A carta dizia o seguinte:
"Filho, sei que você não compreende o que está acontecendo. Eu queria contar tudo à você, mas não tive coragem. Só de imaginar sua reação com tudo o que te direi adiante, sinto um arrependimento dentro de mim...
Quando mais jovem, antes mesmo de me casar com seu pai, fui escolhida pela Igreja para participar de uma série de testes. Acontece que antes de vim morar em Viena, eu vivia em Roma, estudando em uma das escolas controladas pelos padres. Eles selecionavam alguns alunos que demostravam sinais de inteligência. Em um desses testes, me perguntaram se eu acreditava que a Terra era mesmo redonda. Naquela escola, os padres ensinavam que era plana, e ninguém ousava questionar. Diante o teste, disse sim, e eles me perguntaram como eu poderia saber. Fácil. Há um tempo atrás, um sábio levantou um pilar em um certo lugar e outro pilar, de mesmo tamanho, algumas milhas distantes. Se a Terra fosse realmente plana, a sombra que eles projetavam deveriam ser idênticas, mas não foi isso que aconteceu. Analisando a posição das sombras que cada uma projetou, ele pôde afirmar que a Terra era, de fato, redonda. Mais alguns testes foram feitos, envolvendo em boa parte deles o poder de persuasão. Me pediram para convencer a um dos alunos de que ele estava ficando cego de um olho. Tendo a ajuda de um dos padres, um pouco de água servida no pátio da escola e de minha fala o convenci, facilmente. Primeiramente, esse mesmo padre interrompeu uma das aulas e chamou um aluno qualquer com urgência. Quando chegaram em mim, eu perguntei ao garoto, como se estivesse aflita, se ele tinha bebido da água da fonte do pátio. Após um gesto com a cabeça, eu levei minha mão na testa, e dizia: "Não, não, não, não ..." Ele, preocupado, me perguntava o que havia de errado. Lhe disse que aquela água tinha sido contaminada e que ele ficaria cego de um olho. Sem acreditar, ele me disse que estava vendo tudo normalmente. Pedi a ele que fechasse um dos olhos, aproximei meu polegar para o meio de sua visão e, usando o efeito do ponto cego, fiz a imagem do meu dedo desaparecer. Ele ficou desesperado, começou a chorar! Dizia até que não conseguia mais enxergar normalmente. Diante aquilo, pedi para ele ir para casa, beber 10 copos de água seguidos e dormir, que ele ficaria curado. Após sair da sala, os padres se reuniram numa roda, conversando e olhando diretamente para mim. Um deles chegou e disse: "É você! Você é a escolhida!" Sem entender, apenas segui o padre que me levava para uma sala separada da escola, no subterrâneo. Lá, havia vários membros de altos cargos da Igreja e um deles era o próprio papa. Me disseram que havia sido escolhida para organizar as "coisas que sustentam nossa Igreja neste mundo". Uma delas era a implantação do cristianismo em todos os povos e nações, mesmo que não fosse de maneira pacífica. Fiquei encarregada da parte da persuasão, devia criar táticas e conversas para conseguir convencer o povo de nosso argumento. Todos os sábados, havia uma reunião ali, logo após a escola. Em uma delas, um dos cardeais nos mostraram uma nova substância, extraída de uma planta ainda sem nome, que ele havia descoberto em uma de suas pesquisas. Essa substância era capaz de paralisar a pessoa por cerca de 2 minutos, de maneira que alguns dos sentidos ficam ativos e são processados pela mente dele. Apenas falando ao ouvido da pessoa, enquanto estava paralisada, sobre qualquer coisa, já era suficiente para a hipnose acontecer. Ela já havido sido testada em alguns escravos, e os resultados a princípio foram positivos, mas após 3 dias, eles apareciam mortos. Era necessário modificar a receita. Procuramos uma maneira de fazer com que ela não matasse ninguém. Foram anos de pesquisa e não achamos nenhuma maneira de conseguir isso. Consegui uma permissão da Igreja para ir morar em Viena, contanto que ajudasse, por cartas, no progresso de nossos estudos. Não poderia em hipótese alguma contar a alguém das coisas que aconteciam naquela sala. Aqui, conheci seu pai, nos casamos e tivemos uma família. Quando você completou seus dois anos de idade, ele achou algumas cartas que guardava deles em um bauzinho, dentro do meu guarda-roupa. Sem êxito em disfarçar o que havia acontecido, contei lhe tudo. Seu pai, apesar de todos seus problemas, pensava muito em nós. Ele disse que iria para Roma, e resolveria todo aquele problema, de uma forma ou outra. Disse a ele não fazer isso, que não iria voltar com vida, mas ele insistiu. Naquela noite, ele escreveu uma carta, a mesma que ele fez se despedindo, dizendo que tinha ido à Roma para negócios. Ele colocou aquilo para que você entendesse no futuro a ausência dele. Depois da segunda carta dele em Roma, eu já havia notado que não era mais ele escrevendo. Preocupada, mandei uma carta diretamente à eles perguntando o que tinham feito com seu pai. Disseram que haviam descoberto a receita certa, e que Marius foi a primeira vítima deles! Ele ficaria nas mãos da igreja até que tudo fosse resolvido. No final, continuaram a pedir minha ajuda, que eu era uma peça importante para fazer o plano deles entrarem em prática. Sem saída e com um coração duro, ajudei a eles no que precisavam, por meio de cartas. Após uns anos, quando você já estava a caminho da faculdade, eu decidi romper com a Igreja, apesar do risco que estaria correndo, eu não podia aceitar fazer mais tantas vítimas como eu estava! Além disso, eu queria dar total atenção a você, meu filho! Meu único filho, seguindo os passos de seu pai! Foi difícil para mim tomar essa decisão. Após 9 meses sem receber as cartas e o dinheiro que vinha deles, pude descobrir que eles tinham planos contra mim. Eu sei que eles estão vindo atrás, mas não deixarei com que peguem meu filho! Por isso, fiz essa carta, para lhe contar tudo o que foi escondido de você. Comprei essa casinha para te manter seguro deles. Aí, eles não vão te achar. Só peço uma coisa: Quando terminar de ler essa carta, você poderia voltar em casa, e se despedir de mim? Adeus filho."
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O Manuscrito Venicci
Science FictionEu, Lorenzzi di Viena, escrevo essa carta, certamente sem destino, para relatar e documentar tudo o que sei é descobri até agora. Algumas dessas coisas que serão contadas nesse livro não podem em hipótese alguma parar nas mãos da Igreja. A você, dou...