Caminhei lentamente até onde os carros estavam. Não havia mais barracas, apenas pessoas me esperando. Quando surgi, suja, molhada e com folhas em meus cabelos, todos me observaram curiosos, porém ninguém ousou questionar.
- Você está bem? – Ian finalmente perguntou.
- Nunca estive melhor – Disse, o olhando irônica.
Ian puxou de leve meu braço enquanto os demais entravam nos carros. Logo havia apenas eu e ele em frente ao grande lago.
- Quando posso te ver de novo? – Ele perguntou.
- Não sei – Respondi seca, e ele riu.
- Black Monday?
- O que? Nem ao menos é segunda-feira, Ian.
- É como se chamam os dias seguintes ao uso de ecstasy. Você se sente pra baixo, certo?
- Na verdade, nunca me sinto bem. – Suspirei, e ele logo também o fez.
- Seus amigos estão putos.
- São uns idiotas – Resmunguei. – Cambo está com ciúmes e Alice é uma louca manipuladora.
Ian riu com meu comentário, mas fomos interrompidos pela buzina de Jane.
- Acho que temos que ir – Eu disse.
- Então... Acho que é isso – Ian falou, sem graça. Suas mãos não paravam de se mover, como se ele estivesse ansioso ou nervoso. – Até mais, Penny– Ele beijou minha bochecha e entrou em seu carro.
Mal sabíamos que aquela seria a última vez que nos veríamos.
O caminho de volta a Torquay foi silencioso e assustador. Não dissemos nada. Cody tentava contar piadas para nos animar, mas nada funcionava. Alice não descruzou seus braços e nem tirou seus olhos da estrada a viagem inteira.
Quando finalmente Cambo parou em frente à minha casa, só estávamos eu e ele no carro. A noite havia chegado no que pareceu ser a viagem mais longa e dolorosa de toda a minha vida. Eu estava tremendo de frio e Cambo me olhou com um olhar preocupado, abriu sua boca várias vezes, mas a única coisa que saiu foi:
- Você já pode devolver minha blusa agora.
O olhei indignada, mas desvesti aquela blusa com cheiro de terra e suja de lama. Meus braços tremiam enquanto eu abria a porta do carro. Logo que minha pele entrou em contato com o vento gélido senti até meus ossos se congelando. Abri com muito sacrifício o porta-malas e peguei minha bolsa, que parecia mais pesada do que antes. Cambo apertou o acelerador enquanto eu subia ás escadas do lado de fora de minha casa. Abri a porta e agradeci por meu pai ter pagado por um novo aquecedor. Minha mãe estava sentada em frente ao seu velho computador enquanto TV estava ligada. Ela abriu um sorriso quando me viu.
- Como foi o acampamento? – Perguntou.
- Ótimo – Eu disse, observando suas feições tênues se tornarem preocupadas.
- Não está com frio, Penelope? Você está toda suja!
- É por isso que vou subir e tomar um banho – Falei, largando minha bolsa no sofá e subindo os degraus.
Tirei as roupas lentamente em frente ao espelho. Era vergonhoso pensar que eu havia deixado Ian ver isso... Era muito vergonhoso. Eu era vergonhosa. Minha vida era realmente uma bosta. Nunca seria feliz – e nem conseguia entender como algumas pessoas conseguiam ser. Eu nunca seria bonita como as garotas das revistas ou dos filmes que adorei ver um dia. Agora só me lembravam da falha que eu era. Eu não tinha motivos para nada, e agora estava completamente sozinha.
Sozinha.
Sozinha.
Sozinha.
Era isso que eu sempre fui, mas agora a solidão havia me atingido em cheio. Meu corpo nu deixava minhas fraquezas claras. Todos os cortes, as cicatrizes. Toda a palidez, os ossos que agora estavam mais nítidos. Os fios de cabelo caídos, as marcas de sangue no chão que não consegui limpar por completo. Foi espontâneo quando minhas mãos se fecharam e foram de encontro a meu rosto. Percebi que aquela dor me acalmava. Logo eu mesma dei um tapa forte em meu rosto. Um toque ardido em minha pele. Meu punho foi com força em minhas bochechas, e os ossos de meus dedos machucaram minha mandíbula; mas eu pouco me importava. Gostava da dor. Arranhei minha barriga com força, fazendo-a a sangrar. Fiz a mesma coisa com meu braço, e estava prestes a fazer o mesmo em meu pescoço, porém tive uma ideia melhor. Meus dedos percorreram a região de meu pescoço, apertando-o. As unhas perfuravam minha pele enquanto sentia minha respiração falhar. Continuei enforcando a mim mesma quando percebi que ficava inconsciente e inconsequente durante o ato. Mais um soco na região de meus olhos me acordou para a realidade.
O que eu estava fazendo?