Sentei-me ao fundo da sala. A professora escrevia números na lousa. Números que eu não entendia. Nunca fui realmente boa com matemática. Engraçado, porque eu conseguia contar as calorias de todos os alimentos perfeitamente. Não deixava de contar uma.
Observava as pessoas passando por mim. Acho que nenhuma delas me notava de verdade. Por alguns instantes senti falta da época em que eu era normal, mas logo me lembrei de que eu escolhi este caminho.
Escolhi a perfeição.
Alice sentou ao meu lado. Ela devia ser minha única amiga. Seus cabelos eram ruivos e cacheados. Linda, por onde passava chamava a atenção dos garotos. Óbvio, era magra como eu nunca seria. Seus ossos saltavam por sua pele branca e sempre que eu os encarava com inveja, era como se eles criassem vozes dizendo "você nunca nos terá, nunca. Nunca será boa como Alice".
- Penelope? - Alice disse, com seus grandes olhos verdes piscando para mim. - Tá aí, amiga?
- Han? - Percebi que estava fora de mim. - Ah, oi.
- Como foi seu fim de semana? - Respondi assentindo minha cabeça e ela logo começou a falar. - O meu também foi ótimo! Fui à festa do Jake. Você deveria ter ido. Conheci alguns caras, um deles até me ligou. O nome dele é Aaron. Vou encontrá-lo no domingo para irmos ao cinema. Legal, né? Ele é um fofo. A festa foi muito boa. Muita gente bêbada e muita gente legal...
Alice continuou falando, como em todas as outras segundas-feiras, em que ela ia para suas festas e me contava depois. Parei de prestar atenção quando este garoto entrou na sala.
Cabelos encaracolados e despenteados, all star sujo e camisa xadrez.
- Você deve ser o Sr. Carsley - Disse Dulce, minha professora de matemática.
- Sou eu - Abriu o sorriso mais branco que eu já vira. - Desculpe o atraso, eu... Me perdi.
Todos o encaravam. Principalmente as garotas. Não era todo dia que alguém de interessante aparecia em Westland High School.
- Sente-se na única carteira restante. - Dulce apontou. Logo atrás de mim.
Então o tal Sr. Carsley sentou-se. Alice logo se virou e puxou papo com o garoto. Era como se ele andasse com um cartaz escrito "Carne Nova no Pedaço", porque a maioria das garotas fizeram o mesmo.
A aula passou incrivelmente rápido. Desenhei coisas na mesa e rabisquei cadernos. Descobri que deveria entregar um trabalho valendo nota - que obviamente não fiz. Também pensei na desculpa que iria dar a minha mãe por não jantar com ela esta noite. Se ao menos ela fizesse saladas ou qualquer coisa com um número baixíssimo de calorias... Mas não, ela insistia em fritar batatas e cobrir a carne com molho gorduroso.
- Penny, eu preciso correr. Se me atrasar na aula do Sr. Johnson, ele me mata. Beijinhos! - Alice mandou mini beijos no ar e saiu desfilando com seu vestido florido.
Demorei para guardar meus livros pois estava ficando cada vez mais fraca e lerda. Mal conseguia pensar direito.
- Quer ajuda? - O garoto dos tênis sujos sorriu para mim.
- Ah, ahn... Obrigada. - Eu disse, sem graça, tentando não fitar seus lindos olhos verdes.
Quando percebi, só havia ele e eu na sala.
- Você é amiga da garota ruiva? A que não para de falar? - Ele perguntou e eu ri com seu comentário.
- Sim... É um pequeno defeito da Alice. Ela começa e não para.
Como eu quando estou nervosa.
- Diferente de você, pelo jeito - Riu e guardou meus livros em minha mochila. - Bonito. Foi você quem fez? - Olhei o papel em sua mão. Era um dos meus desenhos. Não era importante, nem ao menos bonito. Desenhei apenas uma garota om lágrimas nos olhos. Nem me lembro de quando o fiz. - Sabe, meus pais são artistas. Foi por isso que nos mudamos pra cá. Em Londres há muita concorrência, e como Torquay é uma cidade pequena e recebe muitos turistas também, decidiram abrir uma loja de artes aqui. Deve ser uma das únicas da cidade.
Eu realmente não entendia o porquê de ele estar puxando assunto comigo.
- Você deveria passar lá. Acho que você ia gostar. - Ele sorriu novamente, como se esperasse eu dizer algo.
- Legal.
Legal? Sério? Esse foi o melhor que eu consegui? Vamos lá, Penelope, você consegue dizer coisa melhor.
- Eu não sairia de Londres - Tentei formular algo. - Meu sonho é morar lá.
- É uma cidade grande, agitada. Mas mudanças são necessárias de vez em quando - Ele piscou. - Eu acho que eu tenho que ir. Você sabe onde fica a sala 31?
- Sei sim. É a sala de frente pra esta - Apontei, já em direção a porta. Ele pareceu sem graça e corou.
- Claro - rimos. - Então a gente se vê.
O garoto virou as costas para mim e andou em direção a sua sala. Peguei minha mochila e também decidi sair, em virtude do horário. Provavelmente me atrasaria de novo.
- Ei! - Ouvi a voz do menino e me virei. - Como você se chama?
- Penlepe - abri um sorriso que me pareceu verdadeiro por alguns instantes.
- Eu sou Campbell. Prazer.
Então Campbell entrou em sua sala e me deixou ali, parada, boba. Havia algum tempo que alguém prestava a atenção em mim.