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Comentários do InstrutorO recinto a que demandáramos era confortável e amplo; mas
a expressiva assembléia que o lotava era, em grande parte, desa-
gradável e triste. Ao clarão de vários lampadários, podíamos
observar, do largo estrado em que nos instaláramos com o orien-
tador, os semblantes disformes que, em maioria, ali se congregavam.
Aqui e ali se acomodavam assistentes e enfermeiros, cuja po-
sição espiritual era facilmente distinguível pela presença simpáti-
ca com que encorajavam os sofredores. Calculei em duas cente-
nas, aproximadamente, o número de enfermos que à nossa frente
se reuniam. Mais de dois terços apresentavam deformidades fisio-
nômicas.
Quem terá visitado um sanatório de moléstias da pele, anali-
sando em conjunto os doentes mais graves, poderá imaginar o que
fosse aquele agregado de almas silenciosas e dificilmente reco-nhecíveis.
Notando a quase completa quietude ambiente, indaguei de
Druso quanto à tempestade que se contorcia lá fora, informando-
me o generoso amigo que nos achávamos em salão interior da
cidadela, exteriormente revestido de abafadores de som.
Integrando a equipe dirigente, Hilário e eu passamos a conhecer companheiros agradáveis e distintos, os Assistentes Silas e
Honório e a irmã Celestina, três dos mais destacados assessores
na condução daquela morada socorrista.
Não nos foi possível qualquer entendimento, além das sauda-
ções comuns, porque o orientador, após indicar um dos enfermos
para proferir a oração de início, que ouvimos emocionadamente,
tomou a palavra e falou com naturalidade, qual se estivesse con-
versando numa roda de amigos:
– Irmãos, continuemos hoje em nosso comentário acerca do
bom ânimo. Não me creiam separado de vocês por virtudes que
não possuo. A palavra fácil e bem posta é, muita vez, dever espinhoso em nossa boca, constrangendo-nos à reflexão e à disciplina.
Também sou aqui um companheiro à espera da volta. A prisão
redentora da carne acena-nos ao regresso. É que o propósito da
vida trabalha em nós e conosco, através de todos os meios, para
guiar-nos à perfeição. Cerceando-lhe os impulsos, agimos em
sentido contrário à Lei, criando aflição e sofrimento em nós mes-
mos. No plano físico, muitos de nós supúnhamos que a morte
seria ponto final aos nossos problemas, enquanto outros muitos se acreditavam privilegiados da Infinita Bondade, por haverem
abraçado atitudes de superfície, nos templos religiosos. A viagem