Capítulo 10 - Tendo uma ajudinha familiar

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Osíris era um dos deuses egípcios com quem eu mais simpatizava. Até porque, ele estava sendo hospedado eternamente pela figura gentil e familiar do meu pai. Em qualquer outro momento eu teria adorado receber aquela visita. Menos naquele. E não era só pelo fato de que namorava, ou costumava namorar, seu "subordinado". Pensando bem, era exatamente por isso. O sangue sumiu do meu rosto quando imaginei que ele podia já saber de tudo. Claro! Ele sabia que Anúbis estava frequentando menos o universo dos deuses e mais o universo dos mortais. Então no mínimo devia saber que ele estava "vivendo" na Casa do Brooklyn e possivelmente sabia o motivo disso. Droga, droga, droga! Tudo o que eu não precisava naquele momento era levar uma bronca do meu pai. Ainda mais uma que tivesse a ver com o meu namoro com o deus da morte.

Julius me lançou um sorriso contido enquanto eu o olhava perplexa e imaginava todas aquelas coisas. Ele se sentou no parapeito da janela como se fosse um ser completamente ordinário, enquanto fez um sinal para que eu me aproximasse. De repente me lembrei do que Anúbis dissera, sobre os deuses no geral estarem tendo mais facilidade para viajar pelo Duat e aparecer no plano humano. Só então eu me dei conta do quanto era estranho e inédito Osíris estar ali na minha frente naquele momento. Eu, porém não fiz nada além de andar até perto dele e me sentar na beirada da cama. Senti que devia dizer alguma coisa, um cumprimento ou pelo menos um: "o que faz aqui?", mas não consegui dizer nada. Apenas fiquei olhando para ele esperando que falasse.

- Você cresceu, filha – começou ele – Está uma mulher. Não é mais a minha garotinha – sua voz era carregada de nostalgia e afeto.

- Sempre serei sua garotinha – lhe devolvi o sorrio, mas ainda me sentia ansiosa para saber o que ele tinha vindo fazer ali. Não podia ser apenas uma visita corriqueira.

- Tem razão, isso não vai mudar só porque você está amadurecendo – Julius baixou o olhar e conteve um sorriso – Não vai deixar de precisar dos conselhos do seu velho agora que está crescendo, certo querida?

- Certo... - confirmei de forma pouco convincente. Aquela conversa estava me deixando ainda mais tensa. Onde ele queria chegar?

- É muito bom saber disso. Por que acho que posso te ajudar e muito com o seu problema – ele media bem as palavras e me olhava com cautela.

- Meu problema? - tentei me fazer de desentendida, mas tinha quase certeza de que sabia do que ele estava falando.

- Seu problema com seu namorado – respondeu meu pai como se fosse a coisa mais normal do mundo. Como se estivéssemos falando das minhas notas ruins na escola.

- Como sabe que tenho um namorado? - tive que perguntar – Ou melhor, tinha...

- Sadie, sou um deus – afirmou ele como se aquilo explicasse tudo – E além do mais, estou entre as poucas pessoas que conhece bem Anúbis e faço parte de um grupo ainda mais seleto que são as pessoas em quem ele confia. Sendo assim, não foi difícil ficar sabendo, ele mesmo me contou.

- Ele te contou? - eu estava estupefata. Jamais imaginei que ele contaria ao meu pai que estávamos namorando, nem mesmo tinha ideia de que ele e Osíris eram assim tão próximos. Pensei que apenas trabalhavam juntos e nada mais.

- É claro que eu teria preferido que você tivesse me contado – continuou o deus dos mortos – Mas isso não vem ao caso agora. O que importa é que quero ajudar você.

- Pai, não me leve a mal, mas... Não acho que você possa me ajudar muito – falei dando um sorrisinho sem graça.

- Vou ter que discordar, querida. Por que eu, mais do que ninguém, sei pelo que Anúbis está passando nesse momento.

- Pelo que ELE está passando? - me senti no direito de ficar indignada. Ele falava do deus dos funerais como se ele fosse a vítima da história – Pelo que eu sabia não há nada de errado com ele além de uma presunção imensa e uma crise doentia de ciúmes.

Os Encantos de AnúbisOnde histórias criam vida. Descubra agora