

Decido finalmente levantar, ainda meio sonolento. Antes que eu pudesse me arrastar até o banheiro, Marjone surge com duas tintas nas mãos: uma ciano vibrante e outra azul profundo.

— São essas as cores que você vai usar hoje — ela diz com firmeza, jogando as tintas para mim antes que eu pudesse perguntar. Ela sabe como sou indeciso com isso, então sempre acaba escolhendo por mim. Dou um sorriso de canto, meio aliviado por não ter que pensar muito.

Pego as tintas e o pincel, indo direto para o banheiro. Coloco cada cor em potes separados, adiciono creme para facilitar a aplicação e misturo com cuidado até alcançar a textura certa. A ideia já está clara: um cabelo inteiro em ciano com as pontas em azul.

Começo o processo, aplicando a tinta com precisão e paciência. Não é a primeira vez que faço isso, então já desenvolvi uma técnica rápida. Assim que termino, deixo a tinta agindo por alguns minutos enquanto aproveito para tomar um banho quente. A água ajuda a aliviar a tensão acumulada, e o vapor toma conta do banheiro. Enxáguo o cabelo com cuidado, retirando o excesso de tinta até que a água saia limpa.

Saio do chuveiro, pego uma roupa que combina comigo e me visto. Depois, seco o cabelo com cuidado, me certificando de que as cores ficaram exatamente como eu queria. Quando finalmente tiro o vapor que embaça o espelho, encaro o resultado: ciano vibrante com as pontas azuis, destacando cada fio.

— Nova cor, novo dia — murmuro para mim mesmo, quase como um mantra, enquanto dou uma última ajeitada nos cabelos.

Me sinto pronto. Um dia com desafios e absurdos me espera, mas pelo menos minha aparência está no ponto. E, sinceramente, pintar o cabelo é uma das poucas coisas que realmente me dão um respiro em meio a esse caos.

Saio do banheiro sentindo o vapor quente do banho ainda pairando no ar. Marjone estava sentada na cama, ajeitando o cabelo curto com a precisão de alguém que sabe como quer ser vista. Mesmo que ela seja completamente diferente quando está com o grupo da escola — mais reservada, quase fechada —, aqui, no quarto, ela é um amor de pessoa. A gentileza dela é algo que realmente admiro.