Que casa enorme! Julian havia acabado de estacionar o carro em frente à casa onde meu pai mora e ficamos muito impressionados com o tamanho daquele lugar. Era uma casa típica americana, mas era muito grande e estava toda decorada para o Natal. Só de me lembrar que ele deve passar todos os natais com os filhos e com a esposa, certamente com aqueles pijamas natalinos, trocando presentes e se entupindo de comida, me deixava com muito ciúmes. Todo esse tempo em que eu passei sozinha durante a minha vida inteira me fez ter outra visão sobre o Natal.
O que eu ganho com isso? Qual o sentido de decorar a casa inteira, preparar uma mesa farta de comidas, gastar muito dinheiro em presentes que depois de semanas vão ser esquecidos e jogados em um canto da casa? Nenhum. Em vez disso, prefiro investir em cestas básicas para alimentar famílias que não tem condições para comprar alimentos, comprar presentes baratinhos em grande quantidade e enviar para orfanatos e eixar minha casa do jeito que ela está, sem muita cor.
Olhei para Julian, que parecia estar mais nervoso que eu, e resolvi conversar um pouco antes de fazer qualquer coisa.
— Não precisa ficar preocupado, vou ficar bem. — Falei tentando o tranquilizar, embora soubesse que não adiantaria em nada.
— Eu sei, mas não consigo deixar de ficar nervoso e preocupado. — Ele pareceu estar pensativo. — Faz o seguinte, vou te ligar e você tira todo o volume do seu celular, deixando com que eu escute tudo o que vocês estão conversando. Se ele tentar alguma coisa, grita có, que eu vou correndo invadir essa propriedade.
— Hmm, grande plano infalível. — Ri dele, mas obedeci. Conheço o Julian muito bem pra saber que ele não ficaria tranquilo se eu não fizesse o que ele sugeriu. — Acho que vou até lá antes que eu perca a coragem. — Falei guardando o celular no bolso e já me preparando para abrir a porta do carro.
— Se cuida. — Ele disse enquanto me olhava sair do carro.
— Pode deixar. — Fechei a porta do carro e caminhei até a porta da casa do meu pai, de Josh, do homem que me gerou, eu sei lá como devo chamá-lo.
Apertei a campainha e fiquei ali esperando, morrendo de ansiedade. Não imaginava que seria tão difícil pensar em alguma coisa para dizer a ele, embora já tivesse ensaiado muito antes. Ninguém tinha aberto a porta até o momento, o que me fez ficar mais nervosa ainda.
Ouvi alguns sons vindo de dentro da casa mas não consegui distinguir o que era. Pude ouvir alguns barulhos de pessoas conversando, mas também não pude entender o que eles estavam falando. Na dúvida, me virei de costas para a porta e fechei os olhos, na expectativa de ser o meu pai a pessoa que vai abrir a porta. Faria todo um suspense do tipo: Quem é essa pessoa que apertou a campainha?
Infelizmente não demorou muito para que eu ouvisse alguém abrindo a porta e eu me virei, só que claro, dessa vez com os olhos abertos.
Era a esposa dele.
E agora? Ele não comentou nada com ela, ou comentou?
— Boa tarde. O que seria? — Ela deu um sorrisinho simpático.
— Eu quero falar com Josh Avery. — Falei com a voz um pouco trêmula. Eu estava muito nervosa e não sabia ao certo o que ela iria dizer.
— Pode entrar, vou chamar ele. — Ela abriu um pouco mais da porta, de um modo em que eu pudesse entrar. Por dentro a casa era ainda mais bonita, tinha um lustre enorme na sala, os sofás eram muito chiques e até a televisão era enorme. Tudo ali parecia ter saído de um filme de Hollywood em que todos os personagens são podres de ricos.
A casa estava muito arrumada, nem parecia que morava alguém lá dentro. Fiquei ali esperando alguma alma caridosa me avisar do que estava acontecendo, já que em um piscar de olhos a esposa do meu pai desapareceu. Parei em frente ao sofá, balançando os braços de um lado para o outro como se fosse uma criança pequena esperando o pai buscá-la na escola. Era quase isso. Estava esperando meu pai, mas não era na escola, era pra dar a notícia de que minha mãe faleceu e para lembrá-lo que ele tem uma filha, a qual ele queria matar quando ainda estava na barriga da mãe.
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Sussurros de um Amor Natalino
Short StoryOlívia Davis. A melhor fotógrafa da NYMM, linda de morrer, rica até demais, porém, com um humor tenebroso. Olívia é uma das pessoas mais carrancudas que poderia existir. A pobre jovem adulta foi abandonada quando era apenas um bebê e leva esse traum...