16- O molho

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Iríamos receber convidados naquele dia. Amigos de longa data de Norman e Anna viriam para o almoço.

Assim que fiquei sabendo, uma parte vibrante de mim eliminara qualquer outro pensamento e estava determinada a causar uma boa impressão.

Alisei o a blusa que estava usando; era uma peça simples e branca, com mangas curtas que deixavam os ombros de fora e com um franzido no peito. No corredor, observei o meu reflexo em um espelhinho de prata e senti uma emoção desconhecida que me embrulhava o estômago. Eu não estava acostumado a me ver assim, arrumado, elegante e penteado como uma boneca. Se não fosse pelos curativos nos dedos e pelos olhos cor de madrepérola, eu não teria me reconhecido.

Verifiquei se o lenço cobria a lateral do meu pescoço. Com o passar dos dias, a marca foi diminuindo, mas era melhor não arriscar.

— Ah, mas que calorão! — exclamou uma voz feminina no corredor. — Ah, se eu soubesse... Aqui onde vocês moram não tem nenhum ventinho!

Os Otter chegaram.

A mulher que havia acabado de falar vestia um lindo sobretudo azul-cobalto. Anna tinha me dito que era costureira. Ela a beijou nas duas bochechas de um jeito muito sincero e familiar.

— Tudo bem estacionar o carro ali na passagem? George pode parar em outro lugar se estiver muito no meio do caminho...

— Está ótimo, fica tranquila.

Gentilmente, Anna tirou o chapéu das mãos da amiga e a convidou para entrar. Elas caminharam de braços dados e a senhora Otter apoiou a mão no pulso de Anna.

— Como você está? perguntou com uma pitada de apreensão.

Anna respondeu apertando a mão dela com carinho, mas percebi que estava olhando para mim enquanto seguiam em frente. A senhora Otter estava ocupada demais procurando os olhos da anfitriã para notar a minha presença.

Quando por fim pararam na minha frente, Anna anunciou com um sorriso:

— Dalma, esse é Jimin.

Bom, chegou a hora... Tentei conter o nervosismo e abri um sorriso.

— Olá.

A senhora Otter não respondeu. Ficou me olhando boquiaberta e com uma expressão de surpresa nos olhos. Mal podia acreditar no que estava vendo. Depois de um tempo, piscou e se virou para Anna.

— Eu não... — Ela parecia sem palavras.
— Como...

Eu também busquei o olhar de Anna, tão confuso quanto Dalma, mas no instante seguinte a senhora Otter olhou para mim com uma expressão de surpresa totalmente diferente. Parecia ter entendido só naquele momento o motivo da apresentação. Anna ainda estava com uma das mãos apoiada na da amiga.

— Desculpa... — Ela finalmente se recompôs, embora parecesse sem fôlego.
— Eu fui pega de surpresa. — tímido e ligeiramente incrédulo. Os lábios se fundiram em um sorriso — Oi... —sussurrou, calorosa.

Eu não conseguia me lembrar de já ter sido cumprimentado daquela maneira. Era como se ela tivesse me acariciado sem sequer me tocar.

Que sensação maravilhosa ser olhado assim...

Feliz, disse a mim mesmo que talvez eu tenha causado uma boa impressão.

— George! aqui. — chamou a senhora Otter, acenando com a mão. — Vem aqui.

O marido estava parabenizando Norman pela convenção e, quando Anna nos apresentou, o espanto dele não foi menor do que o da esposa.

— Uau! — exclamou, do nada, com aquele bigode enorme. Anna e Norman riram.

A Lenda Do Fabricante De Lágrimas ( VERSÃO JIKOOK )Onde histórias criam vida. Descubra agora