Pequenas Coisas | Cashton Version

Tempo Perdido

Calum olhou-se uma última vez no espelho antes de morder o lábio inferior, examinando seu reflexo minuciosamente. Ajeitou a gravata ligeiramente torta em volta do pescoço e alisou a camiseta branca. Respirou fundo e, enquanto observava-se, percebeu que um sorriso começava a adornar seus lábios. Estava parecendo uma boba garota apaixonada e nem ao menos se importava mais com isso, pois aquele era seu momento e poderia ser o que quisesse ser.

Nunca antes tinha experimentado uma felicidade tão plena e quase palpável. Sentia como se estivesse caminhando sobre nuvens e, a todo o momento, tinha um sorriso nos lábios. Antes mesmo de espiar pela janela de seu quarto, sabia que Ashton o estava esperando lá embaixo, o uniforme sempre torto e os cabelos bagunçados caindo perfeitamente bem em seu rosto, a mochila provavelmente pendendo torta em um dos ombros. Novamente tinha um sorriso no rosto quando provou que Ashton realmente estava lá embaixo.

Um rubor leve pintou suas bochechas de um vermelho fraco, pois aquela seria a primeira vez que se veriam depois da noite que tiveram juntos. A carta que Ashton escrevera estava guardada em um lugar onde somente ele poderia ter acesso. Já lera cada frase tantas vezes que sentia como se pudesse pronunciá-la em voz alta em qualquer momento, mesmo quando estivesse distraído. Seus lábios moveram-se delicadamente, refazendo as palavras escritas no papel, enquanto descia as escadas.

– Bom dia. – Ashton murmurou lentamente quando Calum se aproximou, após trancar a porta de casa. Enquanto andava, os cantos de seus lábios começavam a presenteá-lo com um sorriso. Era quase patética a maneira como não conseguia mais controlar que sorrisos adornassem seus lábios como se ele estivesse acostumado a sorrir.

Ele tinha um sorriso ligeiramente travesso no rosto e Calum não se surpreendeu ao notar que todos os sorrisos combinavam com ele. Era quase injusto que ele fosse tão bonito!, pensou enquanto, contra todas as expectativas de Calum, o cacheado puxou-lhe pela cintura e plantou um beijo molhado em seus lábios, de boca fechada.

– Você enlouqueceu? – Calum perguntou, afastando-o com um tapa e arrancando uma risada baixa do cacheado, que somente balançou a cabeça enquanto voltava a ajeitar a mochila no ombro, que deslizara até o chão no movimento súbito de avançar contra Calum.

– Não tem ninguém olhando. – Garantiu o cacheado, fazendo Calum semicerrar os olhos e entortar os lábios, contrafeito. – E mesmo se tivesse, ninguém têm nada a ver com nossa vida, Calum. E vamos logo pra escola que já estamos atrasados.

Mesmo que jamais fosse admitir em voz alta, Calum amara a maneira como Ashton o havia beijado, como se eles, pelo menos por alguns segundos, fossem um casal normal e que poderia ser aceito pela sociedade. Seus pais sabiam sobre sua sexualidade – assim como o bairro inteiro– mas ninguém sabia que Ashton havia começado a jogar no outro time. E era melhor que as coisas permanecessem assim.

Só Calum sabia o que havia passado quando aquele segredo começou a correr em boca e boca, e não queria que Ashton passasse pela mesma coisa. E isso lembrou-lhe das aulas de autodefesa. Precisava conversar sobre alguma coisa com Ashton antes que ele pudesse comentar alguma coisa sobre o que havia acontecido entre os dois. Calum sentia como se seus órgãos fossem derreter caso o cacheado falasse sobre aquilo com ele.

– Nós ainda não tivemos nossa última aula. – Calum murmurou para Ashton, enquanto trilhavam um caminho por entre árvores para chegar à escola. O cacheado mordeu o lábio e assentiu brevemente, erguendo uma sobrancelha. – Hoje você tem treino, não é?

– O que acha de me encontrar depois do treino? – Ashton propôs, olhando fixamente para Calum. O moreno pigarreou e assentiu travadamente com a cabeça, sentindo o pescoço começar a arder em constrangimento. Ashton roçou a ponta dos dedos bem de leve na mão de Calum, tentando parecer casual para alguém que visse de fora, mas o moreno sentiu que havia sido proposital.