Capítulo 27;

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Pov Harry

- 8 de fevereiro de 1996, dia da convenção –

Acordei com a sensação de que dormi apenas alguns minutos, e espreguicei-me na cama desconfortável do quarto que aluguei ontem à noite. Depois de me arranjar e vestir outra das roupas emprestadas de Mr. Carter, dirigi-me ao quarto de Joseph, na esperança de o convencer a voltar a Hayle por duas ordens de razões: a) visitar a convenção de máquinas de flippers, que embora não estando diretamente relacionada com a nossa empreitada de procurar pela Beatrice, continua a ser a razão pela qual saí de Gosfield; além de que pode existir a probabilidade de me cruzar com o Paki, e por muito que nunca o vá admitir, eu sinto falta daquele gordo anti-social; e b) passar pela biblioteca na esperança de encontrar a segunda pessoa que escreve nos livros.

Bati à porta com cuidado, temendo acordá-lo, mas não obtive resposta. Voltei a bater, uma e outra vez, mas a porta permanecia fechada, sem nenhum sinal de movimento do outro lado.

- Joseph?! – Chamei, aflito, olhando em volta à procura de ajuda. Não vendo ninguém, decidi correr até à sala principal, com intenção de arranjar alguém para abrir a porta, mas assim que entrei, dei de caras com Joseph sentado à lareira, já vestido e com o cachimbo na boca.

- Estava a ver que não, rapaz. – Cumprimentou, mal-humorado. – Pelo andar da carruagem a minha neta já deve ter atravessado o pacífico a nado enquanto dormias.

Consultei o relógio e vi que marcava as 9:30 da manhã, praticamente de madrugada, no meu entender, mas pelos vistos eu e Joseph temos definições muito diferentes do que é acordar cedo.

- Joseph, podemos fazer um desvio na nossa busca? Gostava de regressar a Hayle para resolver uns assuntos... - Perguntei, ligeiramente constrangido por estar a fazer uma pausa em algo tão importante como encontrar a sua neta desaparecida para gastar o meu tempo em coisas tão fúteis como uma convenção de máquinas.

Ele encolheu os ombros em tom de indiferença e lançou uma nuvem de fumo no ar, seguida de um ataque de tosse um tanto quanto preocupante. Até agora não tinha reparado em tal coisa, mas duas marcas negras de cansaço estão alojadas debaixo dos seus olhos azuis, e as suas mãos tremem violentamente. Não sei que idade tem, mas a verdade é que Joseph parece já não ter energia para estas aventuras, e uma sensação de arrependimento profundo toma conta de mim. Que tipo de pessoa tira um idoso do conforto da sua casa para o levar numa viagem ao seu passado doloroso, sem garantias de que possa, de facto, reaver a sua neta perdida?

Talvez isto não tenha passado de um momento egoísta da minha parte, em que tenha usado Joseph como forma de dar algum sentido à minha vida.

- Claro que podemos. – Respondeu, começando a levantar-se e caminhando com dificuldade até à porta. Senti-me afundar ainda mais na sensação de culpa, e segui-o em silêncio, enquanto saíamos da pensão em direção ao carro.

- Joseph? – Perguntei passado algum tempo, enquanto atravessávamos uma zona de campos que parecia não ter fim. Ele não respondeu e permaneceu com olhar fixo na janela, mas eu continuei:

- Quer voltar para casa?

Ele pareceu estremecer ligeiramente e voltou-se na minha direção:

- Onde planeias ir a seguir?

- À biblioteca, e depois uma convenção de máquinas de flippers. – Respondi com sinceridade. – Eu sei que não é nada de importante em comparação com o que temos em mãos, mas foi para isso que abandonei a minha cidade. Para vir ver um monte de máquinas coloridas e um bando de saloios vestidos com roupas de super-heróis com o meu melhor amigo. Infelizmente acabamos por nos separar, mas conto encontrá-lo lá. Eu sei que deveríamos procurar incansavelmente pela Beatrice, e não espero que compreenda as razões que me levam a querer visitar esta convenção...por isso se quiser ir para casa, eu amanhã estarei lá para retomarmos a nossa busca.

(Un)forgettableOnde histórias criam vida. Descubra agora