CAPÍTULO V

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7. Parte da história ainda não conhecida.



Já era metade do mês de Dezembro, e já havia encerrado o período de aulas da faculdade. Naquele domingo tudo ia bem, apesar do susto que Júlia havia passado. Estavam terminando de limpar a casa, tudo estava organizado, quando Beatriz vira-se e pergunta:


_Júlia, eu nem me lembrei! Você não ligou pra sua mãe! Por que não pediu o celular¿


_ Eu não tenho mãe.


Nessa hora um silêncio se propaga no ar...


_Nossa! Por que nunca me disse¿


_Essa é uma longa história. Minha mãe se envolveu com um traficante, e, quando eu estava com oito meses ele foi preso. Ela vivia com a minha avó, e foi quando isso aconteceu que colocou em sua cabeça que iria comandar o tráfico no lugar dele só pra fazer justiça, não demorou muito pra que ela tivesse um fim. Em um confronto com a polícia, ela perdeu a vida a caminho do hospital e aí que fiquei sabendo que ela estava grávida, mas, não se a criança sobreviveu. Hoje moro com minha avó, mas ela não dá a mínima pra mim, vive me dizendo que minha mãe só deixou problema pra ela e porque eu tive que nascer. O que me mantém de pé é a igreja, aonde sempre vou e eles me acolhem muito bem. E se eu não tivesse conhecido Deus não sei o que seria da minha vida, e você que tenho como grande amiga.


Beatriz fica perplexa olhando e imaginando a situação, e se lembrando das muitas vezes que se achou tão desamparada. Júlia não conhecia nem os pais e muito menos o amor que eles poderiam oferecer.


_Eu estou sem palavras diante de tudo o que ouvi. Mas, por que não me contou tudo isso antes¿ eu poderia ter lhe ajudado a mais tempo! eu moro sozinha e não seria mau se você viesse morar aqui! Bem, se quiser ainda pode vir morar comigo. Você não merece passar por tudo isso! Então o que acha¿


_Você deixaria¿ Nossa! Não esperava uma surpresa dessas! Mas não quero voltar lá, minha avó me mata se eu disser isso! Apesar de ela achar uma boa ideia.


_Não precisa voltar, pode ficar! Vou providenciar tudo pra você!


Assim voltaram á faxina.


Durante o dia todo Beatriz se perguntava: Mas porque uma mãe faria algo tão monstruoso assim¿!Já era noite e Beatriz ainda não havia encontrado uma resposta para tal barbaridade. Conforme as horas iam passando outros assuntos iam aparecendo até que ela se esqueceu.


Já eram sete horas e Beatriz terminava de preparar o jantar. Como tradição da família, as refeições eram servidas nos horários pré-determinados por eles mesmos, isso gerava uma situação de organização. Apesar da vida corrida de Beatriz, ela fazia de tudo para manter uma vida cronologicamente regrada.


Após o jantar, resolveram subir até a laje da casa para conversarem. Lá de cima elas contemplavam uma bela vista da cidade maravilhosa que com tantas luzes enfeitavam suas ruas. Júlia ainda com receio de sair da casa aceita o convite quando percebe os encantos de morar em uma cidade tão linda apesar da violência que persistia em cada canto. Dali não se conseguia avistar a sua casa, mas ainda pensava na proposta de se mudar para casa de Beatriz. Uma hora teria que decidir, afinal já não sabia nem mais sonhar diante de tantos problemas.


Desceram dali e logo foram pra dentro da casa. Enquanto Beatriz preparava as roupas de cama para dormirem, Júlia foi fazer sua oração, o que deixava Beatriz curiosa em saber de onde ela tirava tanta força e fé.

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