Capítulo 03_ ¡Uf, mujeres!

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Ao entrar no meu apartamento, tirei os tênis dos meus pés, tirei todos os casacos grossos que estava vestindo e me atirei no sofá. Como eu estava com tanta saudade desse meu cantinho. Nunca me cansaria de passar o tempo todo aqui. Desde que comecei a trabalhar na NYMM, esse apartamento tem sido meu maior companheiro, pois nunca me mudei.

Depois de ter passado um tempinho no meu celular, fui até a geladeira e me decepcionei, pois não tinha nada para comer. Um pouco contraditória, vesti os casacos novamente e calcei meus tênis. Graças a Deus um abençoado resolveu abrir uma lojinha de conveniência, estilo aquelas coreanas, bem aqui perto, o que facilitava muito no dia-a-dia. 

Peguei o elevador novamente e passei pela portaria do prédio. Não curtia muito passar por essa área, já que geralmente estava sempre cheia de pessoas, mas não tinha o que fazer pois era a única maneira de chegar mais rápido à conveniência. 

Fui andando pelas ruas, que estavam cobertas pela neve, e coloquei uma música no meu fone de ouvido. A vida ficava mais dramática com música, que era o que eu mais gostava. Enquanto andava, observava as pessoas andando na rua. Mais casais felizes, crianças brincando de fazer boneco de neve, idosos se recolhendo e eu ali, indo até a loja de conveniência por quê esqueci de fazer compras para o fim de semana. Quando cheguei na conveniência, entrei, fingi ser simpática ao cumprimentar um atendente e fui até as prateleiras onde tinham marmitas. Eu amava comprar elas e fingir que estava na Coreia do Sul, e tenho que confessar, a comida deles é estranha, mas muito gostosa. 

Após escolher umas besteiras, fui até a geladeira e peguei uma bebida gaseificada de morango e uma de banana. Eram muito boas e eu sempre comprava pra passar o fim de semana beliscando algo. Para evitar ter que sair de casa no sábado ou no domingo, comprei tudo o que achei que iria consumir e fui até o caixa. Estava quase pagando quando uma voz atrás de mim me fez ficar curiosa.

— Eu não acredito que ainda não depositaram o restante na minha conta! — Me virei descretamente e dei de cara com um homem que estava em uma ligação. Sua pele era clara, os cabelos bem pretos, os olhos azuis e o rosto estava rosado, certamente por causa do frio. Mesmo tendo uma aparência, digamos ok, ele parecia muito chato. Mais chato do que eu.

Fingi que não tinha escutado nada e continuei esperando o atendente terminar de passar as minhas compras pra que eu possa pagar e ir embora logo. Para minha infelicidade, aquele homem continuava falando com alguém pelo telefone e eu estava começando a me irritar.

— Eles pensam que eu sou o que? Um simples modelo que se encontra em qualquer esquina? Cara, eu sou Daniel Miller, um dos melhores modelos do momento. Você tem noção de que eu estou em Nova York para participar de um projeto com a melhor agência de modelos? Eu não sou um qualquer. — Ele fez uma pausa, certamente ouvindo o que a pessoa do outro lado da linha tinha a dizer. Quando estava pagando, quase me preparando pra sair, ele começou a falar alguma coisa em espanhol, mas que pude entender rapidamente. — Espera un momento, estoy aquí en una tienda de comestibles y hay una morena muy caliente frente a mí. De vez en cuando me mira, pero tiene cara hostil. ¡Uf, mujeres!

— Escuta aqui, ô palhaço! — Me virei e o encarei. Certamente ele não contava que eu era poliglota. Eu não tinha nada pra fazer quando era criança, então estudei espanhol, francês e italiano. Quando comecei a faculdade, paguei um curso para me especializar melhor nos idiomas, então hoje eu já sou fluente. — Eu entendi o que você falou!

— Que bom? — Ele deu um sorriso convencido, o que me irritou cada vez mais.

— É bom você ficar esperto, cara. Isso é assédio! — Falei séria. Se eu pudesse eu quebrava a cara dele no soco de um modo que ele nunca se esqueceria de mim.

— Acalma o coração, lindeza! — Ele falou ainda com o celular na orelha.

— Nem vou discutir mais com você, mas saiba que se eu quiser posso te denunciar agora mesmo! — Minha ameaça não resultou em nada, pois ele apenas deu de ombros e voltou a falar no celular.

