Capítulo 13_ O que você quer?

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Saí do elevador o mais rápido possível. Estava morrendo de vergonha e não suportaria olhar nos olhos dele de novo. Não acredito que eu falei aquelas palavras horrorosas enquanto a mãe dele está no hospital! Eu sou uma pessoa muito ruim! E insensível! Mas ás vezes sou sensata, juro.

Entrei no meu apartamento e nem fiquei muito tempo na sala, fui até o meu quarto, peguei uma toalha e um roupão e corri até o banheiro. Precisava de um banho quente o mais urgente possível. Além de fazer com que eu me sinta melhor, um banho quente me ajuda a organizar minhas ideias, meus pensamentos e tudo o que eu preciso fazer. Por mais que eu seja muito orgulhosa, sei que devo pedir desculpas para Dan. Não, Daniel Miller!

Na minha cabeça ele não havia ido por um motivo fútil! Nunca imaginaria que a mãe dele estaria com câncer! E se eu soubesse, nunca teria dito aquelas palavras horríveis. Sou idiota, isso eu sei, mas, por incrível que pareça, eu sei o que devo ou não dizer.

Enquanto sentia a água quente batendo no meu corpo, estava pensando na minha vida. Tudo o que eu mais queria era poder ser uma mulher esperançosa, simpática, querida pelas pessoas, mas eu não consigo. Tudo o que aconteceu comigo, quando meus pais me abandonaram, quando meu coração foi partido, quando tive que lidar com tudo sozinha. Eu preferia mil vezes esquecer de tudo o que eu passei, mas é impossível. Tenho a sensação de que todos estão contra mim, que todos só querem se aproveitar do meu trabalho, do meu dinheiro. Eu queria tanto voltar a ser, voltar a ser uma mulher normal. Uma pessoa melhor, uma pessoa que sabe lidar com os traumas. Mas não consigo, simplesmente não dá.

Já tinha saído do banheiro quando estava sentada na minha cama, com o celular na mão e pensando no que digitaria para Daniel. Eu não fazia ideia do que falar! Na dúvida, resolvi mandar uma mensagem pro Julian, que logo me respondeu.

Olívia

Julian, preciso MUITO da sua ajuda!

Julian

Lá vem... O que foi?

Olívia

Então, digamos que eu discuti com o Daniel e falei algumas coisas que eu não deveria ter dito.

Julian

E o que eu tenho haver com isso?

Olívia

Não sei como conversar com ele. O que eu falo?

Julian

Me conta exatamente o que você disse pra ele.

Olívia

Quando estávamos no elevador, eu perguntei pra ele por quê ele não tinha ido na reunião, e ele me respondeu que teve um imprevisto. Eu, do meu jeito simpática de ser, acabei praticamente o chamando de desocupado.

Julian

Tá, mas ele já sabe como você é. Por que faz questão de pedir desculpas? Você nunca se importa com ele.

Olívia

A questão é que a mãe dele está com câncer. Ele não pode participar da reunião porque teve que buscar ela no aeroporto!

Julian

Caramba! Agora você estragou o que já estava estragado!

Olívia

Obrigada! Me ajudou muito.

Julian

Brincadeira (ou não), mas já comece por um detalhe: fale com ele pessoalmente. Você é vizinha dele, vai no apartamento dele e pede perdão. Fala que você não tinha como imaginar tudo o que estava acontecendo, que sente muito pela mãe dele. Eu não sei ao certo o que diria.

Olívia

Vou dar meu jeito!

Julian

Você consegue!

Ignorei a última mensagem dele e logo vesti uma roupa confortável. Penteei meus cabelos ondulados e fiz uma maquiagem realmente muito simples. Nada que pareça que estou de qualquer jeito, mas também não é nada que pareça que eu me arrumei pra falar com ele. Por que eu não me arrumei!

Saí do meu apartamento e fiquei encarando o corredor vazio e silencioso. Eu estava sendo muito rude com as pessoas ultimamente. Pessoas que não tem nada haver com o meu sofrimento, com a minha vida e muito menos com os traumas que tive graças à minha infância e a minha adolescência perturbada.

Criei coragem e parei em frente à porta do apartamento de Daniel, que pelo visto estava muito silencioso. Será que estava dormindo? Será que estava ocupado? Será que eu seria um incômodo? Certamente eu seria um incômodo, não preciso nem perguntar isso, principalmente depois do que eu falei pra ele.

Bati na porta.

Uma vez.

Segunda vez.

Mais uma. E outra. E nada.

Estava quase voltando para o meu apartamento quando ouvi uma porta se abrindo. Que legal, devo ter acordado ele!

— O que você quer? — A voz dele tomou conta do ambiente silencioso. Quando me virei e olhei para ele, percebi que os cabelos estavam molhados. Ele estava no banho. E eu atrapalhei.

Parabéns, Olívia! Você só sabe estragar as coisas!

Continua...

Sussurros de um Amor NatalinoOnde histórias criam vida. Descubra agora