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"Ethan, como o verdadeiro cavalheiro que é me tomou nos braços e me levou até sua picape, e como futuro médico que deveria ser me olhou dos pés a cabeça, notamos juntos meus joelhos novamente ralados. A porta da picape estava aberta e ele estava sentado de frente pra mim no degrau de entrada, eu estava com o corpo virado para fora do carro, para que ele pudesse examinar o estrago. Ao ver meu joelho ralado o soprou com cuidado, enquanto se esticava para alcançar a porta luvas do carro, pegando assim um anti séptico que sempre levava com ele, sorte minha, eu vivia me machucando.
- Como se sente? – ele perguntou entre sopros direcionados aos meus joelhos.
- Bem. Isso sempre acontece. Minha mãe vive me chamando de banana. – aleguei e meus dedinhos do pé se contraiam porque o sangue começara a esfriar e o ralado começou a arder.
- Espero que isso não seja uma desculpa. Meus colegas me falaram de uma festa típica da cidade e gostaria muito que você fosse comigo. – e sorriu.
Afirmei com a cabeça e sorri de volta. Ethan se levantou aproximando-se para beijar minha testa, mas se demorou investigando meus olhos e sua expressão passou a ser de preocupação.
- Está se alimentando direito? – ele perguntou enquanto puxava minha pele para ver a linha d'agua dos meus olhos. – Está tão pálida!
- Não sinto fome. – atestei.
E há muito tempo eu não sentia mesmo. Havia emagrecido muito e sentia fortes dores de estomago ao longo do dia. Geralmente dizia que estava com dor de cabeça e ia me deitar até que a dor melhorasse. Muitas vezes eu me sentia fraca, sem vontade para fazer nada, além daquela preguiça diária comum que todo mundo sente. Eu estava me sentindo doente, mas negava isso para mim e para qualquer outro que tentasse achar algo de errado em mim.
- Precisa se alimentar, como vai poder dançar se mau para em pé? – Ethan estava me constrangendo e pela primeira vez estava me sentindo incomodada com tudo que ele falava.
- Não se preocupe. Me leve pra casa, por favor? – supliquei para que ele encerrasse a conversa.
- Preciso te levar para o hospital. – colocou o dorso da mão na minha testa.
- Olha Ethan, estou bem, foi só um raladinho. – estava torcendo para ele não ler pensamentos. Eu sabia o que sentia por ele, o quanto aquilo me influenciava, porém eu não gostava de hospitais e fugia deles o máximo possível.
Sim ele me convenceu e até agora não entendo como. No hospital fizeram alguns exames de sangue somente e a médica que era sua professora me pediu para responder algumas perguntas, quase todas sobre o quanto eu comia, ou se sentia alguma dor. Neguei tudo. Odiava pensar que poderia estar doente.
Quando saímos de lá, Ethan me levou para tomar um sorvete e em seguida fomos para minha casa. Senti o sorvete voltando e subi para meu quarto sem dar explicações. Eu vomitei o sorvete e não sabia o porquê, comecei a ver tudo ficar borrado e o som estava distante, eu sabia que minha mãe estava indagando Ethan sobre eu ter subido depressa, mas não entendia tudo com clareza, me sentei no chão ao lado da privada e pedi a Deus para que nada de ruim acontecesse. Senti meus batimentos diminuírem e logo eu estava bem de novo.
{...}
No final de semana Ethan me mandou uma mensagem perguntando se eu ainda aceitava sair com ele. E claro, por mais que meu estômago doesse, eu não iria negar, eu sabia que existiam milhares de garotas que dariam um rim para estarem no meu lugar e saírem com o garoto mais lindo da faculdade.
Te pego as 19hrs! – ele mandou por fim.
Ok! =D – respondi torcendo para que o analgésico fizesse efeito rápido.
Parece que minha barriga estava de mal de mim, tudo que eu comia ela devolvia, e tudo que eu fazia piorava a dor. Quando sentei na cama pensando no que poderia vestir senti outra vez uma tontura e fiquei parada até que a mesma passasse.
Provei varias roupas e todas pareciam ser alguém mais velho e mais pesado do que eu. As não estavam só largas, quase nenhuma dela parava no meu corpo sem um cinto segurando. Eu já havia notado a perca de peso, a falta de apetite e principalmente a dor, mas nada disso me faria desistir de sair naquela noite, Ethan havia se tornado importante demais e nenhuma dor me afastaria dele. Eu garantia a mim mesma, torcendo para que fosse verdade, Ethan me faria esquecer esse sentimento ruim, ele me faria rir, e a toda essa melancolia e dor, desapareceriam.
A festa sempre acontecia no mês de Julho e durava alguns finais de semana, dependendo do movimento, mas como toda cidade pequena, todos os moradores prestigiavam a festa e ela costumava durar o mês todo. Ethan me buscou as 19hrs como prometido e vestia uma camisa de linho azul e uma calça justa branca, com um sapatênis neutro e por incrível que parece ele estava de óculos, o que só o deixava ainda mais bonito.
- Não sabia que você usava óculos. – minha voz quase não saiu, minha garganta estava irritava pelo ácido do estomago das inúmeras vezes que vomitei aquele dia à tarde.
- Eu não usava. – ele pigarreou discretamente – Mas pareço mais inteligente assim, então resolvi adotar o estilo. – sorriu.
Eu estava evitando falar, pois sentia que meu hálito não estava bom, na verdade, sentia um gosto horrível na boca, como ferro, como sangue. Sorri e abaixei a cabeça timidamente. Ethan já me conhecia e sabia que eu não estava totalmente bem, mas se deteve em perguntar, ele também me conhece o suficiente para saber que eu me irritaria se ele ficasse me perguntando sobre minha saúde. Aquela foi uma noite silenciosa e de poucos beijos, eu tinha a impressão que se o beijasse demais ele sentiria o gosto de sangue da minha boca e então não haveria desculpa que me salvasse de ir para o hospital.".
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Romeu, Julieta & Eu
Teen Fiction"_ Você está bem? _ sua voz vibrante me deixou em transe, ali eu soube. _ Precisa ser mais cuidadosa. _ alertou encantadoramente. _ meu coração batia com tanta força, aquilo gritava em meu peito, eu tinha tanta certeza que ficava com medo de que as...