Peguei as sacolas e saí apressadamente pela porta. Não suportaria ficar mais nenhum segundo perto daquele idiota. Comecei a caminhar até o meu apartamento e só parei quando cheguei na portaria do prédio. Nem me pagando eu iria caminhando lentamente e correr o risco de ser agarrada por ele. Se foi capaz de falar, também é capaz de fazer! 

Entrei no meu apartamento e guardei as comidas. Aproveitando que estava na cozinha, comecei a limpar e organizar tudo. Preferia fazer tudo hoje e não fazer nada no fim de semana do que não ficar fazendo nada hoje mas ter um monte de coisa para ocupar meu fim de semana.

Assim que terminei, já havia escurecido, então tomei um banho rápido e voltei para o sofá, dessa vez com meu notebook nas mãos, pronta para assistir minha série conforto. Se eu pudesse, assitia Reacher todos os dias. É impressionante o modo como os personagens são inteligentes e conseguem desvendar as pistas que nunca passariam pela cabeça de uma pessoa comum, como eu.

Enquanto assistia a série estava abrindo um pacote de balas de goma que estavam me fazendo salivar. Comecei a devorar e quando vi, já tinha comido o pacote inteiro. Depois que terminei de comer, pausei a série e me levantei, indo em direção ao meu quarto. Tinha esquecido de arrumar minha cama durante o meio-dia, então tinha que arrumar agora. Hoje seria um dia do qual eu passaria o tempo inteiro assistindo a série e não fazendo nada. E como eu amava não fazer nada.

Após ter voltado para a sala com uma coberta nas mãos, comecei a ouvir alguém conversando no corredor. Era uma conversa muito alta, mas eu não conseguia entender o que estavam querendo dizer. Fiz a sonsa e continuei assistindo a Reacher. Eu amava a primeira temporada, mas na segunda temporada eles estragaram tudo. Nada haver trocar aquela loirinha que era bem gente boa por aquela morena abusada. Ah, se eu escrevesse roteiros!

Por incrível que pareça, a conversa no corredor não parava mais e eu não estava conseguindo mais me concentrar no que os personagens estavam falando e fazendo. Me levantei do sofá e pausei a série. Quem quer que esteja falando no corredor, vai ter que ouvir muito! 

Quando abri a porta, nem esperei pra analisar a pessoa, apenas vi que era um homem bem alto e comecei a falar, tentando ser o mais educada possível. 

— Com licença. Estou tentando assist… — Assim que ele olhou para mim, certamente procurando de onde vinha aquela voz, ele parou de falar e eu também.

— Olha, o destino quer que eu fique perto de você. — O homem que estava no mercado à algumas horas falou. Mas não é possível que eu não vou ter paz nem mesmo no prédio onde eu moro. Mais um motivo pra mim não sair do meu apartamento.

— Não existe destino. E se você está me seguindo, pode esquecer. Eu chamo a polícia agora mesmo!  — Falei séria, com o cenho franzido. 

— Não estou te seguindo, apenas comprei o apartamento aqui do lado, queridinha. — Ele falou convencido. Idiota!

— Então faça silêncio! Ninguém aqui é obrigado a te ouvir dando chilique. — Falei enquanto me aproximava mais da minha porta. Qualquer coisa que ele tentasse fazer eu simplesmente corria pra dentro e me trancava. Infelizmente aqui nos Estados Unidos é bem comum ter bastante louco. Principalmente aqui em Nova York, que é bem movimentado.

— Ui, nervosa. Não vou fazer mais barulho. — Ele levantou as duas mãos, como se eu fosse uma policial. Quem me dera se eu fosse.

— Acho bom. — Me virei de costas pra ele e fui entrando no meu apartamento, mas pelo visto ele não queria me deixar em paz.

— Ainda não sei seu nome. — Ele perguntou enquanto se aproximava mais de mim, o que estava me incomodando muito.

— Se depender de mim não vai saber nunca. — Falei enquanto fechava a porta na cara dele.

— Não se preocupe, eu encontro o seu Instagram rapidinho. — Percebi pela voz dele que estava se afastando da porta do meu apartamento. Voltei para o meu sofá e nem consegui assistir mais a série. Liguei para a portaria e pedi para o Mr. James, o porteiro e responsável pelas câmeras, para ficar sempre de olho no meu corredor por que eu estava tendo problemas com o vizinho. Contei pra ele sobre a cena na loja de conveniência e ele me tranquilizou dizendo que não ia permitir que nada acontecesse comigo.

Ainda bem que eu tinha o Mr. James.

Continua...

Sussurros de um Amor NatalinoOnde histórias criam vida. Descubra agora