Agora, dentro do navio e longe das "santas ameaças", pude me sentar e ler, aquela que seria a última carta de um familiar. Meu senhor na verdade nunca foi de escrever muito, pois ele preferia moldar o caráter com atitudes e não apenas palavras. Por isso, foi um homem bem quieto. Preferia ouvir do que falar. Aquela carta dizia o seguinte:
"Filho, meu filho! Parece que as coisas não andam bem para a gente não é?! Sua mãe me contou tudo ... Na verdade, eu já sabia de tudo aquilo! Ou vocês acharam que eu era um velho bobo, heim? Hahaha! Como se eu não soubesse que, às três da manhã, vinham dois homens carequinhas colocando junto a uma bolsa, uma carta em baixo do ralo da cozinha! E, quem lia tudo o que seu pai, quer dizer, os chefões da Igreja diziam primeiro? Eu! Como eu sabia que sua mãe não me contaria nada, decidi me calar e, quando ela veio me contar, eu já estava preparado. Apenas me levantei da cadeira, fui para fora de casa e puxei um pouco de feno para baixo da janela. Com certeza, não viriam fazer a limpa sozinhos. Escapar pela porta da frente? Hahaha ... Como eu já devo estar morto, ainda bem que pelo menos você se salvou, não é?! Afinal, se há alguém lendo esta carta, e eu entreguei ela apenas à você, dê graças a Deus, ora!
Não se esqueça de tudo o que eu lhe ensinei, meu filho. Tome juízo, ou crie, ou compre alguns, mas o tenha! Você vai precisar ... Fique longe desses carequinhas, eles sabem fazer você desaparecer sem que ninguém perceba. Esqueça tudo isso, viva em paz, arranje uma garota, se case, tenha filhos, compre uma casa no campo e viva do seu trabalho.
De seu pai, ..."Como eu já imaginava! A ideia de colocar o feno ali foi absurdamente esperta! Obrigado por salvar a minha vida, papai!
Seguir os conselhos do meu senhor, ou tentar uma vingança? Não é fácil responder isso ... Depois de tudo ... Pensei em chegar primeiro na Grécia, para depois pensar em alguma coisa lógica. A viajem corria tranqüila, nada de tempestades, as ondas estavam bem calmas e, às vezes, era possível ver no horizonte algumas ilhas, a maioria desabitadas. Já na parte de cima do navio, eu admirava mais um pôr do sol, quando um jovem se aproximou de mim, e disse:
"Que beleza de pintura, heim? Já imaginou um dia ter uma casinha no campo, com uma visão tão linda como essa?"
"Ah, eu penso nisso o dia todo .."
"Rafael é meu nome. E o jovem tem algum?"
"Loren.. Como assim jovem? Você também deve ter a minha idade!"
"Ha! Pareço mais novo do que parece? Eu já tenho 23 anos! Você deve ter uns .. 15?"
"17!"
"Com essa idade e já viaja sozinho? Afinal, onde estão seus pais?"
"Olha ... Esquece isso, tudo bem? Me chamo Lorenzzi, prazer."
"An, Lorenzzi ... O "senhor" me parece um jovem sábio, já terminou seus estudos?"
"Sim, na verdade eu iria para a faculdade de Viena, na minha cidade. Acontece que não deu muito certo ... E você, o que faz por aqui?"Ele dá alguns passos para trás, e me olhando com um sorriso bem grande no rosto, ele diz:
"Eu sou o próprio Marco Polo!"
Todos que estavam por perto olharam para ele, e começaram a rir. Ele parecia não se importar com as risadas ou com a graça que fazia!
"É ... Legal, parabéns, o senhor é um grande comerciante, já li todas as suas aventuras pelo Oriente."
"Sério? Finalmente, alguém que me entende! Lembra daquele vez em que ..."E dali começamos a conversar sobre as viagens de Polo. Ambos queríamos ser, um dia, grandes comerciantes. Rafael me contou que havia perdido sua mãe num acidente de navio, quando este havia se perdido em meio ao Mar Mediterrâneo, quando tinha 9 anos. Seu pai, que já trabalhava numa banca fabricando e vendendo sapatos, decidiu ensinar a ele a como vender todo tipo de coisa, apesar da pouca idade. Já com 15 anos, Rafa havia ganhado o carisma de todos do centro da cidade, onde seu pai fazia seu comércio. Ele era realmente brilhante: Sabia como se comportar perto de grande público, fazia algumas "mágicas" que chamavam a atenção do povo para a loja de seu pai, contava piadas, sabia se vestir e atraia a atenção de todos. Um talento nato. Seu pai lhe dava uma boa parte dos lucros obtidos na venda de sapatos, que havia se expandido bastante por causa do filho que sabia chamar a clientela. No tempo livre, lia bastante, principalmente sobre grandes aventureiros da história. Seu preferido era Marco Polo. O sonho de se tornar um grande comerciante mundo afora foi alimentado graças aos livros. Seu pai havia tomado um trauma de viagens marítimas, e convencê-lo do contrário foi uma luta. Apenas quando fez seus 23 anos, ele o havia deixado embarcar em sua aventura. Rafa o prometeu que voltaria com dez vezes mais do que ele havia levado consigo em menos de 1 ano! Essa viagem foi a primeira dele. Também lhe contei do meu sonho de ser um comerciante, mas deixei as partes secretas, secretas: Sobre minha mãe ajudar a Igreja a criar uma receita que dominaria todas as raças da Terra ou coisas do gênero. Se bem que, se eu contasse, me acharia um doente. Apenas lhe contei que fui largado pelo meio pai, que mamãe havia que se virar pra me sustentar, basicamente tudo o que eu achava antes de ler aquela última carta dela. Viramos grandes amigos. Descobri que ele também estava indo em direção a Grécia. E, como ele já havia passado por lá e conhecia das cidades melhor do que eu, decidi segui-lo nessa aventura. Pelo menos, alguém que me desse uma direção nesse mundo perdido. Já não me sentia mais só, pelo menos, até aquele momento.
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O Manuscrito Venicci
Ficção CientíficaEu, Lorenzzi di Viena, escrevo essa carta, certamente sem destino, para relatar e documentar tudo o que sei é descobri até agora. Algumas dessas coisas que serão contadas nesse livro não podem em hipótese alguma parar nas mãos da Igreja. A você, dou...