POV HARRY
- Noite do baile, no quarto -
- Sir Harry, viu o meu sapato?
Demorei alguns segundos a perceber de quem se tratava: desde o cheiro intenso a álcool até à roupa provocante, nada disso indicava que poderia tratar-se da Milles que conheci nos últimos dias.
- Cindy?! - Exclamei, em choque.
- Harry, perdi o meu sapato! - Choramingou contra o meu peito, sem aliviar a pressão com que me agarrava.
- Cindy, como é que ficaste assim?! - Perguntei inutilmente, sabendo que a probabilidade de receber uma resposta com sentido era mínima.
- A Fada Madrinha deu-me Seven Up. - Justificou ela, afastando-se lentamente de mim e erguendo o rosto. Um sorriso quase infantil desenhou-se nos seus lábios, exibindo vaidosamente a maquilhagem, que lhe dá um muito mais adulto e atraente. Embora não tenha nada a apontar a uma Milles-ao-natural, tenho de admitir que esta é bastante fascinante. A maquilhagem dá-lhe um ar misterioso e selvagem, quase perigoso, e isso agrada-me mais do que deveria.
- Seven Up? - Perguntei, ainda atordoado, tentando afastar alguns pensamentos mais impróprios.
- Seven Up. - Confirmou, entrando aos tropeções para dentro do quarto. - Dá-me licença?
E antes de eu responder atirou-se sobre a cama, agitando os braços e as pernas como os anjos de neve. O elástico que lhe prendia o cabelo soltou-se nesse momento, e os cabelos loiros espalharam-se rebeldes sobre a cama.
Raios. Como é suposto lidar com isto?!
- Hmm Milles... Cindy, o Liam sabe que estás... nesta condição? - Perguntei, esfregando o cabelo num gesto nervoso.
Ela riu às gargalhadas e levantou-se de repente, cambaleando para os meus braços. O seu rosto aproximou-se perigosamente do meu e eu sustive a respiração por uns segundos.
Os olhos dela parecem infinitos, perigosos, imprevisíveis...como o mar.
- Que condição? - Perguntou ela, sorrindo divertida e aproximando-se ainda mais. Consigo sentir a sua respiração irregular contra os meus lábios e posso garantir com certeza que é vodka e não Seven up.
- Estás tão bêbeda, Milles. - Sussurrei, preparando-me para a beijar.
E depois tudo aconteceu muito rápido: senti-me ser empurrado violentamente para trás, e uma dor lancinante no olho informou-me que alguém me havia mandado um valente soco. Por momentos pensei que tivesse sido o Liam ou Mr. Lornne, mas foi com surpresa que me apercebi que havia sido mesmo ela a autora da proeza.
- Fod*-se, Milles, que foi isto?! - Protestei, cobrindo com a mão a parte do rosto dormente.
- Eu não estou bêbeda, Sir Harry, com que desplante afirma uma coisa tão rude de uma senhora da sociedaaaaaa... - Enquanto falava tropeçou na caixa de ferramentas que eu havia deixado aberta antes de adormecer e caiu redonda no chão, fazendo-me rir.
- Sua parva. - Brinquei, ajudando-a a levantar. - Estás bem?
Ela afastou o braço bruscamente, amuada.
- Estou em perfeitas condições. - Respondeu orgulhosamente, tentando levantar-se sem ajuda. - Se me dá licença vou procurar o meu sapato roubado.
Reprimi uma gargalhada e suspirei, ajudando-a a levantar mesmo contra vontade dela. Sinto a parte debaixo do meu olho direito a latejar e faço uma nota mental - isto tem graça, nas circunstâncias - para não esquecer de pôr gelo.
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(Un)forgettable
Teen Fiction"Dizem que quem conta um conto acrescenta um ponto. Mesmo as vossas memórias, não são mais do que aquilo que escolheram lembrar de um passado que nunca será recordado exatamente como aconteceu. Mas comigo é diferente: o meu nome é Harry e eu não acr...