Capítulo 24;

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Pov Harry

Abri lentamente os olhos e pisquei-os algumas vezes, procurando ambientar-me à luminosidade que entrava pela janela. Demorei uns segundos a perceber onde me encontrava, mas assim que detive o olhar na decoração principesca do quarto, as memórias disparam a uma velocidade estonteante. Parece que durante esta viagem perdi a noção do tempo, mas é sem esforço que recordo que estamos precisamente a 7 de Fevereiro de 1996, a um dia do evento que me arrastou nesta aventura: a convenção das máquinas de flippers. É com alguma tristeza que imagino o Paki e a Thirteen a dançarem ao som dos Beach Boys, mas logo afasto esses pensamentos mais melancólicos.

Nos últimos dias as dores de cabeça têm-se tornado quase insuportáveis devido ao volume de nova informação que estou a reter por dia. Deixo-me ficar alguns minutos deitado na cama, contemplando a paisagem que se estende para lá da janela, enquanto a velocidade dos meus pensamentos vai abrandando.

Quando me sinto mais calmo, levanto-me lentamente e dispenso quinze minutos num banho relaxante. Sei que tenho mil e uma coisas a ocupar-me o pensamento, mas concentro-me em limpar a mente por uns momentos antes de me lançar de cabeça na tarefa complicada de ajudar Joseph a encontrar a neta.

Ainda não encontrei um argumento plausível para justificar esta decisão: não consigo explicar, nem para mim mesmo, o facto de estar a quilómetros de casa a ajudar um desconhecido a desvendar o paradeiro da igualmente desconhecida neta dele, e isso deixa-me desconfortável, como todas as coisas que não entendo. Nunca me considerei uma pessoa particularmente altruísta, pelo simples facto de achar que não existe ajuda desinteressada, e ao estar a fazer algo que não me traz qualquer vantagem acrescida só prova que devo estar cada vez mais próximo de perder o juízo.

Depois de vestir a mesma roupa do dia anterior abandonei o quarto, e estava a descer as escadas, quando uma melodia harmoniosa me travou a meio do caminho. Aventurei-me a descer mais um pouco, observando ao longe o velho curvado sobre um piano de cauda, deslizando agilmente os dedos enrugados sobre as teclas.

Nunca antes havia ouvido aquela música, e sentei-me silenciosamente num dos degraus, permitindo-me desfrutar de um momento quase comovente.

- É bonita, não é? – Depois daquilo que me pareceram ser horas, a voz de Joseph despertou-me bruscamente.

- Hmm...sim...desculpe. – Balbuciei, envergonhado, enquanto me punha de pé e descia apressadamente as escadas.

- Foi a nossa governanta da altura, a Miss Lizza, que compôs como prenda do primeiro aniversário da Bee.  Uma governanta que toca piano...sempre invulgar, aquela senhora. Aprendeu a tocar num bar de Jazz durante o dia, quando ficava a limpar as instalações.  Tratou da Celleste e da Sarah quando elas eram pequenas, e acompanhou também o crescimento da Bee... enquanto ela esteve connosco...– Explicou ele, fechando a tampa do piano. - Era uma senhora maravilhosa, uma verdadeira avó para a Bee. É certo que a miúda adorava do fundo do coração a minha Margareth, mas elas não passavam muito tempo juntas...a minha Maggie sempre foi muito reservada, gostava de estar no mundinho dela, sabes? Então a Bee cresceu com a mãe, é certo, mas sobretudo com Miss Lizza, pois foi ela que a ensinou a fazer tudo... Acabou por falecer alguns anos depois do desaparecimento da Bee, que lhe causou um desgosto profundo... mas deixou esta música que ainda hoje me toca no coração.

- É uma melodia lindíssima. – Confessei, ligeiramente constrangido. - Como se chama?

- Serendipity. – Respondeu ele, com uma expressão dolorosa no rosto. Depois de uns segundos de silêncio, Joseph tossiu para clarear a voz, e bateu as mãos uma na outra:

(Un)forgettableOnde histórias criam vida. Descubra agora