Capítulo 9;

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POV Jubilee (Thirteen)

- Algumas horas antes –

Três pancadas na porta interromperam os meus devaneios e pousei a caneta sobre a secretária, levantando-me para ir ver de quem se tratava.

- 13... sou eu. – A voz suave do Niall atravessou o quarto e eu sorri, abrindo a porta para trás. O meu sorriso desvaneceu rapidamente assim que me apercebi daquilo que ele transportava com alguma dificuldade.

- Este computador estava num dos quartos e achei que vocês poderiam ficar com ele aqui...nós temos acesso à internet, mas têm de avisar com antecedência quando quiserem utilizar porque corta-nos a linha telefónica. – Avisou ele, pousando o ecrã na secretária e voltando atrás para ir buscar as restantes peças gigantescas.

Durante uns segundos senti uma sensação aconchegante espalhar-se pelo meu corpo, aquela mesmo que se sente quando passamos alguns dias fora e voltamos a entrar em casa, mas logo a seguir um sentimento de nervosismo e mal-estar tomou conta de mim, e tive de esconder as mãos atrás das costas para que ele não visse o quanto tremiam.

- Hmm...certo...obrigado, Niall. – Respondi, incomodada, enquanto desviava o olhar da tela apagada. – Podes deixar que eu sei ligar.

- Mas é preciso montar a torre e talvez formatar e...

- Eu sei fazê-lo, Niall. – Repeti, procurando manter a voz firme.

Ele arregalou os olhos de surpresa mas anuiu em concordância, saindo do quarto. Assim que fiquei sozinha, corri até à casa-de-banho e tranquei a porta, deixando as lágrimas correr livremente durante um tempo que não sei precisar.

- Nessa noite. -

Assim que terminei de lavar a louça, varri e passei o chão, organizei todos os armários da cozinha, preparei a mesa para o dia seguinte, e com a esperança de ocupar mais tempo, comecei a tricotar um fato-macaco para o Sir Churchill. A música da festa faz tremer as cadeiras da cozinha, mas ainda assim não tenciono subir para o quarto antes de estar praticamente a dormir em pé. A imagem do computador sobre a secretária volta a encher-me a mente de um misto de emoções contraditórias: necessidade, raiva, medo, desejo, saudade...

- Hmm...a festa já começou...não vens? – A voz do Paki fez-me sobressaltar e deixei cair a agulha ao chão, apanhando-a rapidamente.

- Pareço-te interessada em compactuar com esta forma de diversão questionável? - Respondi bruscamente.

- Claro que não, devia ter achado que nunca na vida tu haverias de fazer coisas comuns de seres humanos, como ir a festas, dançar, conversar civilizadamente...sei lá, interagir. – Respondeu, igualmente agressivo. As suas palavras acertaram tão perigosamente perto da verdade que tive de me levantar e caminhar pela cozinha, para que ele não visse os meus olhos marejados de lágrimas.

- Se os primatas soubessem que a evolução da humanidade implicaria ter de interagir com pessoas como tu, teriam preferido continuar a catar piolhos. – Respondi, controlando a voz.

- Devias ir dormir, amanhã temos de acordar cedo para limpar tudo.

- Eu faço o que eu quiser. – Respondi de imediato, ouvindo o som dos seus passos a afastar.

Assim que o Paki cruzou a saída da cozinha, suspirei pesadamente e enterrei o rosto entre as mãos.

Quando decidi fazer parte desta viagem com dois desconhecidos e um esquilo manco numa carrinha da cor do meu cabelo, foi com um propósito muito claro: fugir. Da polícia, é certo, mas principalmente de mim mesma. Pensei (erradamente, ao que parece) que aqui no meio do nada não teria qualquer problema em manter-me afastada de um computador, que por razões variadas foi simultaneamente o objeto da minha salvação e perdição.

(Un)forgettableOnde histórias criam vida. Descubra agora