4. O medo
Havia começado a chover quando Júlia apavorada senta-se no chão da sala e, Beatriz olha perplexa e não acredita no que vê! Ainda com muito medo, o que se notava em seus olhos, Júlia estava com marcas escuras nos braços e no rosto, suas roupas estavam rasgadas e molhadas.
_ Júlia, o que aconteceu, meu Deus?!
_ Beatriz feche a porta logo, por favor!
_ Mas me diga o que aconteceu?
Beatriz se afasta e fecha a porta.
_ Tentaram me assaltar! Era por volta de cinco horas da tarde quando eu estava a caminho de casa e três homens me renderam pedindo tudo de valor! Eu disse que não tinha mais nada além do celular e o cartão de passagem e os cadernos de estudos. Perguntaram meu nome e eu disse, perguntaram meu sobrenome e eu respondi: Freitas. Quando ouviram isso ficaram xingando e me interrogaram por alguns minutos me perguntando se havia algum parente meu que era policial. Eu estava desesperada e respondi que não. Enquanto eles conversavam entre si eu pedia a Deus para me proteger. Quando um deles se voltou para mim e me disse para entrar no carro. Me levaram para uma casa no morro da Rocinha me parece, e lá colocaram um pano em minha boca, amarraram minhas mãos e me deixaram por algumas horas sozinha. O lugar era sombrio, havia só um fogão a gás, uma geladeira e uma mesa com duas cadeiras. Quando pelas dez horas da noite eu ouvi um estrondo do lado de fora e, alguém caminhava na direção da porta. Percebi que era um policial! Tentei gritar mas nada e, quando pensei que era a minha salvação, um outro policial o avisou que havia acabado de assaltar uma loja ali perto. Comecei a chorar e pedir a Deus que tivesse misericórdia de mim.
Já era quase onze e meia da noite quando pelos raios da luz vindo dos postes da rua percebi uma faca debaixo da mesa. Fui me arrastando até conseguir que meus pés pegassem a faca, e com agilidade a peguei com a mão e consegui cortar as cordas e retirar os panos da boca. Ao olhar pelo vão da porta percebi que não havia ninguém na rua, então a abri devagar e saí andando com um medo que me deixava trêmula a ponto de não conseguir correr. Quando passei em frente a uma viela percebi que haviam dois homens se drogando então corri mesmo sem saber a direção, entrei em meio ao matagal, onde me machuquei e rasguei minhas roupas. Ao sair em outra rua percebi que não havia mais ninguém atrás de mim e também avistei a torre dessa igreja aqui perto da sua casa. Vim correndo com muito medo que eles voltassem a aparecer até que achei sua casa.
Júlia chora baixinho e entre as lágrimas diz:
_ Foi horrível! Graças a Deus que achei sua casa!
_ Nossa! Meu Deus, você foi muito forte e corajosa! Mas graças a Deus que tudo passou amiga. Agora você está bem e em segurança.
_Venha!
Beatriz a chama para a cozinha e logo prepara um chá. Enquanto Júlia toma o chá, Beatriz vai até seu quarto, abre o guarda-roupa e traz algumas peças de roupa.
_ Júlia tome um banho antes que você pegue um resfriado.
Já eram quase duas horas da manhã e Beatriz conversava com Júlia a fim de confortá-la de todo aquele pesadelo, então resolveram ir dormir.5. Domingo de folga
Eram sete horas da manha e o sol já raiava quando Beatriz se levantou. Foi até o quarto onde Júlia havia dormido. Ela ainda estava dormindo e Beatriz a deixou descansar depois de uma noite tão turbulenta. Foi até a cozinha preparar o café como de costume, mas, antes foi tomar um banho já que as noites de verão no Rio eram bastante quentes. Depois do banho, voltou à cozinha para preparar o café, colocou a água para ferver e ascendeu o fogão, já velho e gasto pelo tempo. Enquanto a água fervia foi à padaria do Sr. João, um senhor já com a idade avançada que viera de Portugal com os pais na época da segunda guerra mundial que afligiu a Europa.
Quando chegou em casa percebeu que Júlia já estava de pé e sentada na cadeira junto a mesa.
_ Bom dia, como foi sua noite¿
_ Não foi fácil dormir, ainda sinto medo.
_É, compreendo.
_ Foi passando as horas e o cansaço me venceu e eu acabei dormindo. Se me permite, não quero voltar para casa hoje.
_ tudo bem, pode ficar o tempo que precisar. Hoje vamos ter um dia diferente. Vamos à praia!
Júlia olha com os olhos de quem não quer sair para Beatriz:
_ Me desculpe, mas não quero sair hoje. Posso ficar aqui enquanto você for?
_Claro, ou seja, melhor ainda, vamos aproveitar para descansar!
_Se quiser, pode ir. Não quero atrapalhar.
_ Não vai atrapalhar. Vou aproveitar para dar uma faxina na casa.
_Tudo bem. Se importa que eu a ajude?
_ Claro que não! _ Beatriz sorri e termina de fazer o café.
Elas aproveitam a manha para conversar e esquecer o que se passou.
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Coicidências
RomanceBeatriz leva uma vida tranquila,apesar de morar sozinha. Mas tudo muda depois que Júlia,sua amiga, aparece tarde da noite em sua casa toda molhada e com ferimentos. A história também se passa numa cidadezinha no interior de Minas Gerais.Guilherme mo...