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"Recebi uma mensagem às sete da manhã perguntando se eu estava livre a noite, como a mensagem era de ninguém menos que Ethan, é claro que eu estava livre, aliás, para ele, eu estava totalmente livre. Estranhamente ele marcou de me pegar as exatas 17hrs e 45min. O horário não era muito habitual para um encontro, mas algo me dizia que aquele não seria um encontro qualquer. Meio dia Ethan me ligou, sua voz estava diferente, me deixando nervosa e me fazendo imaginar mil coisas.
- Querida, como está? – ele perguntou com a voz tremula.
- Estou bem e você?
_ Estou ótimo. Está se sentindo melhor? Não teve nenhum mal estar? – ele perguntou meio depressa.
- Não se preocupe estou ótima, muito ansiosa por sinal. O que você está aprontando? – perguntei faceira. Ele se demorou em responder.
- Te pego no horário combinado, estou no plantão e preciso desligar. – ele falou quase cuspindo, fiquei com medo dele se afogar. Parecia amedrontado, confuso e eu já estava quase saindo atrás dele, quem sabe para vigiar o que ele tanto fazia naquele Plantão que o deixou tão nervoso. Antes que ele desligasse, tive tempo apenas de mandar um "ok, beijo!".
Aquele dia demorou a passar, principalmente porque eu havia decidido estudar para as provas finais. Eu ainda teria um TCC para defender enquanto Ethan estaria terminando sua residência. Ele era 5 anos e 11 meses mais velho do que eu e fazia questão de jogar isso na minha cara, atestando que eu lhe devia ceder a vaga no bicicletário uma única vez que ele resolveu ir de bicicleta para a Universidade. O lugar estava lotado, e eu havia disparado na frente dele após ver a ultima vaga com trava dando sopa. Claro que ele ficou bravo por ter sido deixado para trás e reclamou a vaga que era sua por direito, devido sua idade avançada. Acabamos travando as bikes juntas, eu não ia deixar minha Jude em qualquer poste (ou melhor minha Judi, recém-operada, ela levou dias no concerto).
Sem mais delongas, preciso lhe contar, querido diário... sobre esse maravilhoso dia e ele aconteceu mais ou menos assim (mais ou menos, porque ainda estou extasiada e não sei se é verdade ou se ainda estou sonhando).
Quando eu não aguentava mais estudar, joguei os livros para o alto e resolvi tomar um banho, um banho frio, para esfriar as ideias. Tomei um longo banho gelado e quando a água da caixa parecia estar acabando eu resolvi vestir meu roupão para começar a lutar com meu guarda roupa, meu guarda roupas e seus vestidos largos. Eu sabia que a ocasião não era cotidiana e que aquele dia prometia ser especial, eu desejei tanto ter algo bonito e sensual para vestir (não eu não estava pensando neste tipo de sensual que você imaginou, eu só queria algo menos infantil, sem desenhos, sem lacinhos, como eram 99% dos meus vestidos). Experimentei quase tudo o que eu tinha, tentei diversas combinações e nenhuma me deixava mais gordinha, mais corada ou menos parecida com uma bailarina bulímica.
Como num passe de magica minha fada madrinha entrou no meu quarto (era só a minha mãe, obviamente), ela havia ouvido os gritos que eu dera, e de todas as coisas feias de que chamei as minhas roupas. Ela trazia consigo um vestido lilás, ela me olhava com aquele olhar de "Você não vai vestir logo?", é claro, eu estava pasma, o vestido era tudo que eu havia pedido a Deus, era de voal, lilás, mullet e aderia a minha silhueta como nenhum outro fazia. O elástico da cintura conseguia se segurar em minhas costelas evidentes e eu podia deixa-lo fofinho, me fazendo parecer menos esquelética. O mullet me favorecia por causa das pernas finas e longas, por ter mangas regatas meus bracinhos ficavam expostos, porém, isso não me fez vacilar, eu estava me sentindo confiante. Eu calcei sandálias com um salto razoável, me sentia uma vareta, no entanto fiquei imaginando qual seria a reação de Ethan ao ver-me e entorpeci-me, distante por alguns minutos, diante do espelho, sorrindo como uma criança com um brinquedo novo.
Minha mãe, que havia me alertado sobre as borboletas estomacais agora estava ali, servindo-me perfeitamente de fada madrinha. Eu ia descendo as escadas quando me deparo com uma criatura indesejada no meu sofá, subi os três degraus que já havia descido novamente e fechei a porta do quarto jogando minha mãe para dentro e batendo a porta atrás de nos.
- O que ele está fazendo aqui? – perguntei balançando a cabeça negativamente em frenesi.
- Ele é quase seu parente, porque está fugindo dele? – ela perguntou confusa, investigando meu rosto, quase como se tentasse ler meus pensamentos.
- Não é nada. Mas pode ir lá o mandar ir pra casa? Por favor? – eu implorei, e felizmente minha mãe entendeu que Matheus me incomodava muito, mas nenhuma de nós sabia o que Matheus estava planejando para aquela noite.
Minha mãe desceu e vi pela fresta da porta do quarto quando ela fechou a porta da sala, assim que ele saiu. Não sei que desculpa ela deu, mas graças a Deus deu certo. Encostei a porta do meu quarto contente e fui até o banheiro passar perfume (superimportante nos encontros), já que eu havia me esquecido. Quando sai pela porta do meu banheiro lá estava ele, sentado em minha cama, me secando dos pés a cabeça, e para piorar quando ele me olhou nos olhos fez questão de morder os lábios, como se ele tivesse algum direito de pensar besteiras sobre mim. Fiz a melhor cara de brava que pude evitando gritar para não alarmar minha mãe. Mas a campainha tocou.
- Vocês estão saindo, não estão? – ele disse seco.
- Sim. – eu respondi sorrindo, me esquecendo de com quem eu estava falando.
- Então manda um recadinho meu pro panaca. – ele disse correndo e me abraçando de maneira a me deixar presa no seu abraço – Pede pra ele repor os estoques de sangue do hemocentro do hospital onde ele trabalha. – Matheus disse com a voz rouca, bem próxima do meu ouvido, enquanto eu tentava em vão libertar meus braços daquele abraço sinistro.
Quando ele me soltou bruscamente, eu estava respirando pesadamente, por ter me apertado senti muita falta de ar, mas me concentrei em ficar irada, eu precisava colocar aquele garoto sem limites no lugar dele. Matheus sempre foi um bom menino, de bom coração, mas depois que ele e a família se mudaram pra longe, e a sua irmã se envolveu num acidente de transito ele enlouqueceu. Desde então só vem se metendo em encrenca atrás de encrenca.
- Fora daqui! – eu disse praticamente espumando de raiva – Fique longe de mim e do Ethan! Longe me ouviu?
Ele soltou uma risada sarcástica, mandou um beijo no ar e saiu pela janela.
Respirei fundo, ajeitei uma mecha do cabelo atrás da orelha e desci as escadas, e lá estava ele, sorrindo e me fazendo corar, bem ao lado da minha mãe que também sorria incansavelmente.
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Romeu, Julieta & Eu
Teen Fiction"_ Você está bem? _ sua voz vibrante me deixou em transe, ali eu soube. _ Precisa ser mais cuidadosa. _ alertou encantadoramente. _ meu coração batia com tanta força, aquilo gritava em meu peito, eu tinha tanta certeza que ficava com medo de que as...