POV Jubilee (Thirteen)
- Algumas horas antes –
Três pancadas na porta interromperam os meus devaneios e pousei a caneta sobre a secretária, levantando-me para ir ver de quem se tratava.
- 13... sou eu. – A voz suave do Niall atravessou o quarto e eu sorri, abrindo a porta para trás. O meu sorriso desvaneceu rapidamente assim que me apercebi daquilo que ele transportava com alguma dificuldade.
- Este computador estava num dos quartos e achei que vocês poderiam ficar com ele aqui...nós temos acesso à internet, mas têm de avisar com antecedência quando quiserem utilizar porque corta-nos a linha telefónica. – Avisou ele, pousando o ecrã na secretária e voltando atrás para ir buscar as restantes peças gigantescas.
Durante uns segundos senti uma sensação aconchegante espalhar-se pelo meu corpo, aquela mesmo que se sente quando passamos alguns dias fora e voltamos a entrar em casa, mas logo a seguir um sentimento de nervosismo e mal-estar tomou conta de mim, e tive de esconder as mãos atrás das costas para que ele não visse o quanto tremiam.
- Hmm...certo...obrigado, Niall. – Respondi, incomodada, enquanto desviava o olhar da tela apagada. – Podes deixar que eu sei ligar.
- Mas é preciso montar a torre e talvez formatar e...
- Eu sei fazê-lo, Niall. – Repeti, procurando manter a voz firme.
Ele arregalou os olhos de surpresa mas anuiu em concordância, saindo do quarto. Assim que fiquei sozinha, corri até à casa-de-banho e tranquei a porta, deixando as lágrimas correr livremente durante um tempo que não sei precisar.
- Nessa noite. -
Assim que terminei de lavar a louça, varri e passei o chão, organizei todos os armários da cozinha, preparei a mesa para o dia seguinte, e com a esperança de ocupar mais tempo, comecei a tricotar um fato-macaco para o Sir Churchill. A música da festa faz tremer as cadeiras da cozinha, mas ainda assim não tenciono subir para o quarto antes de estar praticamente a dormir em pé. A imagem do computador sobre a secretária volta a encher-me a mente de um misto de emoções contraditórias: necessidade, raiva, medo, desejo, saudade...
- Hmm...a festa já começou...não vens? – A voz do Paki fez-me sobressaltar e deixei cair a agulha ao chão, apanhando-a rapidamente.
- Pareço-te interessada em compactuar com esta forma de diversão questionável? - Respondi bruscamente.
- Claro que não, devia ter achado que nunca na vida tu haverias de fazer coisas comuns de seres humanos, como ir a festas, dançar, conversar civilizadamente...sei lá, interagir. – Respondeu, igualmente agressivo. As suas palavras acertaram tão perigosamente perto da verdade que tive de me levantar e caminhar pela cozinha, para que ele não visse os meus olhos marejados de lágrimas.
- Se os primatas soubessem que a evolução da humanidade implicaria ter de interagir com pessoas como tu, teriam preferido continuar a catar piolhos. – Respondi, controlando a voz.
- Devias ir dormir, amanhã temos de acordar cedo para limpar tudo.
- Eu faço o que eu quiser. – Respondi de imediato, ouvindo o som dos seus passos a afastar.
Assim que o Paki cruzou a saída da cozinha, suspirei pesadamente e enterrei o rosto entre as mãos.
Quando decidi fazer parte desta viagem com dois desconhecidos e um esquilo manco numa carrinha da cor do meu cabelo, foi com um propósito muito claro: fugir. Da polícia, é certo, mas principalmente de mim mesma. Pensei (erradamente, ao que parece) que aqui no meio do nada não teria qualquer problema em manter-me afastada de um computador, que por razões variadas foi simultaneamente o objeto da minha salvação e perdição.
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(Un)forgettable
Genç Kurgu"Dizem que quem conta um conto acrescenta um ponto. Mesmo as vossas memórias, não são mais do que aquilo que escolheram lembrar de um passado que nunca será recordado exatamente como aconteceu. Mas comigo é diferente: o meu nome é Harry e eu não acr...