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15Anotações oportunas

Os problemas do lar de Ildeu ofereciam-nos ensanchas a preciososestudos no terreno puro da alma. Em razão disso, de volta àMansão em companhia do Assistente, valíamonos do tempo parabuscar-lhe a opinião clara e sensata, acerca de momentosas questõesque nos esfervilhavam a mente.Hilário foi o primeiro a quebrar a longa pausa, indagando:- Meu caro Silas, não temos ali, no caso de Roberto e Marcela,um quadro autêntico do chamado complexo de Édipo, que apsicanálise freudiana pretende encontrar na psicologia infantil?Nosso amigo sorriu e obtemperou:- O grande médico austríaco poderia ter atingido respeitáveisculminâncias do espírito, se houvesse descerrado uma porta aosestudos da lei de reencarnação. Infelizmente, porém, atento àpragmática científica, não teve bastante coragem para ultrapassara observação do campo fisiológico, rigidamente considerado,imobilizando-se, por isso, nas zonas obscuras da inconsciência,em que o "eu" enclausura as experiências que realiza, automatizandoos próprios impulsos. Marcela e Roberto não poderiamtrair, na condição de mãe e filho, as simpatias carreadas do pretérito ao presente, tanto quanto Ildeu, Sônia e Márcia não conseguiriamfugir à predileção que os ligava desde o passado. O problemaé de afinidade em sua estrutura essencial. Afinidade com dívidas,exigindo resgate.Lembrei-me, então, dos exageros que podemos atribuir à teoriada libido, a energia através da qual, segundo a escola de Freud,o instinto sexual se revela na mente, e teci alguns comentáriosalusivos ao assunto, detendo-me, de maneira especial, na amnésia infantil, a que o famoso cientista empresta a maior importânciapara explicar as operações do inconsciente.Silas, atencioso, completou sem hesitar:- Bastaria compreender na encarnação terrestre um Espíritousando um corpo para entender que as amnésias decorrem naturalmenteda inadaptação temporária entre a alma e o instrumentode que se utiliza. Na infância, o "ego", em processo de materialização,externará reminiscências e opiniões, simpatias e desafetos,através de manifestações instintivas, a lhe entremostrarem o passado,do qual mal se lembrará no futuro próximo, de vez queestará movimentando a máquina cerebral em desenvolvimento,máquina essa que deverá servi-lo, tão-só por algum tempo e paradeterminados fins, ocorrendo idêntica situação na idade provecta,quando as palavras como que se desprendem dos quadros damemória, traduzindo alterações do órgão do pensamento, modificadopor desgaste.- E a tese da libido como fome sexual característica em todosos viventes? - insisti, curioso.- Freud - considerou Silas - deve ser louvado pelo desassombrocom que empreendeu a viagem aos mais recônditos labirintosda alma humana, para descobrir as chagas do sentimento ediagnosticá-las com o discernimento possível. Entretanto, nãopode ser rigorosamente aprovado, quando pretendeu, de certomodo, explicar o campo emotivo das criaturas pela medida absolutadas sensações eróticas.Confiou-se o Assistente a ligeira pausa e prosseguiu:- Criação, vida e sexo são temas que se identificam essencialmenteentre si, perdendo-se em suas origens no seio da SabedoriaDivina. Por isso, estamos longe de padronizá-los em defini-ções técnicas, inamovíveis. Não podemos, dessa forma, limitar àsloucuras humanas a função do sexo, pois seríamos tão insensatos quanto alguém que pretendesse estudar o Sol apenas por umaréstia de luz filtrada pela fenda de um telhado. Examinado comoforça atuante da vida, à face da criação incessante, o sexo, a rigor,palpitará em tudo, desde a comunhão dos princípios subatômicosà atração dos astros, porque, então, expressará força de amor,gerada pelo amor infinito de Deus. O ajuste entre o oxigênio e ohidrogênio decorrerá desse princípio, no plano químico, formandoa água de que se alimenta a Natureza. O movimento harmoniosodo Sol, equilibrando a família dos mundos, na imensidade sideral,além de nutrir-lhes a existência, resultará dessa mesma energia noplano cósmico. E a própria influência do Cristo, que se deixoucrucificar em devotamento a nós outros, seus tutelados na Terra,para fecundar de luz a nossa mente, com vistas à divina ressurrei ção, não será, na essência, esse mesmo princípio, estampado nomais alto teor de sublimação? O sexo, pois, não poderia ausentar-sedo reino espiritual que nos é conhecido, por ser de substânciamental, determinando mentalmente as formas em que se expressa.Representa, desse modo, não uma energia fixa da Natureza, trabalhandoa alma, e sim uma energia variável da alma, com que elatrabalha a Natureza em que evolve, aprimorando a si mesma.Apreciemo-la, assim, como sendo uma força do Criador na criatura,destinada a expandir-se em obras de amor e luz que enriqueçam a vida, igualmente condicionada à lei de responsabilidade,que nos rege os destinos.Hilário, que ouvia atenciosamente as elucidações expostas,considerou:- Semelhante argumentação dá-nos a entender que a força sexualnão se destina simplesmente a gerar filhos...Não me calou agradavelmente a ponderação que julguei detodo inoportuna, ante a elevação e a transcendentalidade a queSilas projetara o tema em estudo, mas o Assistente sorriu bem humoradoe respondeu:

AÇÃO E REAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora